Santa Quitéria (CE) será o único município do Brasil a explorar urânio e fosfato juntos, com meta de 240 mil toneladas anuais e impacto estratégico no agro e na energia nuclear.
No interior do Ceará, a cidade de Santa Quitéria, com pouco mais de 44 mil habitantes, guarda um dos projetos mais estratégicos do Brasil. No subsolo do município, em Itataia, encontra-se a maior reserva de urânio associado a fosfato do país. Ali, o governo federal e a iniciativa privada planejam desenvolver um empreendimento único: a exploração conjunta de dois insumos fundamentais — o fosfato, vital para a agricultura, e o urânio, indispensável para a matriz nuclear brasileira.
Com produção estimada em 240 mil toneladas anuais de fosfato e capacidade para garantir a autossuficiência do Brasil em insumos nucleares, o projeto promete colocar Santa Quitéria no mapa das grandes iniciativas estratégicas nacionais.
O que é o Projeto Santa Quitéria
O empreendimento é conduzido pelo Consórcio Santa Quitéria, formado pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e pela Galvani Fertilizantes. A proposta é explorar a jazida de Itataia, onde urânio e fosfato ocorrem de forma associada.
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- Fosfato: será destinado à produção de fertilizantes fosfatados, reduzindo a dependência externa do agronegócio brasileiro.
- Urânio: será separado e enviado para a INB, em Caetité (BA), onde passará por enriquecimento e processamento para abastecer as usinas nucleares de Angra 1, 2 e, futuramente, Angra 3.
Essa configuração faz do projeto algo inédito no Brasil: a integração entre produção agrícola e energia nuclear, dois setores considerados estratégicos para a segurança nacional.
Por que o fosfato é tão importante?
O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, mas ainda importa cerca de 70% dos fertilizantes que consome. Dentro desse contexto, o fosfato é um insumo central, pois garante o crescimento e o rendimento de lavouras como soja, milho e algodão.
A produção local em Santa Quitéria terá potencial para reduzir a dependência externa, fortalecendo a soberania alimentar do Brasil e aumentando a competitividade do agronegócio. Em um país cuja balança comercial depende fortemente das exportações do agro, essa autossuficiência é estratégica.
Urânio: peça-chave da energia nuclear
O urânio produzido em Santa Quitéria será destinado exclusivamente ao Programa Nuclear Brasileiro. Hoje, o país já possui reservas que o colocam entre os dez maiores do mundo, mas ainda importa parte do material enriquecido necessário para operar suas usinas.
Com o fornecimento de Itataia, a INB terá condições de fortalecer a produção nacional e garantir combustível suficiente para os reatores de Angra, responsáveis por cerca de 3% da energia elétrica do Brasil.
A longo prazo, o projeto poderá apoiar a expansão da matriz nuclear, considerada fundamental para diversificar as fontes de energia limpa e garantir segurança no abastecimento em um cenário de transição energética.
Impacto econômico e social
O Projeto Santa Quitéria promete movimentar fortemente a economia da região:
- Empregos: estima-se a criação de milhares de postos diretos e indiretos, em mineração, transporte e serviços.
- Receita municipal: aumento significativo na arrecadação com tributos e royalties.
- Infraestrutura: investimentos em estradas, energia e capacitação de mão de obra local.
Para um município de médio porte no sertão cearense, os efeitos podem ser transformadores, mudando a dinâmica econômica e social da região.
Os desafios ambientais e sociais
A mineração de urânio envolve riscos que exigem atenção redobrada.
- Licenciamento ambiental: o projeto passou por diversas revisões e audiências públicas, devido às preocupações sobre resíduos radioativos e segurança hídrica.
- Aceitação social: parte da população e movimentos sociais temem impactos à saúde e ao meio ambiente.
- Gestão de rejeitos: os resíduos precisam ser tratados e armazenados com máxima segurança, evitando contaminações.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) acompanha de perto o processo, impondo condicionantes rigorosas para garantir que a exploração seja feita de forma sustentável.
Brasil e o cenário global
A relevância de Santa Quitéria vai além das fronteiras do Brasil. O projeto está no centro de duas agendas globais:
Segurança alimentar: o fosfato é essencial para manter a produtividade agrícola em um mundo que precisa alimentar quase 8 bilhões de pessoas.
Transição energética: o urânio é insumo estratégico para a energia nuclear, considerada uma das alternativas de baixa emissão de carbono frente à crise climática.
Assim, o município cearense se torna peça de interesse não apenas nacional, mas também internacional, atraindo olhares de governos e investidores.
Números estratégicos do Projeto Santa Quitéria
- Produção prevista de fosfato: 240 mil toneladas anuais.
- Investimentos estimados: mais de R$ 1,4 bilhão.
- Empregos diretos/indiretos: milhares, impactando toda a região.
- Reservas de urânio: associadas às maiores jazidas conhecidas no Brasil.
- Destino do urânio: abastecimento exclusivo do Programa Nuclear Brasileiro.
O futuro de Santa Quitéria
Se por um lado o projeto representa oportunidade de crescimento econômico e autossuficiência em áreas estratégicas, por outro exige gestão cuidadosa dos riscos. A transparência na comunicação, o respeito às comunidades locais e a aplicação das melhores práticas ambientais serão decisivos para o sucesso.
Santa Quitéria poderá ser lembrada como a cidade que uniu agricultura e energia nuclear, fortalecendo a segurança alimentar e energética do Brasil. Ou, se mal conduzido, poderá ser um caso de alerta sobre os dilemas da mineração em áreas sensíveis.