Tradicional empresa de sorvetes encerra operações, marcando uma transição no mercado de sorvetes e a ascensão dos gelatos.
A falência da rede Rite Aid em outubro de 2024, que resultou no fechamento de cerca de 500 farmácias, desencadeou uma crise para a Thrifty Ice Cream, justamente porque aproximadamente 70% dos seus pontos de venda eram instalados dentro dessas unidades.
Essa interdependência histórica com as farmácias comprometeu drasticamente sua presença física e impacto no varejo de sorvetes nos EUA.
Fundada na Califórnia em 1940, a Thrifty se consolidou como referência por dois elementos: o icônico cone quadrado e os sabores exclusivos, como Pistachio Nut e Rainbow Sherbet, combinações que vão além do trivial baunilha‑chocolate.
-
Weg aposta R$ 160 milhões no ES. O que está por trás desse investimento milionário?
-
O segredo das ‘estradas submersas’ do Ceará não é a maré
-
Entrou em vigor nesse mês: Estado aprova salário mínimo regional até R$ 2.267, um dos maiores do Brasil
-
Férias antecipadas podem virar dor de cabeça se você ignorar essa regra da CLT
Mais do que produtos, os balcões dentro das farmácias representavam um ritual familiar, criando laços afetivos entre gerações de consumidores.
Com o encerramento de centenas de unidades da Rite Aid, muitos desses balcões desapareceram, fragilizando a presença da marca.
A Thrifty passou então a depender de supermercados e outros varejistas de autoatendimento, canais que oferecem alcance, mas não reproduzem o vínculo emocional do atendimento no balcão.
No leilão de ativos realizado durante o processo de falência, a Rite Aid incluiu a marca, a fábrica e a linha de produção da Thrifty Ice Cream.
O futuro pode seguir três trajetórias distintas:
- Aquisição por grupos dispostos a manter a tradicional linha de produtos.
- Conversão da fábrica para produção de outros itens alimentícios.
- Descontinuação completa da marca, se não houver interessados.
Cada cenário impactará fornecedores, colaboradores diretos e indiretos e, em especial, consumidores que perderam o costume afetivo de comprar no balcão.
Para o setor, a eventual saída da Thrifty dos pontos de venda marca o fim de uma era, mas também abre espaço para inovação.
A ascensão do gelato no Brasil
Enquanto uma marca clássica enfrenta desafios nos EUA, no Brasil o mercado de gelato, sobremesa inspirada no modelo italiano, segue em ascensão.
Dados da Abrasorvete apontam um consumo nacional de 438 milhões de litros em 2023, equivalente a um crescimento de 22,4% em relação a 2022, movimentando mais de R$ 13 bilhões e com projeção de ultrapassar R$ 18 bilhões em 2025.
Esses índices refletem uma mudança de comportamento do consumidor, que busca cada vez mais qualidade, novidades e experiências diferenciadas.
No Brasil, o gelato tem se destacado por sua textura cremosa, menor teor de ar, variedade de sabores sofisticados e uso de ingredientes regionais.
Produtos saudáveis, com menos açúcar e versões com proteínas, atendem à demanda por indulgência equilibrada com bem-estar.
Casos locais como o da Sorvetes Frosty, líder de mercado no Nordeste, reforçam a tendência.
Com mais de 200 itens no portfólio, expansão de fábricas e foco em saudabilidade, a marca se reinventou e está entre as cinco mais vendidas no autosserviço nacional.
O mercado global de sorvetes ainda cresce cerca de 4,1% ao ano até o fim de 2025, mas é no segmento premium e artesanal, onde o gelato se insere, que reside a maior disputa.
Transformação global dos sorvetes tradicionais
A disparidade dos cenários evidencia duas tendências interligadas.
Nos EUA, a queda da Thrifty pode ensinar que tradição, por si só, não garante sustentabilidade no varejo moderno.
No Brasil, a valorização do gelato artesanal demonstra que inovação, identidade local e saudabilidade são vetores de crescimento.
A ascensão do gelato no Brasil se dá em um contexto favorável.
Clima tropical, feiras especializadas como SIGEP e Fispal Sorvetes, além de um consumidor mais exigente e conectado, impulsionam o segmento.
Essa transição aponta para um mercado global de sobremesas geladas em reconfiguração.
Formas tradicionais convivem com modelos premium e artesanais, exigindo que marcas históricas se adaptem sem perder essência.