Depois de deixar Vaca Muerta, ExxonMobil conquista 10 blocos no Brasil com a Petrobras — potencial de até 1,1 milhão de barris por dia na Margem Equatorial
Depois de se desfazer de seus ativos em Vaca Muerta por US$ 1,7 bilhão, a ExxonMobil decidiu mirar no Brasil. Junto da Petrobras, a petroleira norte-americana conquistou dez dos 19 blocos de exploração leiloados na estratégica Bacia da Foz do Amazonas, uma área que o governo federal pretende transformar na nova fronteira de exportação de petróleo do país. A região faz parte do chamado Margem Equatorial, faixa marítima com enorme potencial energético e disputada por grandes empresas do setor.
Leilão da ANP atrai gigantes internacionais
O consórcio entre ExxonMobil e Petrobras saiu como o maior vencedor do último leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP), ficando com a maioria dos blocos oferecidos na Foz do Amazonas. A Chevron, em parceria com a estatal chinesa CNPC, ficou com os outros nove blocos, após acirrada disputa de ofertas. No caso do consórcio vencedor, metade dos blocos será operada pela Petrobras e os demais pela ExxonMobil, dividindo riscos e estratégias na condução das perfurações.
Ao todo, foram concedidos 34 blocos exploratórios nas bacias do Parecis, Santos, Pelotas e Foz do Amazonas. Só nesta última, considerada a mais promissora do leilão, concentrou-se o interesse internacional, especialmente pelas semelhanças geológicas com áreas da Guiana, onde foram descobertas reservas que transformaram o país vizinho em um dos maiores produtores emergentes do mundo.
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Margem Equatorial: potencial técnico e desafios antigos
De acordo com estimativas da própria ANP, o volume de petróleo e gás natural da Margem Equatorial pode chegar a 30 bilhões de barris de petróleo equivalente. São reservas que, segundo o governo e as petroleiras, podem garantir a continuidade da produção nacional e sustentar o volume de exportações diante de uma futura queda na exploração do pré-sal.
Apesar do entusiasmo, o histórico da região impõe cautela. As primeiras perfurações na Foz do Amazonas ocorreram na década de 1970, mas não foram suficientes para comprovar a viabilidade comercial dos campos. Até agora, a maioria das sondagens foi realizada em águas rasas, o que limita o conhecimento sobre o real potencial das reservas mais profundas.
Mesmo assim, a Petrobras já definiu sua estratégia. No Plano Estratégico 2050 e no Plano de Negócios 2025-2029, a estatal reservou US$ 3 bilhões para investir no Margem Equatorial nos próximos cinco anos. A intenção é perfurar oito poços exploratórios, começando pelo bloco FZA-M-59, localizado a cerca de 2.500 metros de profundidade sob o nível do mar.
Pressão ambiental e tensões no governo
A presidente da empresa, Magda Chambriard, destacou que “com este resultado e a continuidade das nossas atividades exploratórias, seguimos otimistas sobre nossas possibilidades de repor as reservas de petróleo e garantir a segurança energética do Brasil”.
O interesse internacional cresceu também com os avanços nos processos de licenciamento ambiental. A Petrobras conseguiu aprovação do Ibama para iniciar perfurações no bloco FZA-M-59, o que gerou atritos dentro do próprio governo federal. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, comandado por Marina Silva, resiste a permitir atividades de alto impacto na região, enquanto o Ministério de Minas e Energia defende a exploração como estratégica para o país.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou o plano de resgate de fauna da Petrobras, mas exige simulações adicionais antes de liberar a fase final do licenciamento. A área de exploração está próxima a recifes sensíveis e comunidades indígenas costeiras, o que aumenta o nível de exigência ambiental.
Riscos climáticos e projeções econômicas
Estudos do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) indicam que, se confirmadas as estimativas, a Margem Equatorial poderá atingir produção de até 1,1 milhão de barris por dia, o equivalente a um terço da produção atual do Brasil. Isso manteria o país como player relevante no mercado global até pelo menos 2035. Por outro lado, ambientalistas alertam que a atividade poderá gerar emissões de até 4,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente apenas nos blocos da foz do Amazonas.
A experiência recente da ExxonMobil na costa da Guiana, onde lidera a exploração de campos bilionários, motiva a aposta no Brasil. Ao dividir os riscos com a Petrobras, a multinacional busca reduzir a pressão regulatória e fortalecer sua presença na América do Sul. Enquanto isso, a Petrobras aproveita a parceria para alavancar sua capacidade técnica e expandir sua produção offshore.
A primeira perfuração está prevista para ocorrer entre o terceiro e o quarto trimestre de 2025. A expectativa é que a fase exploratória dure até 2029. Se os resultados forem positivos, a produção comercial poderá começar nos anos seguintes, com pico estimado para meados da década de 2030.
Além do potencial econômico, o governo busca atrair investimentos que gerem empregos locais e aumentem a arrecadação fiscal. No entanto, organizações da sociedade civil já articulam ações judiciais para impedir o avanço das atividades em áreas consideradas sensíveis.
O Brasil se vê diante de uma decisão crucial: explorar uma das maiores promessas de petróleo das últimas décadas ou priorizar a preservação ambiental de uma região única no mundo. A Margem Equatorial pode se tornar o novo pré-sal brasileiro — ou um divisor de águas entre a ambição energética e a responsabilidade climática.