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Saem os trens, chegam os tanques de guerra: após 176 anos, cidade terá uma gigantesca fábrica militar para produzir os Leopard II e blindados

Publicado em 17/10/2025 às 08:38
Fábrica militar, tanques, Trens
Imagem: Ilustração artística feita por IA
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Após 176 anos de produção ferroviária, a fábrica histórica de Görlitz, na fronteira oriental da Alemanha, será reconvertida pela KNDS para fabricar tanques Leopard II — símbolo da guinada industrial e militar do país

Durante mais de um século e meio, Görlitz viveu ao som dos trens que cruzavam a fronteira oriental da Alemanha. A cidade prosperou com suas fábricas de vagões e locomotivas, que definiram a identidade operária da região.

Agora, essa era se encerra. Após 176 anos, o histórico complexo industrial da Alstom será convertido pelo consórcio armamentista KNDS para fabricar componentes dos tanques Leopard II e dos veículos blindados Puma.

O que antes simbolizava mobilidade civil e reconstrução, hoje se transforma em engrenagem da máquina militar alemã.

Essa mudança não ocorre por acaso: ela reflete a guinada estratégica do país rumo ao rearmamento, impulsionada pela invasão russa da Ucrânia, pelo temor de um recuo das garantias de segurança dos Estados Unidos e por uma economia que tenta encontrar novas fontes de emprego.

Entre o pacifismo e a necessidade

Em Görlitz, a reconversão industrial divide opiniões. Segundo o New York Times, a população envelhecida e castigada pela desindustrialização desde a reunificação vê na produção de tanques um mal necessário.

Na região onde o partido de ultradireita AfD — abertamente pró-Rússia e contrário ao envio de ajuda à Ucrânia — concentra quase metade dos votos, até mesmo os líderes locais aceitaram a mudança com resignação.

Não é motivo de comemoração, mas também não podemos nos opor à criação de empregos”, reconhecem. A perda do trabalho seria ainda mais devastadora do que o dilema moral de fabricar armas.

A fábrica chegou a empregar mais de 2.000 pessoas, mas mantinha apenas 700 antes da venda. A KNDS prometeu conservar metade delas e planeja aumentar o número nos próximos anos.

Na verdade, os sindicatos, liderados pela IG Metall, foram os que defenderam a reorientação da planta para o setor de defesa, como forma de evitar o fechamento definitivo.

Em uma região marcada pelo êxodo juvenil e pela frustração econômica, a indústria armamentista acabou oferecendo algo que se aproxima de uma segunda chance.

Reindustrialização militar da Alemanha

O caso de Görlitz é parte de um fenômeno mais amplo: o rearmamento alemão está se tornando motor de uma nova reconversão industrial.

Desde 2020, os gastos com defesa cresceram cerca de 80%, ultrapassando 90 bilhões de euros, e a demanda por trabalhadores especializados aumentou rapidamente.

Empresas como Rheinmetall, Diehl Defence, Thyssenkrupp Marine Systems e MBDA já contrataram mais de 16.000 pessoas desde o início da guerra na Ucrânia e planejam recrutar outras 12.000 até 2026.

Os lucros do setor crescem a ponto de seus diretores aumentarem dividendos enquanto consideram comprar fábricas automotivas em declínio, como a da Volkswagen em Osnabrück.

O CEO Armin Papperger resume a nova lógica econômica: se o dinheiro dos contribuintes financia a segurança nacional, os empregos devem permanecer na Alemanha.

Nesse contexto, reconverter fábricas como a de Görlitz é visto como uma política industrial de duplo propósito — sustentar a produção e fortalecer a autonomia estratégica do país.

Apesar do alívio econômico trazido pelo renascimento do setor de defesa, persiste uma tensão profunda entre o pacifismo herdado do pós-guerra e a necessidade de garantir a segurança europeia.

Um dilema moral e econômico

Para muitos alemães do Leste, que já enfrentaram a primeira onda de desindustrialização após a queda do Muro e agora perdem empregos na energia e na manufatura, fabricar tanques é uma amarga forma de sobrevivência.

Alguns temem que as armas produzidas acabem sendo usadas diretamente na Ucrânia. Outros acreditam que o crescimento do setor depende da continuidade da guerra.

Será sustentável fabricar tanques? Tomara que não. Tomara que as guerras terminem em breve”, afirmou um representante sindical ao Financial Times.

Mesmo assim, a realidade do mercado e da geopolítica aponta em outra direção. A defesa se tornou o novo eixo da economia europeia, e a Alemanha, por sua história, tecnologia e pressão dos aliados, lidera essa transição.

O fim de uma era ferroviária

A antiga fábrica de Görlitz, com seus galpões escurecidos por décadas de trabalho metalúrgico, simboliza a transformação de uma época.

Onde antes se soldavam vagões que transportavam passageiros, agora serão montadas blindagens de aço para veículos de combate.

O que começou como uma tentativa de salvar empregos ameaça redefinir a alma industrial alemã. O país passa do engenho civil ao poder militar — do aço que unia continentes ao que agora os protege.

Entre trens e tanques

No fundo, esse é o grande paradoxo alemão contemporâneo. Em um cenário político fragmentado, onde o medo da guerra convive com a busca pela prosperidade, os trabalhadores do Leste voltam a ser protagonistas involuntários da história.

Seu destino, dividido entre a nostalgia dos trens e a aceitação pragmática dos tanques, representa o dilema de uma nação que tenta reconciliar seu passado pacifista com um presente que a empurra novamente à fabricação de armas — desta vez, em nome de um futuro seguro.

Com informações de Xataka.

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Romário Pereira de Carvalho

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