Portugal extraiu mais de 800 toneladas de ouro do Brasil no século XVIII, mas foi a Inglaterra quem ficou com a maior parte dessa fortuna — e transformou em poder industrial.
No século XVIII, Portugal teve nas mãos uma das maiores riquezas já extraídas da terra: o ouro das minas brasileiras.
Era tanto metal precioso que, por um tempo, Lisboa parecia se transformar na nova capital da opulência mundial. Mas o brilho durou pouco. Enquanto as minas de Minas Gerais fervilhavam de atividade, a maior parte da fortuna não ficou em território português.
Ela seguiu rumo a Londres, abastecendo os bancos britânicos, alimentando a Revolução Industrial e consolidando o Reino Unido como potência econômica global.
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O paradoxo histórico é evidente: quanto mais ouro Portugal extraía, mais dependente e estagnada sua economia se tornava.
A maior corrida do ouro da história
No final do século XVII, bandeirantes paulistas encontraram os primeiros veios de ouro na região que viria a ser chamada de Minas Gerais.
Em pouco tempo, a descoberta se espalhou e desencadeou uma corrida do ouro sem precedentes.
A coroa portuguesa passou a controlar oficialmente a extração e envio do metal precioso para Lisboa, cobrando impostos como o quinto – 20% de tudo que fosse extraído.
O século XVIII foi o auge dessa mineração. Estima-se que mais de 800 toneladas de ouro foram retiradas do solo brasileiro e remetidas a Portugal durante esse período.
Esse número se baseia em registros oficiais da Casa da Moeda de Lisboa e da administração colonial portuguesa.
Os dados indicam que só entre 1697 e 1760 foram mais de 529 toneladas. Entre 1753 e 1801, outras 280 toneladas foram registradas.
Essa quantidade extraordinária fez de Minas Gerais o centro econômico da colônia. Cidades como Ouro Preto (antiga Vila Rica) explodiram em população e riqueza.
Em 1750, Ouro Preto tinha mais habitantes do que Nova York. Toda a estrutura da colônia mudou: o Rio de Janeiro tornou-se a nova capital, dada sua proximidade com as rotas de exportação de ouro.
O Tratado de Methuen e a armadilha econômica
Em 1703, Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos.
O acordo previa que Portugal compraria tecidos de lã da Inglaterra com baixas tarifas, enquanto os ingleses reduziriam o imposto sobre vinhos portugueses, especialmente o vinho do Porto.
Na prática, parecia um bom negócio: os ingleses bebiam vinho português e os portugueses se vestiam com tecidos ingleses.
Mas havia um problema. Os tecidos britânicos eram muito mais caros que o vinho.
Além disso, a indústria inglesa já dava sinais de modernização, com técnicas de produção mais avançadas.
Enquanto isso, Portugal não tinha base industrial sólida. Resultado: Portugal passou a importar muito mais do que exportava, criando um desequilíbrio crônico na balança comercial com a Inglaterra.
Sem uma indústria forte e sem produtos competitivos, Portugal não conseguia equilibrar suas contas. A única solução era pagar a diferença com o ouro vindo do Brasil.
E foi exatamente isso que aconteceu. Navios abarrotados de ouro saíam de Lisboa em direção a Londres, como forma de quitar os produtos importados.
Dois terços do ouro foram parar na Inglaterra
Os historiadores apontam que cerca de dois terços de todo o ouro extraído no Brasil acabou, direta ou indiretamente, nos cofres ingleses.
Essa estimativa leva em conta os déficits comerciais permanentes que Portugal acumulava com a Inglaterra. O ouro enviado da colônia era usado para bancar o consumo português de produtos britânicos.
Uma vez em Londres, esse ouro era absorvido pelo sistema financeiro inglês. Parte dele foi depositada no recém-criado Banco da Inglaterra, fundado em 1694.
Outra parte virou lastro para a cunhagem de moedas, como os guinéus de ouro. O metal também serviu para ampliar a capacidade de crédito e financiamento da economia britânica.
Ou seja, aquele ouro que saía dos rios de Minas Gerais e passava por Lisboa terminava como base da futura Revolução Industrial.
Enquanto isso, o ouro ficava pouco tempo em Portugal. A metrópole portuguesa funcionava mais como ponto de passagem do que como destino final.
Os próprios governantes portugueses tinham consciência disso. Documentos da época mostram que havia críticas à dependência da Inglaterra e à fuga do ouro.
Ainda assim, o pacto comercial e a incapacidade de produzir bens manufaturados mantiveram Portugal preso a essa relação desigual.
A Revolução Industrial inglesa e o papel do ouro brasileiro
A Inglaterra foi o primeiro país a viver a Revolução Industrial, processo iniciado na segunda metade do século XVIII. Essa transformação exigia uma enorme quantidade de capital: para construir fábricas, financiar máquinas, abrir estradas e fomentar o comércio. O ouro brasileiro ajudou nesse processo.
Não se trata de dizer que a Revolução Industrial só foi possível por causa do ouro vindo da América portuguesa.
Havia outros fatores, como a disponibilidade de carvão, mão de obra urbana e inovações técnicas. Mas o papel do ouro como catalisador de investimentos é reconhecido por historiadores econômicos.
Ele forneceu liquidez, estabilidade financeira e confiança no sistema monetário britânico.
Além disso, ao fortalecer a balança de pagamentos da Inglaterra, o ouro permitiu que os britânicos importassem matérias-primas, sustentassem guerras e mantivessem sua expansão imperial sem comprometer suas finanças internas.
Enquanto a Inglaterra construía ferrovias e máquinas a vapor, Portugal mantinha a aparência de riqueza, mas sem progresso estrutural.
A estagnação portuguesa apesar da riqueza
O caso português é um exemplo clássico do chamado “paradoxo da riqueza fácil”. Ao invés de usar o ouro para diversificar sua economia e fomentar indústrias, Portugal tornou-se cada vez mais dependente das importações. O luxo temporário de Lisboa e a ostentação das elites encobriam um país que não se modernizava.
Com o tempo, as minas brasileiras começaram a declinar. A partir de 1760, a produção de ouro caiu. Sem a fonte abundante de recursos, Portugal mergulhou em crises fiscais.
Como não havia uma estrutura produtiva sólida nem reservas acumuladas, o país entrou em declínio econômico. Muitos estudiosos consideram esse momento o início do fim da influência global portuguesa.
Mesmo durante o auge do ciclo do ouro, a desigualdade era enorme. Enquanto o topo da elite se beneficiava dos recursos, grande parte da população – tanto no Brasil quanto em Portugal – vivia em condições precárias. A mineração dependia do trabalho escravo, e parte do próprio ouro era usada para comprar cativos na África.
A fortuna que Portugal perdeu
O que poderia ter sido o alicerce para uma transformação econômica duradoura tornou-se apenas uma fase de brilho passageiro. Ao analisar os números e os efeitos de longo prazo, fica claro que quem mais ganhou com o ouro do Brasil foi a Inglaterra.
Londres emergiu como centro financeiro mundial, com bancos fortes, moeda confiável e capacidade de financiamento global. Tudo isso foi facilitado pela entrada contínua de ouro estrangeiro, parte significativa vindo das Minas Gerais.
Portugal, por outro lado, ficou com palácios, igrejas e monumentos – mas sem bases sólidas para competir com as grandes potências do século XIX.
Em termos simbólicos e práticos, o ouro brasileiro foi um presente que os portugueses entregaram aos ingleses em troca de tecidos caros, vinhos e promessas de proteção militar.
Quando o império era dourado, mas o lucro era inglês
Ao final do século XVIII, o contraste era evidente. Portugal ostentava passado glorioso, mas tinha um futuro incerto.
Já a Inglaterra, alimentada por uma mistura de pragmatismo, indústria e recursos alheios, despontava como potência global.
O ouro que saiu de Vila Rica e de tantas outras cidades mineiras foi transformado em locomotivas, fiações e bancos.
Hoje, ao observar o poder financeiro de Londres, é possível traçar uma linha direta até os leitos de rios do interior do Brasil colonial.
A capital inglesa, sede de instituições como o Banco da Inglaterra e a Bolsa de Valores, ergueu parte de sua base sobre esse ouro. A história oficial pode não enfatizar isso, mas os números e as conexões estão aí.
Portugal teve, sim, um império dourado. Mas a maior parte desse ouro não ficou em Lisboa. Ele foi parar nos cofres britânicos, transformado em alavanca para a era industrial.
É um capítulo que ensina sobre as escolhas econômicas, as dependências entre impérios e os custos ocultos da glória colonial.
Mesmo após o fim do ciclo do ouro, os efeitos do escoamento de riqueza continuaram sendo sentidos por séculos.
Muitos historiadores consideram o Tratado de Methuen e a transferência maciça de ouro brasileiro como um dos fatores estruturais da decadência econômica portuguesa e da ascensão inglesa.
Hoje, esse episódio é estudado como exemplo de como uma nação pode perder sua riqueza mesmo quando ela jorra em suas mãos — se não houver estratégia para mantê-la.
Mudou para pior, inclue terras raras, urânio, drogas, biologia, tudo de bom. Aqui cresce a contaminação, buraco e miséria.
Todo garimpeiro acaba pobre, gasta tudo com luxúria, os nossos políticos continuam atravessadores das nossa riquezas vendem tudo barato para os estrangeiros; pois não sabem valorizar o que temos e o que produzimos. O Brasil é o garimpeiro que os políticos continuam explorando vendendo o seu ouro barato para os ingleses. A anglo Gold empresa inglesa explora todo ouro do Brasil.
Não é exatamente o que fazemos hoje? Dar nossas riquezas aos estrangeiros e ficamos com migalhas,pagando altos impostos somente para a elite política do país desfrutar dessa riqueza? Infelizmente! Pagamos caro por esses erros!