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Você sabia que 65% de todo o ouro que Portugal levou do Brasil acabou nas mãos dos ingleses, ajudando a transformar Londres no centro financeiro global que é hoje?

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 21/06/2025 às 12:24
Portugal, Ouro, Brasil
Foto: Reprodução
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Portugal extraiu mais de 800 toneladas de ouro do Brasil no século XVIII, mas foi a Inglaterra quem ficou com a maior parte dessa fortuna — e transformou em poder industrial.

No século XVIII, Portugal teve nas mãos uma das maiores riquezas já extraídas da terra: o ouro das minas brasileiras.

Era tanto metal precioso que, por um tempo, Lisboa parecia se transformar na nova capital da opulência mundial. Mas o brilho durou pouco. Enquanto as minas de Minas Gerais fervilhavam de atividade, a maior parte da fortuna não ficou em território português.

Ela seguiu rumo a Londres, abastecendo os bancos britânicos, alimentando a Revolução Industrial e consolidando o Reino Unido como potência econômica global.

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O paradoxo histórico é evidente: quanto mais ouro Portugal extraía, mais dependente e estagnada sua economia se tornava.

A maior corrida do ouro da história

No final do século XVII, bandeirantes paulistas encontraram os primeiros veios de ouro na região que viria a ser chamada de Minas Gerais.

Em pouco tempo, a descoberta se espalhou e desencadeou uma corrida do ouro sem precedentes.

A coroa portuguesa passou a controlar oficialmente a extração e envio do metal precioso para Lisboa, cobrando impostos como o quinto – 20% de tudo que fosse extraído.

O século XVIII foi o auge dessa mineração. Estima-se que mais de 800 toneladas de ouro foram retiradas do solo brasileiro e remetidas a Portugal durante esse período.

Esse número se baseia em registros oficiais da Casa da Moeda de Lisboa e da administração colonial portuguesa.

Os dados indicam que só entre 1697 e 1760 foram mais de 529 toneladas. Entre 1753 e 1801, outras 280 toneladas foram registradas.

Essa quantidade extraordinária fez de Minas Gerais o centro econômico da colônia. Cidades como Ouro Preto (antiga Vila Rica) explodiram em população e riqueza.

Em 1750, Ouro Preto tinha mais habitantes do que Nova York. Toda a estrutura da colônia mudou: o Rio de Janeiro tornou-se a nova capital, dada sua proximidade com as rotas de exportação de ouro.

O Tratado de Methuen e a armadilha econômica

Em 1703, Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos.

O acordo previa que Portugal compraria tecidos de lã da Inglaterra com baixas tarifas, enquanto os ingleses reduziriam o imposto sobre vinhos portugueses, especialmente o vinho do Porto.

Na prática, parecia um bom negócio: os ingleses bebiam vinho português e os portugueses se vestiam com tecidos ingleses.

Mas havia um problema. Os tecidos britânicos eram muito mais caros que o vinho.

Além disso, a indústria inglesa já dava sinais de modernização, com técnicas de produção mais avançadas.

Enquanto isso, Portugal não tinha base industrial sólida. Resultado: Portugal passou a importar muito mais do que exportava, criando um desequilíbrio crônico na balança comercial com a Inglaterra.

Sem uma indústria forte e sem produtos competitivos, Portugal não conseguia equilibrar suas contas. A única solução era pagar a diferença com o ouro vindo do Brasil.

E foi exatamente isso que aconteceu. Navios abarrotados de ouro saíam de Lisboa em direção a Londres, como forma de quitar os produtos importados.

Dois terços do ouro foram parar na Inglaterra

Os historiadores apontam que cerca de dois terços de todo o ouro extraído no Brasil acabou, direta ou indiretamente, nos cofres ingleses.

Essa estimativa leva em conta os déficits comerciais permanentes que Portugal acumulava com a Inglaterra. O ouro enviado da colônia era usado para bancar o consumo português de produtos britânicos.

Uma vez em Londres, esse ouro era absorvido pelo sistema financeiro inglês. Parte dele foi depositada no recém-criado Banco da Inglaterra, fundado em 1694.

Outra parte virou lastro para a cunhagem de moedas, como os guinéus de ouro. O metal também serviu para ampliar a capacidade de crédito e financiamento da economia britânica.

Ou seja, aquele ouro que saía dos rios de Minas Gerais e passava por Lisboa terminava como base da futura Revolução Industrial.

Enquanto isso, o ouro ficava pouco tempo em Portugal. A metrópole portuguesa funcionava mais como ponto de passagem do que como destino final.

Os próprios governantes portugueses tinham consciência disso. Documentos da época mostram que havia críticas à dependência da Inglaterra e à fuga do ouro.

Ainda assim, o pacto comercial e a incapacidade de produzir bens manufaturados mantiveram Portugal preso a essa relação desigual.

A Revolução Industrial inglesa e o papel do ouro brasileiro

A Inglaterra foi o primeiro país a viver a Revolução Industrial, processo iniciado na segunda metade do século XVIII. Essa transformação exigia uma enorme quantidade de capital: para construir fábricas, financiar máquinas, abrir estradas e fomentar o comércio. O ouro brasileiro ajudou nesse processo.

Não se trata de dizer que a Revolução Industrial só foi possível por causa do ouro vindo da América portuguesa.

Havia outros fatores, como a disponibilidade de carvão, mão de obra urbana e inovações técnicas. Mas o papel do ouro como catalisador de investimentos é reconhecido por historiadores econômicos.

Ele forneceu liquidez, estabilidade financeira e confiança no sistema monetário britânico.

Além disso, ao fortalecer a balança de pagamentos da Inglaterra, o ouro permitiu que os britânicos importassem matérias-primas, sustentassem guerras e mantivessem sua expansão imperial sem comprometer suas finanças internas.

Enquanto a Inglaterra construía ferrovias e máquinas a vapor, Portugal mantinha a aparência de riqueza, mas sem progresso estrutural.

A estagnação portuguesa apesar da riqueza

O caso português é um exemplo clássico do chamado “paradoxo da riqueza fácil”. Ao invés de usar o ouro para diversificar sua economia e fomentar indústrias, Portugal tornou-se cada vez mais dependente das importações. O luxo temporário de Lisboa e a ostentação das elites encobriam um país que não se modernizava.

Com o tempo, as minas brasileiras começaram a declinar. A partir de 1760, a produção de ouro caiu. Sem a fonte abundante de recursos, Portugal mergulhou em crises fiscais.

Como não havia uma estrutura produtiva sólida nem reservas acumuladas, o país entrou em declínio econômico. Muitos estudiosos consideram esse momento o início do fim da influência global portuguesa.

Mesmo durante o auge do ciclo do ouro, a desigualdade era enorme. Enquanto o topo da elite se beneficiava dos recursos, grande parte da população – tanto no Brasil quanto em Portugal – vivia em condições precárias. A mineração dependia do trabalho escravo, e parte do próprio ouro era usada para comprar cativos na África.

A fortuna que Portugal perdeu

O que poderia ter sido o alicerce para uma transformação econômica duradoura tornou-se apenas uma fase de brilho passageiro. Ao analisar os números e os efeitos de longo prazo, fica claro que quem mais ganhou com o ouro do Brasil foi a Inglaterra.

Londres emergiu como centro financeiro mundial, com bancos fortes, moeda confiável e capacidade de financiamento global. Tudo isso foi facilitado pela entrada contínua de ouro estrangeiro, parte significativa vindo das Minas Gerais.

Portugal, por outro lado, ficou com palácios, igrejas e monumentos – mas sem bases sólidas para competir com as grandes potências do século XIX.

Em termos simbólicos e práticos, o ouro brasileiro foi um presente que os portugueses entregaram aos ingleses em troca de tecidos caros, vinhos e promessas de proteção militar.

Quando o império era dourado, mas o lucro era inglês

Ao final do século XVIII, o contraste era evidente. Portugal ostentava passado glorioso, mas tinha um futuro incerto.

Já a Inglaterra, alimentada por uma mistura de pragmatismo, indústria e recursos alheios, despontava como potência global.

O ouro que saiu de Vila Rica e de tantas outras cidades mineiras foi transformado em locomotivas, fiações e bancos.

Hoje, ao observar o poder financeiro de Londres, é possível traçar uma linha direta até os leitos de rios do interior do Brasil colonial.

A capital inglesa, sede de instituições como o Banco da Inglaterra e a Bolsa de Valores, ergueu parte de sua base sobre esse ouro. A história oficial pode não enfatizar isso, mas os números e as conexões estão aí.

Portugal teve, sim, um império dourado. Mas a maior parte desse ouro não ficou em Lisboa. Ele foi parar nos cofres britânicos, transformado em alavanca para a era industrial.

É um capítulo que ensina sobre as escolhas econômicas, as dependências entre impérios e os custos ocultos da glória colonial.

Mesmo após o fim do ciclo do ouro, os efeitos do escoamento de riqueza continuaram sendo sentidos por séculos.

Muitos historiadores consideram o Tratado de Methuen e a transferência maciça de ouro brasileiro como um dos fatores estruturais da decadência econômica portuguesa e da ascensão inglesa.

Hoje, esse episódio é estudado como exemplo de como uma nação pode perder sua riqueza mesmo quando ela jorra em suas mãos — se não houver estratégia para mantê-la.

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Infante
Infante
27/06/2025 18:46

Mudou para pior, inclue terras raras, urânio, drogas, biologia, tudo de bom. Aqui cresce a contaminação, buraco e miséria.

Gilvan Martins Duarte
Gilvan Martins Duarte
22/06/2025 16:34

Todo garimpeiro acaba pobre, gasta tudo com luxúria, os nossos políticos continuam atravessadores das nossa riquezas vendem tudo barato para os estrangeiros; pois não sabem valorizar o que temos e o que produzimos. O Brasil é o garimpeiro que os políticos continuam explorando vendendo o seu ouro barato para os ingleses. A anglo Gold empresa inglesa explora todo ouro do Brasil.

Valéria
Valéria
22/06/2025 13:41

Não é exatamente o que fazemos hoje? Dar nossas riquezas aos estrangeiros e ficamos com migalhas,pagando altos impostos somente para a elite política do país desfrutar dessa riqueza? Infelizmente! Pagamos caro por esses erros!

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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