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Por que o sonho de transformar o Saara em uma usina solar para o mundo fracassou? O ambicioso projeto Desertec e seus segredos

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 18/06/2025 às 14:39
Por que o sonho de transformar o Saara em uma usina solar para o mundo fracassou - O ambicioso projeto Desertec e seus segredos
Imagem gerada por inteligência artificial
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O Desertec prometia transformar o Saara em usina solar global e gerar eletricidade limpa para a Europa. Entenda por que o projeto fracassou e o que restou da iniciativa.

O Desertec, projeto lançado em 2009 com apoio de empresas europeias e países do norte da África, tinha como meta transformar o Saara em uma usina solar global e fornecer eletricidade limpa para a Europa. A proposta previa a construção de grandes usinas de energia solar no deserto, combinadas a parques eólicos, e a transmissão da eletricidade por cabos de alta tensão até o continente europeu. O projeto prometia gerar até 15% da demanda elétrica europeia até 2050.

Após anos de estudos e investimentos iniciais, o Desertec não saiu do papel como planejado. A iniciativa, que chegou a reunir empresas como Siemens, ABB, RWE e Deutsche Bank, foi descontinuada em sua forma original. Hoje, o Desertec é lembrado como um dos maiores fracassos do setor de energias renováveis no período recente.

O que o projeto Desertec previa

O projeto solar no Saara previa a instalação de usinas de energia solar concentrada (CSP), grandes campos fotovoltaicos e parques eólicos em áreas do deserto e do norte da África. A energia seria transportada por linhas HVDC (corrente contínua de alta tensão) através do Mediterrâneo, com destino a países como Espanha, Itália e França.

Estudos da época indicavam que o Saara recebe em apenas seis horas mais energia do Sol do que o mundo consome em um ano. A proposta era transformar essa abundância em uma fonte confiável de eletricidade limpa para dois continentes.

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Por que o projeto Desertec fracassou

Vários fatores explicam por que o projeto Desertec fracassou. Entre os principais estão:

Instabilidade política

A partir de 2010, com o início da Primavera Árabe, o norte da África passou a enfrentar um cenário de instabilidade. A insegurança na região afastou investidores e dificultou acordos entre os governos envolvidos no projeto.

Custos elevados

O Desertec exigia investimentos da ordem de €400 bilhões para a construção das usinas e das linhas de transmissão. Enquanto isso, o preço da energia solar na Europa começou a cair rapidamente, graças ao avanço tecnológico e à produção descentralizada em telhados e terrenos próximos dos centros consumidores.

Complexidade técnica

Construir uma rede elétrica integrada entre vários países com diferentes normas, legislações e interesses políticos se mostrou um desafio maior do que o previsto. O projeto esbarrou em dificuldades logísticas e regulatórias para conectar os sistemas de forma segura e eficiente.

Críticas ao modelo

Organizações e especialistas questionaram o conceito centralizador do Desertec. O projeto foi acusado de reforçar desigualdades e até de ter traços de “eco-colonialismo”, ao usar terras e recursos de países africanos majoritariamente para atender à demanda europeia.

O que restou do Desertec

Embora o Desertec tenha falhado como projeto global, a ideia de aproveitar a energia solar no deserto permanece. Diversos países da região avançaram com projetos próprios de energia renovável, como o complexo Noor, no Marrocos, e Shams 1, nos Emirados Árabes Unidos.

O consórcio original foi desfeito e substituído por iniciativas menores, como o projeto TuNur, na Tunísia, que planeja exportar energia solar para a Europa em menor escala. A Desertec Foundation segue atuando como organização de defesa da energia limpa, mas sem projetos de grande porte em andamento.

O fracasso do Desertec mostrou os limites de um modelo baseado em grandes redes de exportação de energia em regiões politicamente instáveis. A proposta de criar uma usina solar no Saara para atender à Europa revelou-se economicamente inviável e tecnicamente complexa, num momento em que a geração distribuída ganhou força no mundo inteiro.

Mesmo assim, o Desertec deixou um legado: ajudou a colocar o potencial dos desertos na agenda global da transição energética e inspirou novos projetos regionais mais realistas e viáveis.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Sugestões de pauta, correções ou mensagens podem ser enviadas para contato.deboraaraujo.news@gmail.com

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