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‘Roubo de vento’: fenômeno misterioso ameaça eficiência de parques eólicos e pode causar conflitos entre países

Publicado em 14/05/2025 às 19:10
Parques eólicos, turbinas eólicas, vento, Efeito esteira
Créditos: Unsplash
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Enquanto turbinas eólicas se multiplicam no mar, um fenômeno pouco discutido pode comprometer a eficiência energética e gerar disputas entre países: o chamado efeito esteira

Com a corrida mundial para alcançar as metas de emissão zero, os parques eólicos offshore se multiplicam em alto-mar. Mas um fenômeno pouco discutido começa a ganhar destaque: o chamado efeito esteira. Ele pode afetar diretamente a eficiência desses empreendimentos e causar atritos entre empresas e até entre países.

O que é o efeito esteira

O fenômeno ocorre quando turbinas eólicas extraem energia do vento. Esse processo reduz a velocidade do ar que passa por elas.

Como consequência, o vento atrás das turbinas se torna mais fraco. Essa “sombra” de vento pode se estender por dezenas de quilômetros, e em casos extremos, até ultrapassar 100 km.

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O cientista Peter Baas, da empresa holandesa Whiffle, explica que a energia produzida pelas turbinas é retirada do vento. Isso causa uma redução da velocidade do ar atrás das estruturas.

Ele chama isso de efeito esteira. Se outro parque eólico estiver posicionado na direção do vento enfraquecido, sua eficiência pode cair em até 10% ou mais.

A polêmica do “roubo de vento”

A expressão “roubo de vento” tem sido usada para descrever esse tipo de impacto. Mas o advogado norueguês Eirik Finserås, especializado em energia offshore, alerta: “A expressão ‘roubo de vento’ é um tanto enganosa, pois você não pode roubar algo que não pode ter dono – e ninguém é dono do vento”.

Mesmo assim, o efeito é real e vem causando disputas entre operadores de parques eólicos. Isso preocupa países que dependem da energia eólica offshore para reduzir suas emissões de carbono.

Segundo especialistas, o problema é antigo, mas se tornou mais relevante com a rápida expansão dos projetos eólicos no mar.

Mais turbinas eólicas, mais esteira

O Mar do Norte é uma das regiões com maior crescimento na geração de energia eólica offshore. Simulações feitas por Baas e outros pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Delfos, na Holanda, mostram que o impacto do efeito esteira tende a aumentar com o tempo. Quanto maiores e mais densos forem os parques, maior será o problema.

Um projeto no Reino Unido busca entender melhor esse fenômeno. Liderado por Pablo Ouro, da Universidade de Manchester, o estudo vai analisar o impacto das esteiras nos parques eólicos até 2030. Até lá, o país planeja triplicar sua capacidade e instalar milhares de novas turbinas.

Espaço cada vez mais disputado

Ouro afirma que os efeitos esteira já são conhecidos, mas agora o impacto é maior. “Precisaremos ter o triplo da capacidade que temos agora – ou seja, em menos de cinco anos, precisaremos instalar milhares de turbinas.”, explica.

Segundo ele, como novas turbinas estão sendo instaladas perto de parques já existentes, tudo está ficando mais apertado.

A política do governo britânico já reconhece o efeito esteira como uma questão emergente. Ouro afirma que existem disputas em andamento entre operadores no Reino Unido. Para ele, o motivo é a incerteza sobre o impacto real das esteiras. As regras de espaçamento entre os parques podem não ser suficientes.

Além disso, é difícil prever como vários parques interagem entre si. “Se há dois parques, é mais fácil calcular. Mas e se forem seis?”, questiona Ouro.

Turbinas cada vez maiores

Outro fator que agrava o efeito esteira é o aumento do tamanho das turbinas. As pás atuais chegam a medir mais de 100 metros – o tamanho de um campo de futebol.

Uma única turbina offshore pode fornecer energia para até 20 mil residências. Mas, quanto maior o rotor, maior também a esteira que ele pode gerar.

Para Ouro, ainda é preciso pesquisar mais sobre esses impactos. O crescimento das turbinas pode melhorar a produção, mas também pode piorar os efeitos indesejados para outros projetos.

Impacto entre fronteiras

Finserås coordenou um estudo sobre o efeito esteira entre países, durante seu doutorado na Universidade de Bergen, na Noruega.

O caso analisa como um parque eólico planejado na Noruega pode afetar outro parque na Dinamarca. Para ele, se o problema não for tratado, pode gerar conflitos legais e políticos.

Ele prevê que o Mar do Norte e o Mar Báltico se tornem centros de construção em massa de parques offshore.

Por isso, o efeito esteira deve influenciar diretamente a transição energética nessas áreas. Mesmo reduções pequenas na geração de energia podem tornar projetos inviáveis financeiramente, segundo o advogado.

A corrida pelos melhores locais para parques eólicos

O risco, segundo Finserås, é que os países tentem garantir os melhores pontos antes dos outros. Isso pode causar uma “corrida para a água”, com cada Estado buscando se antecipar para explorar os ventos mais favoráveis.

Mas essa pressa pode levar ao esquecimento de pontos importantes, como a proteção ambiental marinha.

Ouro também alerta sobre os conflitos entre fronteiras. Até agora, as disputas observadas foram entre parques britânicos. Mas ele questiona: “E se, amanhã, surgir uma disputa entre um parque eólico britânico e um holandês, belga ou francês

Para ele, o ideal seria antecipar esses cenários. Criar regras claras agora pode evitar problemas maiores no futuro. Assim, todos os envolvidos podem ter mais segurança jurídica e técnica.

Cooperação e regulamentação

Finserås defende que o vento seja tratado como um recurso compartilhado, como ocorre com peixes e reservas de petróleo em alto-mar. Já existem regulamentações internacionais para esses casos. O mesmo caminho poderia ser seguido com o vento, segundo ele.

Ele também destaca a importância da cooperação entre os países envolvidos. Para enfrentar os desafios, é essencial manter boas relações políticas. A transição energética exige rapidez, mas não pode ignorar soluções justas e equilibradas.

O caso da China

O problema não está restrito à Europa. A China também está expandindo seus parques eólicos offshore e já enfrenta os desafios do efeito esteira. Pesquisadores chineses também reconhecem que o impacto vem crescendo com a velocidade da expansão.

Segundo Pablo Ouro, desde que seu projeto foi anunciado, ele recebeu muitos e-mails de pessoas interessadas. Para ele, isso mostra como o tema se tornou urgente.

Precisamos compreender isso, precisamos progredir mais com os modelos, para que todos tenham confiança, pois precisamos desta quantidade de vento offshore para atingir a emissão zero. Temos que concretizar isso“, conclui o pesquisador.

Com informações de BBC.

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Romário Pereira de Carvalho

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