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Roma afundou na corrupção — o Brasil segue acelerando no mesmo caminho?

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 05/06/2025 às 13:01
ROMA, Corrupção
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Roma desabou sob corrupção e abuso de poder. O alerta ecoa até hoje nas fragilidades das democracias modernas.

Às vezes, os sistemas não se rompem por golpes externos. Eles se desgastam silenciosamente por dentro, corroídos aos poucos. Roma não perdeu sua República da noite para o dia. Não foi um único inimigo ou uma guerra que a derrubou.

O que destruiu Roma foi um processo lento, construído voto a voto comprado, general a general desobedecendo o Senado e senador a senador preferindo enriquecer em vez de proteger as instituições. A corrupção virou rotina. Não foi acidente, mas uma prática aceita por muitos.

O poder virou um investimento

No século II a.C., ocupar uma magistratura em Roma deixou de ser prestígio. Tornou-se uma oportunidade econômica.

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As campanhas eleitorais exigiam gastos enormes. Era preciso bancar espetáculos públicos, oferecer refeições, fazer promessas custosas. Muitos candidatos se endividavam, confiantes de que recuperariam tudo, e mais, no cargo.

A compra de votos se tornou normal. Redes de clientelismo trocavam moedas, favores e vantagens. Não participar desse jogo era mais estranho do que aderir.

A política virou um negócio de alto risco. Apenas poderosos ou desesperados ousavam competir.

Esse comportamento contaminou também as províncias. Governadores agiam como vice-reis, pressionando habitantes locais.

Impostos eram inflacionados, processos judiciais vendidos, e abusos, ignorados. A corrupção deixou de ser exceção e virou a regra.

Um Senado isolado

O Senado, antes centro do poder deliberativo, virou um clube exclusivo. Grandes famílias patrícias controlavam as posições mais influentes. Novas vozes eram barradas. Não bastava ter riqueza: era preciso ter sobrenome e alianças privadas.

Muitos senadores nem compareciam às sessões. Alegavam problemas de saúde ou delegavam votos a aliados.

As decisões importantes não eram mais públicas, mas tomadas em banquetes. As leis deixaram de ser debatidas e passaram a ser negociadas. O ideal de participação virou rotina vazia.

Houve tentativas de reforma. Limites à reeleição, punições mais duras para subornos e fiscalização de contas públicas foram propostas.

Mas emperraram. Quem deveria implementá-las era quem se beneficiava do sistema. Resultado: nada avançava além do papel.

Justiça para poucos

A República romana se orgulhava de ter leis escritas. Mas o acesso à justiça se tornou desigual. Os juízes eram, em sua maioria, das mesmas elites que dominavam a política. A imparcialidade era só discurso.

Julgamentos de corrupção viraram espetáculos. Muitas vezes o veredito já era conhecido antes mesmo da primeira audiência. Um dos casos mais emblemáticos foi o de Verres, governador da Sicília.

Acusado de extorsão e pilhagem, só foi condenado porque Cícero impediu, com grande oratória e apoio popular, o adiamento do processo.

Na maioria das vezes, corruptos eram absolvidos e recompensados com novos cargos. Além disso, os tribunais serviam de arma política.

Acusar um rival era mais eficaz do que debater. Sem aliados fortes ou dinheiro para se defender, um condenado era arruinado. A justiça virou ferramenta de ambição pessoal.

Valores esvaziados

A República foi fundada sobre valores como virtus (coragem), fides (lealdade) e mos maiorum (tradição dos mais velhos).

No final do século II a.C., essas palavras ainda eram ditas, mas já não eram vividas. Jovens aristocratas aprendiam a dissimular, a manipular, não a servir.

O luxo importado da cultura grega também teve impacto. O que antes era considerado excesso virou símbolo de poder.

Vilas extravagantes, banquetes intermináveis, joias e escravos exóticos tornaram-se sinais de prestígio. A austeridade passou a ser vista como fraqueza.

A ostentação econômica não era apenas gosto pessoal. Ela servia para estabelecer hierarquias, ganhar apoio político e humilhar adversários.

A simplicidade republicana foi substituída pelo cinismo. A noção de uma comunidade de cidadãos iguais foi corroída por desigualdade e corrupção.

À beira do colapso

A corrupção não era apenas sintoma. Ela foi força ativa na destruição da República. À medida que instituições perdiam credibilidade, a violência apareceu como solução.

As reformas agrárias dos irmãos Graco foram bloqueadas por interesses no Senado. A resposta foi o assassinato. O diálogo foi substituído pelo derramamento de sangue.

Generais passaram a substituir magistrados como líderes. Homens como Mário e Sula, com exércitos pessoais, chantageavam o Estado. O Senado, fraco e dividido, dependia deles. Roma aprendeu a viver em estado de emergência.

Quando Júlio César cruzou o Rubicão, ele não enfrentava uma República forte. Enfrentava um cadáver político. A corrupção não foi a única responsável pela queda, mas a deixou vulnerável ao autoritarismo.

Brasil, e o preço do cinismo

O fim da República não foi acidente. Nem simples consequência do crescimento territorial. Foi resultado de decisões conscientes. Foi fruto da abdicação do dever, da normalização do abuso, da conversão do poder em privilégio pessoal.

Roma não caiu nas mãos dos bárbaros. Caiu nas mãos dos próprios romanos. Homens que, acreditando-se acima da lei, tornaram a corrupção a norma e a justiça uma arma. Seu legado é um alerta. A história da República Romana não é só um capítulo passado: é uma advertência.

E quanto ao Brasil?

Seria possível enxergar, em nossos dias, alguns movimentos que merecem atenção? Há quem observe práticas de compra de apoio político, troca de favores, aparelhamento de instituições e episódios de corrupção que, de tempos em tempos, abalam a confiança da população. Estaríamos, aos poucos, nos acostumando com isso?

Em certas situações, não paira no ar a dúvida sobre a real imparcialidade da justiça? Será que todos são tratados da mesma forma? Ou haveria casos em que alguns são poupados enquanto outros são perseguidos com maior rigor?

Se a experiência romana serve de lição, talvez o maior risco não esteja nos grandes escândalos isolados, mas na soma das pequenas concessões diárias. Na normalização de práticas que, pouco a pouco, enfraquecem o que deveria ser sólido.

Quando o interesse pessoal se sobrepõe ao interesse público, não seria natural que o funcionamento das instituições começasse a se fragilizar?

O caminho da decadência costuma ser lento, feito de pequenas escolhas, votos negociados, leis adaptadas e valores relativizados.

Roma não caiu de repente. Ela se esvaziou lentamente. Um pouco a cada dia, voto a voto comprado, lei a lei negociada, valor a valor esquecido.

Talvez o ponto esteja justamente aí: até onde conseguimos perceber quando começamos a trilhar esse mesmo caminho?

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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