A integração entre rodovias e navegação costeira transforma a logística nacional e impulsiona um novo modelo de transporte sustentável e competitivo no país
A rodo-cabotagem vem ganhando espaço no Brasil ao combinar a flexibilidade do transporte rodoviário com a escala da navegação de cabotagem. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2025), 65% das cargas no país ainda circulam por rodovias, mas o avanço industrial e a concentração populacional no litoral exigem novas soluções. Por isso, o modelo surge como alternativa eficiente, sustentável e previsível, capaz de reduzir custos e ampliar a competitividade logística.
A operação ocorre quando caminhões realizam a coleta e a entrega das cargas até os portos, enquanto os navios executam o trecho de longa distância pela costa. Além disso, o sistema possibilita atender cargas fracionadas no formato LTL ou LCL, consolidando pequenos volumes sob uma gestão unificada. Assim, empresas de menor porte ganham acesso a uma alternativa logística antes restrita a grandes embarcadores.
Dessa forma, a rodo-cabotagem distribui funções conforme a eficiência de cada modal, preservando o transporte rodoviário nos trechos regionais e urbanos e transferindo aos navios o transporte de grande escala. Essa divisão evita sobreposição de custos e amplia as economias de escala, mantendo o caminhão como peça central da matriz logística nacional.
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Leis recentes fortalecem o avanço da cabotagem no país
O crescimento da rodo-cabotagem foi impulsionado pela Lei 14.301/2022, que criou o programa BR do Mar, e pelo Decreto 12.555/2025, que regulamentou sua execução. De acordo com o Ministério de Portos e Aeroportos, o novo marco permite redução de até 15% nos custos de frete, estimando uma economia anual de R$ 19 bilhões.
As mudanças também flexibilizaram o afretamento de embarcações, ampliaram a frota disponível e eliminaram barreiras burocráticas. Com isso, aumentaram a previsibilidade para investidores e operadores, fortalecendo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). Além disso, o decreto incluiu critérios de sustentabilidade para novas embarcações, estimulando práticas de baixo impacto ambiental no setor marítimo.
Segundo dados oficiais divulgados em julho de 2025, o governo estima que o aumento de 60% na cabotagem conteinerizada poderá evitar a emissão de mais de 530 mil toneladas de CO₂ por ano, reforçando o compromisso nacional com a descarbonização e com os acordos climáticos globais.
Redução de custos e de emissões transforma a logística nacional
A adoção da rodo-cabotagem traz benefícios diretos para embarques industriais e varejistas, que passam a operar com custos mais previsíveis e menor dependência das oscilações de insumos logísticos. Para as transportadoras, o modelo abre oportunidades para atuar em rotas regionais, alimentação de portos e distribuição urbana, mantendo o caminhão em posição estratégica.
Os portos brasileiros também passam a demandar investimentos em retroáreas, acessos terrestres e sistemas digitais para eliminar gargalos operacionais. Para o Estado, a transição cria uma matriz de transporte mais equilibrada e resiliente, reduzindo a dependência rodoviária e melhorando a competitividade nacional.
O aspecto ambiental é um dos principais diferenciais. Em uma simulação entre Blumenau (SC) e Cabo de Santo Agostinho (PE), o transporte rodoviário puro gera cerca de 1,2 tCO₂e, enquanto a rodo-cabotagem emite apenas 0,2 tCO₂e. A intensidade de emissões cai de 240 kg para 40 kg por tonelada transportada, representando redução superior a 83%. Essa diferença reforça o impacto positivo da integração modal na meta brasileira de neutralidade de carbono até 2050.
Estrutura intermodal e desafios para expansão nacional
Diversas operadoras logísticas já criaram redes multimodais que integram frotas rodoviárias, armazéns regionais e navios de cabotagem sob uma única gestão. Esse formato garante maior previsibilidade nas entregas, reduz riscos e melhora o controle sobre toda a cadeia de suprimentos.
Entretanto, a expansão nacional depende de modernização portuária, melhorias em acessos terrestres e formação de mão de obra especializada, tanto no setor rodoviário quanto marítimo. Como operações intermodais exigem competências técnicas específicas, a capacitação profissional é essencial para o sucesso do modelo.
O Brasil possui vantagens geográficas naturais, já que grande parte da população e da produção industrial se concentra próxima ao litoral. Essa característica torna o mar um corredor logístico natural de longa distância, capaz de reduzir custos, ampliar a eficiência e fortalecer a sustentabilidade.
Com a continuidade dos investimentos em infraestrutura e tecnologia, e com a cooperação entre Estado, transportadoras e embarcadores, a rodo-cabotagem deve se consolidar como um dos pilares da logística nacional, contribuindo para elevar a produtividade, reduzir emissões e alinhar o Brasil às exigências ambientais e econômicas do comércio global.