Diferenças de até R$ 30 entre o valor fixado pelo governo e o preço real de mercado levam revendas a questionar a viabilidade do Gás do Povo e alertar que o custo pode inviabilizar o programa em vários estados
O programa Gás do Povo, lançado pelo governo federal para distribuir botijões gratuitos a famílias inscritas no CadÚnico, enfrenta resistência de revendedores e associações do setor. As entidades afirmam que os valores de reembolso fixados estão abaixo da realidade de mercado, com diferenças que chegam a R$ 30 no botijão de 13 quilos em algumas regiões do país.
A tabela de preços publicada em edição extra do Diário Oficial da União define os valores que serão usados para compensar as revendas credenciadas. No entanto, a discrepância entre o preço oficial e o custo operacional real gerou reação imediata de entidades como a Abragás (Associação Brasileira das Entidades Representativas da Revenda de Gás LP), que afirma ter aderido ao programa apenas sob a condição de que os preços seguissem as médias regionais da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Diferenças regionais e riscos de adesão parcial
Em estados como Amazonas e São Paulo, o valor proposto pelo governo ficou respectivamente cerca de R$ 30 e R$ 16 abaixo da média de mercado, segundo dados do setor.
-
Banco Mundial projeta que o Brasil vai liderar o crescimento na América Latina em 2025 — PIB deve avançar 2,4% e reforçar a retomada econômica do país
-
Dólar dispara e derruba Ibovespa: tensão entre China e EUA acende alerta na economia global
-
Morningstar aponta Brasil como potência de investimentos na próxima década: projeção de retorno de 12,5% supera América Latina, atrai capital estrangeiro e recoloca o país entre os mercados mais promissores do mundo
-
Mudança no Imposto de Renda provoca reação e divide setores econômicos
Para as revendas locais, a defasagem inviabiliza a participação, pois não cobre custos de transporte, armazenamento e operação.
“Os valores divulgados estão fora da realidade em várias regiões do país, o que pode levar as revendas a não aderirem ao programa”, afirmou a Abragás em nota, destacando que o diálogo com o governo continua, mas sem ajustes, a adesão será limitada.
A entidade reforça que não é oposição ao Gás do Povo, mas alerta para o risco de desequilíbrio econômico e logístico, especialmente em áreas mais afastadas.
Distribuidoras pedem revisão técnica dos valores
O Sindigás (Sindicato das Empresas Distribuidoras de Gás LP), que representa as principais distribuidoras do país, classificou o cenário como “desafiador” e disse que ainda avalia os impactos caso a caso.
O sindicato reconhece a importância social do Gás do Povo, mas alerta que a padronização nacional dos preços desconsidera diferenças de custo entre regiões, impostos estaduais e logística de transporte, que varia drasticamente entre capitais e cidades do interior.
Especialistas do setor apontam que a margem operacional das revendas é estreita, e que subsídios mal calibrados podem desestimular a adesão, afetando a entrega regular do benefício.
A falta de revendedores em determinadas localidades poderia obrigar o governo a buscar alternativas logísticas mais caras, comprometendo a sustentabilidade do programa.
Potencial de expansão e gargalos industriais
O governo estima que o Gás do Povo atenda até 16 milhões de famílias de baixa renda, o que representaria um aumento de até 8% na demanda nacional por GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).
Para dar conta da expansão, o setor calcula que serão necessários de 5 a 10 milhões de novos botijões nos próximos meses.
As empresas já iniciaram negociações com fornecedores, mas o avanço depende da previsibilidade de remuneração.
Sem a revisão dos valores, fabricantes podem atrasar entregas, e revendas podem reduzir estoques, afetando o ritmo de distribuição.
Um programa social sob teste
O Gás do Povo é uma das principais bandeiras do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elaborado para substituir o antigo Vale-Gás e ampliar o alcance social da política energética.
A proposta busca garantir acesso universal ao gás de cozinha e reduzir o impacto da inflação energética sobre famílias de baixa renda.
No entanto, o embate sobre a precificação expõe um desafio recorrente nas políticas de energia subsidiada: conciliar impacto social com viabilidade econômica.
Sem um modelo de remuneração regionalizado, o risco é gerar desinteresse da revenda e dificultar a implementação em estados onde o custo logístico é mais alto.
O Gás do Povo tem potencial para se tornar o maior programa social de abastecimento de gás do país, mas enfrenta um impasse técnico e econômico antes mesmo de atingir escala nacional.
A revisão dos preços definidos pelo governo será determinante para definir se o programa avança com adesão ampla ou se enfrenta resistência crescente no setor.
E você, acha que o Gás do Povo pode funcionar com os preços atuais? Ou acredita que as revendas têm razão ao pedir correção regional dos valores? Conte nos comentários se você já percebeu diferença no preço do botijão em sua cidade e como isso impacta o dia a dia da população.