A volta das exportações de petróleo do Curdistão pelo oleoduto até a Turquia aumenta a oferta mundial, derruba os preços e pode transformar o equilíbrio geopolítico no setor energético.
O mercado internacional de petróleo enfrenta um novo choque de preços, conforme noticiado nesta terça, 30. Depois de mais de dois anos suspenso, o fluxo de barris oriundos do Curdistão iraquiano voltou a circular pelo oleoduto que liga a região ao porto de Ceyhan, na Turquia.
A suspensão das exportações começou em setembro de 2023 e estava diretamente ligada às tentativas do Governo Regional do Curdistão (KRG) de ampliar sua autonomia em relação a Bagdá. Antes da paralisação, a região era responsável por enviar aproximadamente 450 mil barris de petróleo por dia, uma produção significativa que agora retorna ao mercado saturado.
Disputa legal entre Iraque e Turquia travou exportações de petróleo
A crise teve origem em 2014, quando o governo iraquiano decidiu fechar o oleoduto. Bagdá acusou a Turquia de violar um acordo ao negociar diretamente com o KRG, sem a autorização da estatal iraquiana.
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O impasse foi parar na Câmara Internacional de Comércio, que deu ganho de causa ao Iraque. A decisão obrigou a Turquia a interromper o escoamento e ainda a pagar US$ 1,5 bilhão em indenização por exportações consideradas ilegais.
Esse contexto explica por que a retomada atual representa um marco. Agora, o petróleo extraído no Curdistão volta a ser exportado sob responsabilidade direta da estatal iraquiana, em um entendimento raro entre o governo central e os curdos.
Produção de petróleo do Iraque ganha reforço
Com o retorno do oleoduto, o Iraque deverá ampliar sua capacidade de exportação. Segundo o subsecretário do Ministério do Petróleo, Bassem Mohamed, o país pode alcançar 3,6 milhões de barris diários em poucos dias.
O acordo inclui oito petrolíferas que atuam na região curda, todas alinhadas à nova estratégia conjunta. Para especialistas, essa recomposição da produção deve aumentar a relevância do Iraque como um dos grandes fornecedores de petróleo no cenário internacional.
OPEP+ amplia oferta e reforça queda dos preços
A retomada do petróleo curdo ocorre justamente em um momento de maior flexibilização da produção mundial. A OPEP+ já havia decidido elevar as cotas desde abril, com um incremento superior a 2,5 milhões de barris por dia, o equivalente a 2,4% da demanda global.
A expectativa do mercado é de que, na reunião marcada para 5 de outubro, o cartel aprove um novo aumento, próximo a 137 mil barris diários. Esse movimento pressiona ainda mais os preços, que vêm operando entre US$ 60 e US$ 70 por barril.
Outro fator que pesa sobre as cotações é a guerra em Gaza. Conflitos armados costumam restringir exportações de petróleo no Oriente Médio. Assim, a possibilidade de um acordo de paz pode liberar ainda mais oferta, aumentando a pressão para baixo nos preços.
De acordo com informações da Bloomberg, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou uma proposta para encerrar o conflito após conversas com líderes de Israel e do Catar. O plano prevê que o Hamas não tenha qualquer papel no futuro de Gaza, algo que depende da aceitação do grupo fundamentalista.
Trump declarou que, caso a proposta seja rejeitada, o premiê israelense Benjamin Netanyahu terá “total apoio” dos EUA para avançar militarmente contra o Hamas. Essa movimentação diplomática acrescenta incerteza ao mercado, mas reforça a tendência de que a oferta global de petróleo se torne ainda maior.