Um dos maiores desafios da energia nuclear é o destino do lixo radioativo. Agora, uma proposta inédita de cientistas do CERN e da China pode mudar isso completamente. A ideia é usar feixes gama para transformar resíduos perigosos em materiais mais seguros — e ainda gerar energia limpa.
Uma nova proposta pode mudar o destino do lixo nuclear. Pesquisadores do CERN e da Universidade da Academia Chinesa de Ciências apresentaram uma tecnologia que promete transformar resíduos radioativos em formas mais seguras — e gerar energia no processo.
A inovação foi publicada na revista científica Nature e já está chamando atenção por seu potencial de resolver dois grandes problemas ao mesmo tempo: o acúmulo de resíduos perigosos e a necessidade urgente de energia limpa.
A promessa da energia nuclear
A energia nuclear é considerada uma das fontes mais eficientes de eletricidade limpa do mundo. Atualmente, cerca de 25% da eletricidade livre de carbono global vem desse tipo de geração.
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Mas ela tem um lado difícil de resolver: os resíduos radioativos que permanecem perigosos por milhares de anos. Os chamados produtos de fissão de longa vida (LLFPs) exigem armazenamento seguro por períodos que ultrapassam muitas gerações humanas.
O acúmulo desse tipo de lixo tornou-se um problema sério, principalmente para países que apostam fortemente na energia nuclear para reduzir as emissões de carbono.
A solução: transformar lixo em watts
A nova proposta se baseia em um conceito chamado transmutação nuclear. Com ele, os resíduos de longa duração podem ser convertidos em elementos mais estáveis ou de vida curta.
A diferença está na ferramenta usada: potentes feixes de raios gama gerados pela Fábrica Gama do CERN.
O sistema, batizado de Sistema Avançado de Energia Nuclear (ANES), usa esses raios para gerar nêutrons capazes de iniciar a transformação dos resíduos. Esse processo reduz significativamente a periculosidade dos resíduos e, ao mesmo tempo, gera energia térmica.
Segundo os pesquisadores, o ANES pode gerar até 500 megawatts de energia térmica. Isso é suficiente não apenas para manter o próprio sistema funcionando, mas também para fornecer energia adicional.
E há mais um diferencial: esse método não exige a separação prévia de isótopos radioativos, uma etapa cara e tecnicamente complexa. Isso torna o processo mais viável e acessível em comparação com outras alternativas.
Redução drástica do risco radioativo
A transmutação proposta tem um impacto direto no tempo de risco associado aos resíduos nucleares. Ao invés de esperarem milhares de anos para que se tornem inofensivos, os materiais tratados com o novo método teriam a meia-vida reduzida para apenas 100 anos.
Isso significa que os resíduos poderiam ser armazenados por períodos muito mais curtos e com menos riscos para o meio ambiente e para a saúde humana. É uma mudança importante, com potencial de aliviar o fardo de gerações futuras.
Além disso, o uso de feixes de fótons (raios gama) é mais eficiente do que os métodos tradicionais que utilizam prótons. Esses métodos exigem mais energia para funcionar e não oferecem o mesmo retorno energético durante o processo.
Caminho até a implantação
Apesar do grande potencial, a tecnologia ainda está em fase de desenvolvimento. Os pesquisadores afirmam que a proposta pode se tornar realidade dentro de algumas décadas, dependendo dos avanços em infraestrutura e financiamento.
Se for adotado em larga escala, o sistema pode ajudar países que desejam apostar na energia nuclear sem herdar os problemas do lixo radioativo.
O estudo representa mais do que uma ideia promissora — é um passo concreto para um futuro mais limpo. E embora o sistema ANES seja voltado para grandes reatores, ele reforça uma mensagem importante: é possível encontrar soluções sustentáveis para os desafios energéticos mais complexos do mundo.