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Renault Kwid é SUV e VW Tera é hatch? Decisão do Inmetro gera polêmica e escancara contradição

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 28/06/2025 às 12:22
Inmetro reclassifica VW Tera como hatch e mantém Kwid como SUV, reacendendo debate sobre critérios técnicos. Entenda os detalhes dessa polêmica.
Inmetro reclassifica VW Tera como hatch e mantém Kwid como SUV, reacendendo debate sobre critérios técnicos. Entenda os detalhes dessa polêmica.
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Contradições em classificações oficiais reacendem debate sobre o que define um SUV no Brasil, após decisão do Inmetro que separa versões de um mesmo modelo entre categorias distintas.

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) reabriu debate sobre a classificação dos veículos no Brasil ao reclassificar o Volkswagen Tera 1.0 MPI como hatch, enquanto mantém as versões TSI como SUVs.

A decisão evidencia incoerências no estabelecimento de critérios que definem o que é ou não um utilitário esportivo.

A controvérsia começou com a análise das versões do VW Tera, fabricado em Taubaté (SP) e lançado em maio de 2025.

A versão equipada com motor turbo TSI foi aprovada como SUV pelo Inmetro, atendendo aos parâmetros técnicos — altura elevada, ângulos de entrada e saída adequados e vão livre do solo acima do mínimo.

Já a versão de entrada, equipada com motor 1.0 MPI aspirado, teve altura inferior aos valores exigidos, o que a levou à categoria de hatch.

Na prática, o Tera TSI tem altura total de 1.504 mm e oferece vão livre de 17,8 cm, medida divulgada pela Volkswagen; por sua vez, a versão MPI, com altura de 1.478 mm, resultaria em vão livre estimado de 14,8 cm — abaixo do mínimo de 18 cm exigido pelo Inmetro.

Critérios técnicos do Inmetro para classificar SUV

Desde 2019, o Inmetro utiliza critérios técnicos claros para classificar um veículo como SUV no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), ainda que esses critérios não restrinjam uso de marketing ou nomenclaturas comerciais.

Os pontos exigidos são:

  • Ângulo de ataque mínimo de 23° (com tolerância de –1°);
  • Ângulo de saída mínimo de 20° (com tolerância de –1°);
  • Ângulo de transposição de rampa mínimo de 10° (com tolerância similar);
  • Altura mínima do vão livre do solo de 18 cm (tolerância de –1 cm).
  • A versão MPI do Tera, por ter rodas de aço aro 15 (idem ao Polo Track), não atinge essas médias.
  • Já o Tera TSI, com suspensão mais elevada e rodas maiores, atende aos valores mínimos.

Kwid, Argo e C3 já geraram polêmica semelhante

A controvérsia atual lembra decisões já questionadas, como a presença do Renault Kwid, Citroën C3 e Fiat Argo Trekking na categoria SUV pelo Inmetro.

Apesar de sua aparência de hatch compacto, todos estes possuem vão livre mínimo de 18 cm, ângulos de entrada, saída e transposição de rampa alinhados aos critérios.

No caso do Kwid, por exemplo, a altura de 180 mm do solo e os ângulos de entrada (24°) e saída (40°) foram determinantes para a classificação como SUV.

Isso levou o subcompacto a integrar a lista de SUVs segundo o Inmetro, apesar de sua plataforma hatch e ausência de características off-road genuínas.

Justificativas do Inmetro e impacto para montadoras

O Inmetro justifica que o uso desses critérios técnicos permite estabelecer padrões consistentes para etiquetas de consumo, independentes de decisões de marketing.

A padronização visa garantir transparência e objetividade nas comparações de eficiência energética entre categorias de veículos.

Porém, como apontam especialistas e automobilistas, essa distinção baseada exclusivamente em medidas físicas gera contradição: carros comercialmente promovidos como SUVs podem não cumprir todos os requisitos, e vice‑versa.

Inmetro reclassifica VW Tera como hatch e mantém Kwid como SUV, reacendendo debate sobre critérios técnicos. Entenda os detalhes dessa polêmica.
Inmetro reclassifica VW Tera como hatch e mantém Kwid como SUV, reacendendo debate sobre critérios técnicos. Entenda os detalhes dessa polêmica.

Reações e críticas à decisão oficial

Profissionais e consumidores criticam a lógica aplicada pelo Inmetro.

Nas redes, internautas montaram discussões acaloradas no Reddit e fóruns automotivos.

Um dos participantes no r/carros afirmou:

“O Kwid pelo Inmetro é considerado SUV sim… tem altura mínima ante ao solo de 18 cm, ângulo de entrada superior ou igual a 24° e ângulo de saída de 19°.”

Especialistas do setor ressaltam que a falta de uniformidade entre versões de um mesmo modelo evidencia falhas no critério técnico.

O Tera MPI, por exemplo, poderia facilmente ser elevado à categoria de SUV com roda de diâmetro maior, como ocorre no Citroën Basalt.

Essa ambiguidade impacta diretamente a forma com que os fabricantes posicionam seus modelos e como os consumidores tomam decisões de compra.

Um veículo classificado como SUV pode ser percebido como mais robusto ou refletir maior valor agregado, mesmo sem ser tecnicamente adequado para uso fora de estrada ou em terrenos acidentados.

Ao mesmo tempo, a exigência mínima de características como vão livre e ângulos de ataque força as montadoras a adaptarem versões de entrada, ainda que praticamente idênticas em design, apenas para classificação certificada.

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O que o caso Tera revela sobre o mercado

O caso do Tera expõe uma informalidade no uso do termo “SUV” no Brasil: muitas vezes o mercado adota carros com visual “altinho” como utilitários, mas sem ancoragem nos rigorosos critérios técnicos.

A partir de agora, as diferenças entre versões MPI e TSI do mesmo modelo passarão a ilustrar as consequências diretas de alterações quase imperceptíveis nas especificações.

Até o momento, a Volkswagen não emitiu posicionamento oficial sobre a dualidade de classificação.

Já o Inmetro reafirmou sua decisão em comunicado ao Jornal do Carro.

No fim, o episódio reforça uma pergunta mais ampla sobre a coerência entre legislação técnica, anúncios de marketing e percepção pública.

Você considera justa essa classificação técnica do Inmetro, mesmo quando diverge da percepção popular sobre o que é ou não um SUV?

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Paulo Brificcado
Paulo Brificcado
02/07/2025 08:00

Vai ter de aceitar 30% de álcool na marra na PeTelandia.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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