Nova regra impulsiona o uso de energia renovável nas ZPEs e fortalece a indústria verde no Brasil com foco em exportações sustentáveis.
Nas últimas décadas, o uso de energia renovável se tornou um dos principais temas na busca por um modelo de desenvolvimento sustentável. Além disso, governos, empresas e organizações no mundo inteiro passaram a reconhecer que a dependência de fontes fósseis, como petróleo e carvão, além de causar danos ambientais, compromete o futuro energético de muitos países.
Por essa razão, o Brasil tem dado passos firmes para consolidar seu papel como líder na adoção de fontes limpas. Um dos avanços mais recentes foi a assinatura de uma medida provisória pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto determina que novas empresas que se instalem nas Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) utilizem exclusivamente energia renovável.
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Dessa forma, a medida representa um marco na política energética do país ao vincular o crescimento industrial à sustentabilidade ambiental. O governo, portanto, busca integrar energia, comércio e meio ambiente em uma estratégia conjunta de desenvolvimento limpo e competitivo.
O que são Zonas de Processamento de Exportação
As ZPEs incentivam a produção voltada à exportação. Desde sua criação na década de 1980, essas zonas atraem investimentos estrangeiros e impulsionam a industrialização com foco no comércio exterior.
Empresas que atuam nesses territórios recebem incentivos fiscais e aduaneiros, o que torna seus produtos mais competitivos no mercado global.
No entanto, apesar da previsão legal, o Brasil só colocou duas ZPEs em operação: uma no Ceará e outra no Piauí. Por causa disso, burocracias, incertezas jurídicas e falhas de infraestrutura dificultaram a ampliação dessas áreas.
A ZPE do Ceará, localizada em São Gonçalo do Amarante, se destaca como a mais avançada. A região atraiu projetos ligados à transição energética, como a produção de hidrogênio verde.
Além do mais, sua localização próxima ao Porto do Pecém facilita o envio de produtos sustentáveis para a Europa e a Ásia.
Nova regra exige energia limpa de empreendimentos inéditos
A medida provisória alterou a Lei nº 11.508 ao exigir que novas empresas nas ZPEs usem energia renovável. A exigência não vale para projetos antigos, apenas para os que forem apresentados a partir da data de publicação da norma.
O diferencial, contudo, está em um detalhe importante: as empresas precisam contratar energia de fontes que ainda não estavam em operação no momento da assinatura.
Dessa maneira, o governo incentiva diretamente a criação de novos parques solares, usinas eólicas, centrais de biomassa e plantas de hidrogênio verde.
Consequentemente, essa regra impulsiona o mercado de fontes limpas e moderniza o sistema de fornecimento elétrico industrial. O setor elétrico, nesse contexto, vê essa medida como um sinal claro de que deve expandir a geração renovável no mercado livre, principal canal de negociação entre empresas e fornecedores.
Logo, o Brasil, ao atrelar energia limpa à instalação de indústrias, reforça sua aposta na industrialização verde.
A história da energia renovável no Brasil
O país já possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. Desde o século XX, as hidrelétricas garantem boa parte da energia consumida no território nacional.
A vasta rede de rios favoreceu a construção de barragens, que se tornaram o pilar do sistema elétrico.
Todavia, nos últimos anos, as crises hídricas revelaram a fragilidade de depender apenas da água. Como resultado, o país passou a investir em outras fontes renováveis.
A partir dos anos 2000, energia solar, eólica e biomassa começaram a ocupar espaço relevante na matriz elétrica brasileira.
Hoje, o Nordeste lidera a geração eólica, enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste se destacam na produção solar. Além disso, os avanços tecnológicos e a queda dos custos tornaram essas fontes acessíveis.
Pequenas e médias empresas, além de consumidores residenciais, também passaram a instalar sistemas próprios de geração.
Portanto, esses fatores mostram que o país construiu uma base sólida para expandir o uso de energia renovável e consolidar sua liderança na transição energética.
Brasil antecipa exigências do mercado internacional
A nova regra acompanha o movimento dos maiores mercados do mundo. Por exemplo, União Europeia, Estados Unidos e Japão já aplicam critérios ambientais rigorosos.
Produtos com alta emissão de carbono enfrentam barreiras comerciais ou caem na preferência dos consumidores.
Nesse sentido, ao exigir energia limpa das novas indústrias nas ZPEs, o Brasil se antecipa a essas exigências. Desse modo, o país se posiciona como fornecedor confiável para cadeias produtivas sustentáveis.
Empresas que precisam comprovar a origem limpa da energia que utilizam enxergam o Brasil como parceiro estratégico.
Ademais, a medida atrai setores que exigem grandes volumes de energia limpa, como a produção de fertilizantes verdes, mineração sustentável, siderurgia de baixo carbono e fábricas de componentes para a transição energética.
Além disso, o setor elétrico nacional pode aproveitar a demanda futura para viabilizar novos projetos.
Com contratos de longo prazo e previsibilidade, investidores tendem a acelerar obras e ampliar sua capacidade de geração renovável.
Impactos econômicos e ambientais esperados
A exigência do uso de energia renovável nas ZPEs pode gerar transformações relevantes em várias frentes. Em primeiro lugar, novos empreendimentos de geração criam empregos, movimentam a economia local e fortalecem toda a cadeia do setor elétrico.
Empresas que assumem compromissos ambientais encontram no Brasil condições ideais para crescer.
Com isso, a presença dessas indústrias sustentáveis influencia governos locais e atrai fornecedores que desejam se alinhar à agenda verde.
Por consequência, o setor industrial brasileiro, historicamente intensivo em emissões, dá um passo importante para reduzir sua pegada de carbono.
A eletricidade de origem renovável torna mais fácil atingir metas de descarbonização em setores de difícil conversão, como cimento e aço.
Além do aspecto ambiental, esse movimento também coloca o país em destaque nas negociações climáticas internacionais.
O Brasil, ao adotar normas ambientais progressistas, ganha legitimidade para cobrar compromissos semelhantes de outras nações.
Trâmite legislativo e cenário político
A medida provisória já está em vigor, mas depende da aprovação do Congresso Nacional em até 120 dias para se tornar lei permanente.
Deputados e senadores formam uma comissão mista responsável por analisar o texto e propor emendas, se necessário.
Para tanto, o governo espera contar com o apoio de diferentes bancadas, pois a proposta reúne elementos de políticas regionais, reindustrialização e sustentabilidade.
A articulação com os estados que sediam ZPEs também deve influenciar o debate.
Do ponto de vista empresarial, o setor privado acompanha com atenção as discussões.
Empresas que operam ou planejam atuar em zonas de exportação querem entender com clareza as regras, prazos e instrumentos de acompanhamento da nova exigência energética.
Energia limpa como vantagem competitiva
O Brasil reúne todas as condições naturais para liderar a transição energética global. Com sol, vento, água e biomassa em abundância, o país pode combinar crescimento industrial com responsabilidade ambiental.
Ao exigir o uso de energia renovável nas Zonas de Processamento de Exportação, o governo transforma uma obrigação regulatória em uma vantagem estratégica.
Assim, empresas ganham competitividade internacional, cadeias produtivas se tornam mais verdes e o país fortalece sua reputação como potência climática.
Essa medida representa mais que um requisito legal. Na prática, ela aponta para o futuro da indústria brasileira — um futuro mais limpo, inovador, competitivo e alinhado aos desafios ambientais do século XXI.