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Reforma tributária muda as regras e coloca o setor mineral em ebulição: entenda o impacto bilionário no futuro da mineração

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 03/11/2025 às 14:51
Caminhões de mineração em operação em uma mina a céu aberto, representando a extração mineral impactada pela reforma tributária brasileira.
Caminhões carregam minério em operação de grande escala, símbolo dos desafios que a nova reforma tributária impõe ao setor mineral.
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As mudanças fiscais que entram em vigor em 2026 prometem transformar o cenário da mineração brasileira, reacendendo o debate sobre segurança jurídica e competitividade.

O setor de mineração brasileiro vive, em 2025, um momento de transformação. Enquanto a Reforma Tributária promete simplificação, o país enfrenta uma fase decisiva. Essa nova etapa pode redefinir o equilíbrio entre segurança jurídica e competitividade econômica.

De um lado, a Receita Federal mantém uma interpretação restritiva sobre o uso de créditos de PIS/Cofins em pesquisas minerais sem retorno econômico direto. De outro, a Reforma Tributária, aprovada em 2023 e com início previsto para 2026, inaugura um novo ciclo fiscal. Essa mudança cria o imposto seletivo sobre a extração mineral, um tributo que já preocupa o setor.

Entenda o impasse sobre créditos e coerência econômica

A discussão sobre os créditos tributários de PIS/Cofins vai além do campo técnico. Ela expõe o grau de coerência e previsibilidade do sistema fiscal brasileiro. Afinal, negar o crédito em pesquisas consideradas “infrutíferas” ignora um ponto essencial: a pesquisa é parte obrigatória da mineração.

Para obter a Portaria de Lavra, título necessário à exploração, as mineradoras precisam investir em sondagens e estudos prévios. Mesmo que o resultado não gere lucro imediato, esses gastos são etapas integrantes da atividade produtiva. Em 2018, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Tema 779, reconheceu que o conceito de insumo deve considerar essencialidade e relevância.

Negar esse direito significa punir a pesquisa e desestimular o investimento. Por isso, em 2024, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) reconheceu o direito das mineradoras ao crédito. Essa decisão fortaleceu a coerência jurídica e econômica do setor.

Reforma tributária e o novo ciclo fiscal da mineração

Com a Reforma Tributária do consumo prevista para 2026, o setor mineral enfrenta novos desafios. Além da transição entre ICMS/ISS e IBS/CBS, surge o imposto seletivo sobre a mineração, com alíquota de 0,25%. Esse novo tributo adiciona custos às operações.

O imposto é cumulativo e não gera créditos compensáveis, o que rompe o princípio da neutralidade econômica. Consequentemente, toda a cadeia produtiva — da extração à metalurgia — será impactada. Até 2033, está prevista também a eliminação gradual dos incentivos fiscais estaduais. Isso exigirá grandes investimentos em compliance, automação e governança tributária.

De acordo com analistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas mudanças podem aumentar custos, reduzir competitividade e diminuir a atratividade do Brasil frente a outros países mineradores.

Simplificação ou desequilíbrio? O risco da tributação linear

Embora a Reforma Tributária prometa simplificação, há risco de desequilíbrio setorial. A mineração é uma atividade intensiva em capital e depende de ciclos longos de retorno. Além disso, sofre influência da volatilidade cambial e das flutuações dos preços internacionais das commodities.

Aplicar um modelo fiscal uniforme, sem considerar as particularidades do setor, pode gerar descompasso entre arrecadação e competitividade. Também pode aumentar desigualdades regionais e enfraquecer a sustentabilidade do setor mineral.

Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o setor movimentou R$ 339 bilhões em 2024, representando 2,4% do PIB nacional e mais de 200 mil empregos diretos. Por isso, a falta de previsibilidade fiscal ameaça o crescimento sustentável e reduz o interesse de investidores estrangeiros.

Segurança jurídica e previsibilidade: pilares da sustentabilidade

Mais do que uma disputa entre créditos e alíquotas, o tema central é o modelo de governança fiscal do país. Um sistema coerente e estável é essencial para garantir confiança empresarial e sustentabilidade de longo prazo.

De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil está entre os dez maiores produtores de minérios do mundo. O país é referência global em ferro, ouro, nióbio e bauxita. Para manter essa posição, o Estado precisa reconhecer a pesquisa mineral como investimento essencial, e não como despesa eventual.

Assim, um sistema tributário moderno deve incentivar a inovação, estimular a eficiência e reforçar a competitividade internacional. Isso garante que a mineração continue sendo um pilar de soberania econômica e desenvolvimento nacional.

Diante desse cenário de incertezas, a grande questão permanece: o Brasil conseguirá equilibrar arrecadação, segurança jurídica e competitividade antes da chegada do novo sistema em 2026?

Por: Marco Antônio Ruzene, doutor e especialista em direito tributário e sócio do Ruzene Sociedade de Advogados

Marco Antônio Ruzene, doutor e especialista em direito tributário e sócio do Ruzene Sociedade de Advogados

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Caio Aviz

Escrevo sobre o mercado offshore, petróleo e gás, vagas de emprego, energias renováveis, mineração, economia, inovação e curiosidades, tecnologia, geopolítica, governo, entre outros temas. Buscando sempre atualizações diárias e assuntos relevantes, exponho um conteúdo rico, considerável e significativo. Para sugestões de pauta e feedbacks, faça contato no e-mail: avizzcaio12@gmail.com.

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