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Reforma Administrativa ameaça sistema de registros que colocou o Brasil como referência internacional em segurança jurídica e eficiência pública?

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 08/10/2025 às 13:23
Reforma Administrativa reacende alerta sobre o futuro dos registros públicos e o modelo de delegação que fez do Brasil referência em segurança jurídica.
Reforma Administrativa reacende alerta sobre o futuro dos registros públicos e o modelo de delegação que fez do Brasil referência em segurança jurídica.
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Modelo de delegação dos cartórios brasileiros é considerado exemplo mundial de eficiência e segurança jurídica, mas especialistas alertam que mudanças na Reforma Administrativa podem ameaçar avanços conquistados desde a Constituição de 1988.

O modelo brasileiro de delegação por concurso público dos serviços notariais e de Registro de Imóveis está no centro do debate da Reforma Administrativa no Congresso.

Especialistas do setor defendem que a estrutura atual, prevista na Constituição, combina eficiência, custo zero ao Estado e segurança jurídica, atributos que ajudaram a posicionar o país como referência na prestação extrajudicial.

Avaliações internas alertam, porém, que mudanças mal calibradas — especialmente no sentido de estatização — podem afetar a confiança do público e comprometer direitos como propriedade e moradia.

Como funciona a delegação e por que ela importa

Desde a Constituição de 1988, os serviços notariais e registrais são delegados a particulares aprovados em concurso público, que assumem a responsabilidade pela gestão e pela qualidade do atendimento sob fiscalização do Poder Judiciário.

Na prática, o delegatário opera por sua conta e risco, remunera a equipe com a receita de emolumentos e responde por metas e padrões técnicos, sem onerar o orçamento público.

Para o setor, essa configuração rompeu com o antigo modelo hereditário, introduziu critérios de mérito e profissionalizou a atividade.

Segundo o conselheiro da Associação dos Registradores Imobiliários de São Paulo (Arisp), Leandro Meireles, a adoção do concurso foi decisiva para elevar o nível do serviço.

“A delegação por concurso público trouxe profissionalismo, transparência e agilidade ao serviço extrajudicial”, afirma.

Na avaliação dele, a combinação de autonomia com controle jurisdicional sustenta previsibilidade, lisura e qualidade no atendimento.

Impactos na eficiência e no atendimento ao público

Ao longo das últimas décadas, registradores investiram em infraestrutura, capacitação de equipes e digitalização de processos.

Essa agenda, dizem os defensores do modelo, reduziu burocracia, encurtou prazos e ampliou a confiança dos usuários, que hoje acessam serviços antes restritos ao Judiciário.

A lógica é simples: com gestão direta do delegatário e supervisão judicial, há incentivo para inovar e responder a demandas locais sem travas administrativas típicas da máquina estatal.

Nesse ponto, Meireles destaca a experiência cotidiana das unidades delegadas.

Segundo ele, o público percebeu ganhos concretos em celeridade, qualidade e confiabilidade.

“Com delegatários aprovados em concurso público e submetidos a controle jurisdicional, o sistema consegue equilibrar autonomia e responsabilidade”, resume.

Avanços e padronização: a atuação da Arisp

A Arisp tem coordenado iniciativas para reforçar a padronização, a transparência e a formação continuada.

A entidade mantém a Uniregistral, universidade corporativa que oferece cursos para registradores e colaboradores, e desenvolve soluções digitais como emissão de certidões eletrônicas, visualização online de matrículas e pesquisa de bens.

Há, ainda, a Comissão de Enunciados, que publica interpretações que servem de referência para registradores, advogados e magistrados, buscando uniformidade de entendimentos em temas sensíveis.

A infraestrutura tecnológica inclui o uso de certificados digitais por meio da Autoridade Registral AR-Arisp, o que dá respaldo à autenticidade de documentos eletrônicos e fortalece a validade jurídica de atos praticados em ambiente digital.

Na visão do setor, esses elementos compõem um ciclo de melhoria contínua, em linha com a demanda do público por serviços mais rápidos e seguros.

Custo zero ao Estado e retorno fiscal

Um dos argumentos centrais a favor da manutenção do modelo é o impacto orçamentário.

Diferentemente da prestação direta, a delegação não depende de dotação pública para custear pessoal e operação, pois a remuneração provém dos emolumentos.

Parte dessa receita se converte em tributos e repasses, compondo retorno fiscal.

Para Meireles, essa equação sustenta a sustentabilidade do sistema, sem transferir custos para o contribuinte.

Interinidade expõe fragilidades quando o Estado assume

Apesar dos avanços, o setor reconhece vulnerabilidades, sobretudo em situações de interinidade — quando a serventia está vaga e um gestor provisório assume.

Nesses casos, a administração fica sujeita a limites para contratações, reajustes e investimentos, muitas vezes condicionados a autorização judicial.

Meireles avalia que essas restrições podem reduzir a capacidade de resposta a picos de demanda e frear decisões necessárias ao bom funcionamento do serviço.

Para mitigar efeitos, ele defende que a interinidade preserve margens de gestão, sempre com controle judicial.

Experiências históricas de oficialização estatal também são citadas por registradores como ilustrativas de desafios práticos.

Relatos de filas, senhas limitadas e longas esperas aparecem como sintomas de rigidez administrativa, baixa flexibilidade e escassez de recursos humanos, com impacto direto no cidadão.

Reconhecimento internacional e marco normativo

A comunidade internacional acompanha o modelo brasileiro com interesse, especialmente por seu desenho institucional e pelos resultados em segurança jurídica.

No plano normativo, destaca-se a adoção, pelo Conselho Nacional de Justiça, de regras para execução da Apostila da Haia, que facilita o reconhecimento de documentos no exterior e é apontada como exemplo de integração de cartórios brasileiros a padrões globais.

Segundo o setor, delegações estrangeiras já buscaram conhecer de perto a estrutura nacional de registros, o que reforça a percepção de referência regional.

O que está em jogo na Reforma Administrativa

O debate em torno da Reforma Administrativa reacende dúvidas sobre o futuro do arranjo institucional dos cartórios.

Propostas que indiquem estatização ou que reduzam a autonomia dos delegatários são vistas por registradores como risco de retrocesso institucional, com potencial para afetar a fé pública, a previsibilidade dos atos e a proteção de direitos.

Meireles afirma que qualquer alteração deve observar critérios claros, transparência e respeito a direitos adquiridos, para não fragilizar a credibilidade do sistema.

Do outro lado, quem defende ajustes estruturais costuma apontar necessidade de ampliar a cobertura em áreas com baixa oferta de serviços, aperfeiçoar mecanismos de transição nas vacâncias e intensificar metas de desempenho, sem perder de vista a responsabilidade social.

Nesse ponto, há espaço de convergência: o setor reconhece que há melhorias a fazer, sobretudo na digitalização integral de fluxos, na capacitação contínua e na uniformização de procedimentos em todos os Estados.

Caminhos de aperfeiçoamento sem desmontar o modelo

A leitura predominante entre registradores é que o caminho mais seguro passa por aperfeiçoar o que já funciona.

Entre as prioridades, citam-se a expansão de serviços digitais com interoperabilidade nacional, o fortalecimento de plataformas de autenticação eletrônica, a formação técnica permanente e a melhoria dos protocolos para gestão de serventias vagas, evitando descontinuidade do atendimento.

O objetivo, afirmam, é modernizar sem romper os pilares de concorrência, mérito, delegação e fiscalização judicial que estruturam a área desde 1988.

Diante do debate legislativo em curso, a questão central para a sociedade não é apenas “se” mudar, mas “como” fazê-lo, preservando o que entrega resultados e corrigindo gargalos comprovados.

Em um serviço que sustenta transações imobiliárias, crédito, garantia de propriedade e regularização fundiária, a manutenção da segurança jurídica aparece como fio condutor de qualquer ajuste.

Se a Reforma Administrativa avançar, quais salvaguardas deveriam ser explicitadas em lei para garantir eficiência, previsibilidade e proteção de direitos sem abrir espaço para retrocessos?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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