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Concreto romano: receita de 2 mil anos desafia engenheiros modernos — e levanta dúvidas sobre impacto ambiental

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 03/08/2025 às 00:40
Concreto romano: receita de 2 mil anos desafia engenheiros modernos — e levanta dúvidas sobre impacto ambiental
Foto: Reprodução
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Pesquisadores investigaram se a antiga receita de concreto usada pelos romanos poderia ajudar a tornar a construção civil mais sustentável no mundo atual.

O concreto romano continua impressionando engenheiros e pesquisadores. Mesmo após dois mil anos, estruturas como aquedutos, pontes e edifícios resistem ao tempo.

Esse desempenho chamou a atenção de cientistas, que decidiram investigar se retomar a receita antiga poderia ajudar na construção sustentável atual.

Em um estudo publicado na revista iScience, pesquisadores compararam as fórmulas romanas com as práticas modernas.

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Eles queriam entender se a durabilidade do material poderia compensar as altas emissões e consumo de energia da indústria da construção.

Receita antiga, desafios modernos

A base do concreto, em ambas as versões, é o calcário. Quando aquecido a temperaturas elevadas, ele se transforma em óxido de cálcio e libera CO₂. Esse processo serve para criar a pasta que une os elementos da mistura. O mais importante é que, apesar de usarem o mesmo ingrediente, os romanos seguiam uma lógica diferente.

Eles adicionavam pozolana — um detrito vulcânico — e até restos de demolições. Já o concreto moderno mistura cimento com areia e cascalho. Com essas diferenças, os cientistas quiseram testar os impactos ambientais de cada método.

Daniela Martinez, engenheira da Universidad del Norte, na Colômbia, explica o objetivo do estudo: “Queríamos aprender com os romanos e ver se suas técnicas poderiam ajudar a reduzir os danos ambientais do nosso setor de construção.”

Modelagem revela surpresas

Os pesquisadores criaram modelos que simulam o volume de água, calcário e energia usados para produzir cada tipo de concreto. Além disso, mediram as emissões de CO₂ e outros poluentes associados à produção.

A surpresa veio com os resultados. A produção do concreto romano, em vários casos, emitiu quantidades iguais ou até maiores de CO₂ do que o concreto atual. Ou seja, a antiga receita não é automaticamente mais limpa, como se imaginava.

Segundo Martinez, “esperávamos encontrar uma alternativa mais sustentável, mas descobrimos que só mudar a fórmula não resolve tudo. É preciso repensar também a fonte de energia dos fornos.”

Biomassa e energia renovável fazem a diferença

O estudo também comparou os efeitos do uso de diferentes fontes de energia para aquecer o calcário. O uso de biomassa, madeira e fontes renováveis teve impacto positivo, reduzindo a poluição atmosférica. Poluentes como óxidos de nitrogênio e enxofre, que afetam diretamente a saúde humana, caíram até 98% dependendo da fonte energética usada.

Portanto, embora o concreto romano não gere uma vantagem direta em termos de CO₂, ele ainda pode trazer benefícios ambientais por emitir menos poluentes tóxicos durante a produção.

Aposta na durabilidade

Outro ponto central do estudo é a durabilidade. Estruturas romanas sobreviveram por séculos sem grandes reparos. Já as construções modernas exigem manutenções constantes, especialmente em rodovias e obras de grande uso.

“Quando pensamos na vida útil do material, os romanos ainda têm muito a ensinar”, afirma Martinez. “Um concreto que dura mais pode diminuir a necessidade de reconstrução, o que significa menos emissões ao longo do tempo.”

Sabbie Miller, da Universidade da Califórnia, concorda. Para ela, a verdadeira vantagem da receita antiga está na resistência. Se aplicada corretamente, ela poderia reduzir o impacto ambiental, mesmo com emissões iniciais parecidas.

Limites na comparação

Apesar disso, os próprios autores alertam para os limites dessa comparação. O concreto moderno é reforçado com barras de aço, algo que os romanos não usavam. Isso torna o material atual mais suscetível à corrosão, um dos principais motivos da deterioração.

Paulo Monteiro, da Universidade da Califórnia, destaca: “É preciso ter cuidado ao comparar os dois tipos. As estruturas antigas não enfrentavam os mesmos desafios que enfrentamos hoje, como a corrosão de armaduras metálicas.”

Próximos passos

O grupo planeja novos estudos para entender melhor como a mistura romana pode se comportar em obras modernas. Eles querem testar cenários diferentes e avaliar se a durabilidade pode mesmo compensar os custos ambientais iniciais.

“Se conseguirmos unir as técnicas romanas com a tecnologia moderna, podemos criar construções mais eficientes e sustentáveis”, conclui Martinez.

A pesquisa abre caminho para novas soluções na engenharia civil. O concreto romano não é uma solução mágica, mas pode inspirar estratégias mais duráveis e menos agressivas ao meio ambiente.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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