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Reatores nucleares do tamanho de contêineres estão ganhando espaço e mostram que não é mais preciso construir megaprojetos

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 02/08/2025 às 12:04
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A nova tendência da energia nuclear cabe em um caminhão e pode abastecer cidades inteiras, entenda como funciona

A nova geração de reatores nucleares está tomando forma em escala reduzida, mas com ambições globais. Enquanto a China avança com o Linglong-1 e a Rússia aposta no RITM-200 em modelos navais e terrestres, os pequenos reatores modulares — conhecidos pela sigla SMR, de small modular reactors — prometem remodelar o setor energético nas próximas décadas. Segundo estimativas do instituto britânico New Nuclear Watch Institute (NNWI), apenas China e Rússia podem dominar cerca de 40% do mercado global desses reatores até 2050.

Esse avanço representa uma virada estratégica para a energia nuclear, com promessas de menores custos, maior segurança e impacto ambiental reduzido. Ao mesmo tempo, esses reatores oferecem soluções para regiões remotas, centros industriais e até grandes data centers movidos por inteligência artificial.

Reatores compactos, impacto global

Diferente das usinas nucleares tradicionais, os SMRs são projetados para serem fabricados em módulos padronizados, transportados prontos para montagem no local de operação. Essa inovação não apenas reduz os prazos e os custos de instalação, como também facilita a adaptação da tecnologia a diferentes usos — da geração elétrica à dessalinização da água do mar ou produção de hidrogênio.

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Segundo William D. Magwood, diretor da Agência de Energia Nuclear da OCDE, os SMRs têm potencial para revolucionar o setor. “Eles exigem menos espaço físico, têm menor pegada ambiental e consomem menos água, algo essencial para muitos países em crise hídrica”, afirmou em entrevista à revista DEF.

O SMR chinês, instalado na província de Hainan, terá uma potência instalada de 125 megawatts.

O avanço chinês: Linglong-1 e a Nova Rota da Seda

A China deu um passo decisivo em abril com o início dos testes da bomba principal do ACP100 — o primeiro SMR chinês de água pressurizada, também conhecido como Linglong-1. Instalado na ilha de Hainan, o reator tem capacidade de 125 megawatts e faz parte do plano quinquenal chinês iniciado em 2021. A previsão é que esteja totalmente operacional até 2027.

Além de gerar eletricidade, a CNNC (Corporação Nuclear Nacional da China) planeja usar o Linglong-1 para aquecimento urbano, dessalinização e geração de vapor industrial. O NNWI prevê que esse modelo represente até 15% do mercado global de SMRs até 2050, impulsionado principalmente pela Belt and Road Initiative — a nova Rota da Seda —, que facilita a exportação de infraestrutura energética chinesa para dezenas de países na Ásia, África e América Latina.

Rússia aposta em mobilidade e energia para o Ártico

Desde 2019, a Rússia opera sua primeira usina nuclear flutuante, a Akademik Lomonosov, ancorada no porto de Pevek, no leste da Sibéria. A embarcação conta com dois reatores KLT-40S de 35 MW cada, fornecendo eletricidade e calor à remota região de Chukotka. A usina também apoia a estratégia russa de desenvolver a Rota Marítima do Norte, um corredor logístico que pode substituir parcialmente o Canal de Suez.

Mas o maior trunfo russo está no RITM-200, um reator de água pressurizada com 175 MW de potência, originalmente projetado para propulsão naval, especialmente para os novos quebra-gelos nucleares do país. A versão terrestre, o RITM-200N, está sendo construída na península de Yakútia, com capacidade de 190 MW. Além disso, a Rússia já confirmou a exportação de seis unidades menores (55 MW cada) para a usina de Jizzakh, no Uzbequistão. O NNWI calcula que os SMRs russos devem conquistar cerca de 18% do mercado global até 2050.

A versão terrestre do pequeno reator modular russo RITM-200 terá uma potência de 190 megawatts e será instalada na península de Yakútia, na Sibéria.

EUA tentam recuperar protagonismo com foco em data centers e IA

Do outro lado do mundo, os Estados Unidos lutam para não perder espaço para seus dois principais rivais geopolíticos. A NuScale Power é até agora a única empresa americana com um SMR certificado pela Comissão Reguladora Nuclear (NRC). Seu modelo, baseado em reatores de água pressurizada, produz até 77 MW e pode ser aplicado em diversas funções — da produção de hidrogênio ao fornecimento de energia para hyperscalers, os gigantescos centros de dados ligados à inteligência artificial e blockchain.

Outra iniciativa promissora vem da X-energy, com o modelo X-e 100, um reator de alta temperatura refrigerado a gás. Com potência inicial de 80 MW e possibilidade de expansão modular para até 320 MW, esse projeto atraiu o interesse da Amazon Web Services, que investiu US$ 500 milhões para o desenvolvimento de uma planta em Washington. Além disso, a X-energy e a petroquímica Dow solicitaram permissão à NRC para construir uma unidade no Texas.

Europa acelera com apoio estatal

Fora do trio China-Rússia-EUA, outros países começam a apostar nos SMRs. O Canadá aprovou a construção do projeto BWRX-300 da Hitachi-GE Vernova, que será implementado na província de Ontário. Já no Reino Unido, a Rolls-Royce obteve sinal verde do governo para desenvolver seus próprios reatores modulares, em uma tentativa de revitalizar sua indústria nuclear.

Na França, a EDF avança com o projeto Nuward, que integra o programa “France 2030”, lançado pelo presidente Emmanuel Macron para reforçar a soberania energética do país e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.

Um novo mapa da energia global

Os pequenos reatores modulares estão prestes a redesenhar o mapa geopolítico da energia. Com aplicações flexíveis, menor impacto ambiental e capacidade de abastecer desde regiões remotas até grandes centros digitais, os SMRs devem ocupar papel estratégico nas próximas décadas.

Enquanto a China usa sua capacidade industrial para ganhar escala, e a Rússia aposta na logística do Ártico e exportações regionais, os Estados Unidos investem na aliança com o setor privado. A corrida está lançada — e o futuro da energia pode estar, literalmente, em menor escala.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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