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Gigante africano no Brasil: Raça Boran, parente do Nelore, traz rusticidade africana, bezerros pesados, ganho rápido de peso e carne de qualidade diferenciada

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 20/09/2025 às 23:04
Raça Boran chega ao Brasil com rusticidade africana, desmama bezerros pesados, resiste a doenças tropicais e promete carne nobre com alto marmoreio.
Raça Boran chega ao Brasil com rusticidade africana, desmama bezerros pesados, resiste a doenças tropicais e promete carne nobre com alto marmoreio.
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Raça Boran chega ao Brasil após importação inédita, promete resistência ao calor, fertilidade elevada, bezerros pesados e carne marmorizada de qualidade premium

A pecuária de corte brasileira busca constantemente novas alternativas genéticas que combinem rusticidade, adaptação ao clima tropical e produtividade. A raça Boran, originária da África Oriental, chegou ao Brasil no mês de junho com expectativas de transformar parte do rebanho nacional e ampliar as opções para os criadores.

Primeiros passos no Brasil

O Boran despertou curiosidade em pecuaristas brasileiros por sua semelhança com o Nelore e por características valorizadas em sistemas tropicais.

A introdução da raça no país ocorreu por meio do Paraguai, que viabilizou a importação dos primeiros embriões.

Uma reportagem da Record Brasília mostrou que dois dos primeiros criadores nacionais a receber esse material genético atuam no entorno do Distrito Federal.

Em uma fazenda localizada a 100 km de Brasília, o trabalho começou com receptoras resultantes do cruzamento entre Sindi e Nelore.

O cruzamento favorece boa aptidão leiteira, temperamento dócil e maior índice de prenhez. Isso facilita a criação de bezerros de qualidade e fortalece a base para os embriões da raça Boran.

Da pesquisa à inseminação

Diego Mendes, quarta geração de pecuaristas, conheceu o Boran no ano 2000.

O interesse surgiu pelas vantagens: resistência a climas extremos, fertilidade elevada, ganho de peso eficiente e carne de alta qualidade.

Determinando em trazer essa genética, ele viajou para a Austrália e depois para a África do Sul, onde acompanhou o desenvolvimento do rebanho local.

Em 2010, deu entrada no primeiro pedido de importação, mas questões burocráticas impediram o avanço.

Somente 15 anos depois, os embriões chegaram à fazenda.

Veterinários paraguaios trouxeram 108 embriões, dos quais 27 foram transferidos para receptoras preparadas.

O diagnóstico de gestação será realizado 28 dias após a inseminação, e os primeiros bezerros devem nascer no primeiro semestre de 2026.

O planejamento considera as condições do Centro-Oeste, especialmente o período de seca.

Os pecuaristas acreditam que os animais terão bom desempenho desde o nascimento até o acabamento final para frigoríficos.

Segundo os criadores, a introdução da raça representa um marco inédito no país e reforça a busca por carne nobre e de qualidade diferenciada.

Características econômicas do Boran

Os produtores destacam que as vacas Boran conseguem desmamar bezerros com até 50% ou mais de seu próprio peso, índice considerado altamente eficiente.

Além disso, a carne apresenta acabamento superior de gordura e marmoreio, atributos valorizados pelo mercado.

A expectativa é que a genética traga ganhos de produtividade, maior rentabilidade por hectare e diversificação do rebanho nacional, especialmente em regiões que enfrentam estresse térmico e pastagens limitadas.

O papel do Paraguai

Após dois anos de articulação entre criadores e órgãos reguladores, o Paraguai concretizou a primeira exportação de embriões Boran para o Brasil.

A operação envolveu 174 unidades e contou com apoio do Senacsa, da Associação Rural do Paraguai e de empresas de biotecnologia reprodutiva.

A Boran Paraguay, responsável pela exportação, comemorou o feito em suas redes sociais.

A empresa classificou o momento como histórico, destacando o esforço de pioneiros como Jacob Brits, Manfred Hieber, Jorge Brixner, Horst Escher e Edwin Peter.

Segundo a nota, a Fazenda Gerani atua como núcleo genético da raça no Paraguai, sendo peça fundamental para consolidar o país como exportador de material genético de alto valor.

Origem da raça Boran

A raça Boran nasceu no leste da África, em países como Etiópia, Quênia e Somália.

É considerada uma raça zebuína (Bos indicus) e tem sido criada há séculos por povos nômades africanos. Sua consolidação como raça pura remonta a mais de 1.300 anos.

A seleção natural em ambientes áridos, com alta temperatura e escassez de alimento, moldou um gado extremamente rústico e adaptado às condições tropicais.

Características físicas

O Boran apresenta porte médio, mas com grande eficiência produtiva. As fêmeas pesam entre 380 e 450 kg, enquanto os machos podem atingir de 600 a 850 kg em condições de criação tradicionais.

A pelagem é geralmente clara, branca ou bege, embora também existam animais com tons acinzentados ou avermelhados. Essa cor clara ajuda na tolerância ao calor. Os chifres são curtos e bem implantados, e a corcova é presente, mas menos pronunciada do que em raças como o Nelore.

Outro destaque é a boa conformação de carcaça, que garante rendimento superior e cortes valorizados.

Resistência e rusticidade

O Boran se diferencia por suportar altas temperaturas e longos períodos de seca sem comprometer sua produtividade. É resistente a doenças tropicais, incluindo a tristeza parasitária e a infestação de carrapatos.

Além disso, as vacas são reconhecidas pela habilidade materna: produzem leite suficiente para bezerros fortes, que desmamam pesados e saudáveis.

Outro fator importante é a longevidade, já que permanecem férteis e produtivas por muitos anos.

Diferente de outras raças zebuínas, o Boran apresenta carne com bom acabamento de gordura e marmoreio, atributos que atendem à demanda por cortes nobres.

Isso reforça o potencial da raça para atender tanto o mercado interno quanto as exportações de carne premium.

Potencial no Brasil

A chegada da raça abre espaço para novos cruzamentos, especialmente com o Nelore, dominante no Brasil. A proposta é somar a rusticidade africana às características já consolidadas do zebu nacional.

No Centro-Oeste e no Nordeste, onde o estresse térmico e a baixa qualidade das pastagens são desafios permanentes, o Boran pode representar um reforço estratégico.

Os criadores envolvidos no processo acreditam que essa genética complementará a pecuária brasileira e ajudará a manter o país na liderança mundial da carne bovina.

No Brasil, a aposta é que a raça não substitua o Nelore, mas se torne uma importante aliada na diversificação do rebanho.

O trabalho de multiplicação deve se expandir nos próximos anos, levando a genética para diferentes regiões.

Com o início do ciclo produtivo previsto para 2026, o país aguarda os primeiros bezerros da raça Boran.

A expectativa é alta, e os produtores acreditam que o Brasil pode mais uma vez assumir protagonismo na pecuária mundial, agora com a contribuição dessa genética africana.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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