Raça Boran chega ao Brasil após importação inédita, promete resistência ao calor, fertilidade elevada, bezerros pesados e carne marmorizada de qualidade premium
A pecuária de corte brasileira busca constantemente novas alternativas genéticas que combinem rusticidade, adaptação ao clima tropical e produtividade. A raça Boran, originária da África Oriental, chegou ao Brasil no mês de junho com expectativas de transformar parte do rebanho nacional e ampliar as opções para os criadores.
Primeiros passos no Brasil
O Boran despertou curiosidade em pecuaristas brasileiros por sua semelhança com o Nelore e por características valorizadas em sistemas tropicais.
A introdução da raça no país ocorreu por meio do Paraguai, que viabilizou a importação dos primeiros embriões.
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Uma reportagem da Record Brasília mostrou que dois dos primeiros criadores nacionais a receber esse material genético atuam no entorno do Distrito Federal.
Em uma fazenda localizada a 100 km de Brasília, o trabalho começou com receptoras resultantes do cruzamento entre Sindi e Nelore.
O cruzamento favorece boa aptidão leiteira, temperamento dócil e maior índice de prenhez. Isso facilita a criação de bezerros de qualidade e fortalece a base para os embriões da raça Boran.
Da pesquisa à inseminação
Diego Mendes, quarta geração de pecuaristas, conheceu o Boran no ano 2000.
O interesse surgiu pelas vantagens: resistência a climas extremos, fertilidade elevada, ganho de peso eficiente e carne de alta qualidade.
Determinando em trazer essa genética, ele viajou para a Austrália e depois para a África do Sul, onde acompanhou o desenvolvimento do rebanho local.
Em 2010, deu entrada no primeiro pedido de importação, mas questões burocráticas impediram o avanço.
Somente 15 anos depois, os embriões chegaram à fazenda.
Veterinários paraguaios trouxeram 108 embriões, dos quais 27 foram transferidos para receptoras preparadas.
O diagnóstico de gestação será realizado 28 dias após a inseminação, e os primeiros bezerros devem nascer no primeiro semestre de 2026.
O planejamento considera as condições do Centro-Oeste, especialmente o período de seca.
Os pecuaristas acreditam que os animais terão bom desempenho desde o nascimento até o acabamento final para frigoríficos.
Segundo os criadores, a introdução da raça representa um marco inédito no país e reforça a busca por carne nobre e de qualidade diferenciada.
Características econômicas do Boran
Os produtores destacam que as vacas Boran conseguem desmamar bezerros com até 50% ou mais de seu próprio peso, índice considerado altamente eficiente.
Além disso, a carne apresenta acabamento superior de gordura e marmoreio, atributos valorizados pelo mercado.
A expectativa é que a genética traga ganhos de produtividade, maior rentabilidade por hectare e diversificação do rebanho nacional, especialmente em regiões que enfrentam estresse térmico e pastagens limitadas.
O papel do Paraguai
Após dois anos de articulação entre criadores e órgãos reguladores, o Paraguai concretizou a primeira exportação de embriões Boran para o Brasil.
A operação envolveu 174 unidades e contou com apoio do Senacsa, da Associação Rural do Paraguai e de empresas de biotecnologia reprodutiva.
A Boran Paraguay, responsável pela exportação, comemorou o feito em suas redes sociais.
A empresa classificou o momento como histórico, destacando o esforço de pioneiros como Jacob Brits, Manfred Hieber, Jorge Brixner, Horst Escher e Edwin Peter.
Segundo a nota, a Fazenda Gerani atua como núcleo genético da raça no Paraguai, sendo peça fundamental para consolidar o país como exportador de material genético de alto valor.
Origem da raça Boran
A raça Boran nasceu no leste da África, em países como Etiópia, Quênia e Somália.
É considerada uma raça zebuína (Bos indicus) e tem sido criada há séculos por povos nômades africanos. Sua consolidação como raça pura remonta a mais de 1.300 anos.
A seleção natural em ambientes áridos, com alta temperatura e escassez de alimento, moldou um gado extremamente rústico e adaptado às condições tropicais.
Características físicas
O Boran apresenta porte médio, mas com grande eficiência produtiva. As fêmeas pesam entre 380 e 450 kg, enquanto os machos podem atingir de 600 a 850 kg em condições de criação tradicionais.
A pelagem é geralmente clara, branca ou bege, embora também existam animais com tons acinzentados ou avermelhados. Essa cor clara ajuda na tolerância ao calor. Os chifres são curtos e bem implantados, e a corcova é presente, mas menos pronunciada do que em raças como o Nelore.
Outro destaque é a boa conformação de carcaça, que garante rendimento superior e cortes valorizados.
Resistência e rusticidade
O Boran se diferencia por suportar altas temperaturas e longos períodos de seca sem comprometer sua produtividade. É resistente a doenças tropicais, incluindo a tristeza parasitária e a infestação de carrapatos.
Além disso, as vacas são reconhecidas pela habilidade materna: produzem leite suficiente para bezerros fortes, que desmamam pesados e saudáveis.
Outro fator importante é a longevidade, já que permanecem férteis e produtivas por muitos anos.
Diferente de outras raças zebuínas, o Boran apresenta carne com bom acabamento de gordura e marmoreio, atributos que atendem à demanda por cortes nobres.
Isso reforça o potencial da raça para atender tanto o mercado interno quanto as exportações de carne premium.
Potencial no Brasil
A chegada da raça abre espaço para novos cruzamentos, especialmente com o Nelore, dominante no Brasil. A proposta é somar a rusticidade africana às características já consolidadas do zebu nacional.
No Centro-Oeste e no Nordeste, onde o estresse térmico e a baixa qualidade das pastagens são desafios permanentes, o Boran pode representar um reforço estratégico.
Os criadores envolvidos no processo acreditam que essa genética complementará a pecuária brasileira e ajudará a manter o país na liderança mundial da carne bovina.
No Brasil, a aposta é que a raça não substitua o Nelore, mas se torne uma importante aliada na diversificação do rebanho.
O trabalho de multiplicação deve se expandir nos próximos anos, levando a genética para diferentes regiões.
Com o início do ciclo produtivo previsto para 2026, o país aguarda os primeiros bezerros da raça Boran.
A expectativa é alta, e os produtores acreditam que o Brasil pode mais uma vez assumir protagonismo na pecuária mundial, agora com a contribuição dessa genética africana.