O túnel entre Santos e Guarujá usará uma técnica inédita no Brasil, com blocos de concreto que flutuam e depois são afundados. A obra promete encurtar a viagem entre as duas cidades e aliviar o tráfego no Porto de Santos.
O projeto que promete encurtar a travessia entre Santos e Guarujá a cerca de 2 a 3 minutos dá um passo decisivo nesta sexta-feira (05), quando a B3 realiza o leilão que definirá quem vai construir e operar o primeiro túnel submerso do Brasil.
Disputam o certame dois grupos estrangeiros: Acciona (Espanha) e Mota-Engil (Portugal), esta última com capital da chinesa CCCC, responsável pelo túnel sob o lago Taihu, na China.
Como funciona o túnel imerso
Em vez de escavar o subsolo do estuário, o empreendimento adotará o método de túnel imerso. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, os elementos de concreto armado são construídos em doca seca, recebem vedação temporária e passam a flutuar.
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Rebocados até o ponto definido no canal, são então afundados por meio de lastreamento controlado e alinhados no leito previamente preparado.
Na sequência, as juntas são conectadas com auxílio de macacos hidráulicos, retiram-se as vedações internas e inicia-se o acabamento. Por fim, todo o conjunto é coberto por pedras para proteção.
Leilão e modelo de concessão
A licitação prevê parceria público-privada, com concessão de 30 anos para construção, operação e manutenção.
O vencedor oferecerá o maior desconto na contraprestação pública ao longo do contrato e poderá cobrar pedágio dos veículos.
O edital foi reestruturado ao longo de 2025 para ampliar a atratividade e consolidar o cronograma.
Traçado e capacidade do túnel
A ligação terá 1,5 quilômetro de extensão, dos quais 870 metros correspondem ao trecho submerso sob o estuário.
O desenho atual prevê duas faixas por sentido para veículos, corredor exclusivo para o VLT e acessos para pedestres e ciclistas.
A travessia, hoje feita por balsas que disputam espaço com navios cargueiros do Porto de Santos, passará a ocorrer em poucos minutos, reduzindo filas e liberando o canal para a navegação comercial.
Por que túnel e não ponte
Os estudos geotécnicos indicam instabilidade do subsolo da região para um túnel escavado de grande diâmetro.
Já a hipótese de uma ponte foi descartada por restrições aeronáuticas da Base Aérea de Santos e pela altura dos navios que utilizam o canal, o que exigiria vãos e gabaritos incompatíveis com a operação portuária.
O método imerso permite manter o calado operacional e reduzir interferências sobre a logística marítima.
Custos e cronograma da obra
O valor de referência do projeto foi atualizado para R$ 6,8 bilhões. Do total, até R$ 5,1 bilhões virão de aportes públicos divididos, em partes iguais, entre a União e o Governo de São Paulo.
A diferença caberá à futura concessionária.
A previsão oficial é iniciar as obras em 2026 e concluir a execução em cerca de cinco anos, contados a partir do começo dos trabalhos, condicionado à contratação e às etapas de licenciamento e engenharia de detalhe.
Viagens técnicas para transferência de conhecimento
Como a tecnologia nunca foi aplicada no Brasil, autoridades buscaram referências em obras no exterior.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o governador Tarcísio de Freitas fizeram agendas na Europa para conhecer processos de fabricação dos elementos, logística de reboque e imersão.
Costa Filho afirmou que a mesma tecnologia será empregada em Santos.
Tarcísio descreveu a visita como um exemplo a ser seguido para entregar uma solução de alto padrão à Baixada Santista.
Em maio, uma segunda comitiva com parlamentares e autoridades — entre elas o prefeito Rogério Santos e o ministro do TCU Walton Alencar — voltou aos canteiros para observar o modelo de fábrica de elementos e protocolos de qualidade.
Situação atual da travessia
Hoje, quem depende da travessia por balsa enfrenta 18 minutos de percurso apenas na água, sem contar eventuais filas.
Por via terrestre, a alternativa mais próxima soma cerca de 43 km, com tempo que costuma chegar a uma hora.
Com o túnel, a projeção é encurtar a viagem para 2 a 3 minutos, com previsibilidade para moradores, trabalhadores portuários e prestadores de serviço.
Etapas de montagem
O túnel será montado a partir de seis elementos em concreto, produzidos em canteiro próximo ao estuário. Depois de inundada a doca seca, os blocos, ainda flutuantes, seguem rebocados até o canal.
A imersão ocorre por enchimento gradual de piscinas internas, controlado para posicionamento milimétrico no berço preparado no leito.
As conexões são vedadas, o conjunto recebe revestimento de proteção com enrocamento, e a obra avança para instalações internas, ventilação, drenagem e sistemas de segurança.
Referência internacional: túnel Fehmarnbelt
A principal inspiração técnica é o túnel Fehmarnbelt, na Europa, atualmente o maior canteiro do continente.
Em 17 de junho de 2024, o rei Frederik X inaugurou o primeiro elemento do projeto.
Ao todo, serão 89 elementos — 79 padrões com 217 metros de comprimento e cerca de 73 mil toneladas, além de 10 especiais para abrigar sistemas.
Quando concluído, o túnel terá 18,1 km, com duas pistas por sentido e linhas ferroviárias, conectando Rødby (Dinamarca) a Puttgarden (Alemanha).
A Dinamarca financia a maior parte da obra, estimada em 7,4 bilhões de euros com suas conexões e a Alemanha investe na integração rodoviária e ferroviária no seu território.
A abertura está prevista para 2029, com pedágio estimado para carros na casa de 70 euros.
Outras experiências internacionais
Empresas interessadas no leilão brasileiro acumulam experiência com obras semelhantes. A Mota-Engil tem sociedade com a CCCC, construtora do túnel de Taihu (10,8 km) na China. A Acciona reúne histórico em grandes infraestruturas marítimas e subterrâneas.
A presença de grupos que dominam o método é considerada essencial para mitigar riscos de projeto, fabricação e instalação dos elementos.