A economia brasileira convive com um gigantesco mercado informal que representa quase 40% de toda a atividade produtiva do país, movimenta trilhões de reais e envolve milhões de trabalhadores sem registro, sem direitos e fora do alcance direto da arrecadação tributária.
A informalidade tornou-se um pilar invisível da economia brasileira. Ela sustenta famílias, garante renda em tempos de desemprego e preenche lacunas deixadas pelo mercado formal, mas ao mesmo tempo compromete a arrecadação de impostos, reduz a competitividade e expõe milhões de pessoas à vulnerabilidade social.
Segundo estimativas recentes pelo ETCO, o chamado setor informal movimenta cerca de R$ 1,7 trilhão por ano, valor equivalente a quase um quarto do Produto Interno Bruto.
Como a economia informal funciona no Brasil
A base da economia informal está na ausência de registro e de obrigações fiscais e trabalhistas, conforme estudo do IPEA em 2025.
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Nesse sistema paralelo, há desde vendedores ambulantes e diaristas até empresas inteiras operando sem CNPJ. Todos realizam atividades econômicas legítimas, mas fora do controle e da fiscalização do Estado.
Entre os agentes que compõem esse universo estão trabalhadores sem carteira assinada, empregadas domésticas sem contrato, autônomos, microempreendedores não registrados e pequenos comerciantes de bairro.
Eles garantem sua renda de forma independente, mas não têm acesso a benefícios como FGTS, seguro-desemprego ou aposentadoria.
O crescimento da informalidade está diretamente relacionado ao alto custo de formalização e à complexidade tributária brasileira.
Para muitos, abrir uma empresa, emitir notas fiscais e arcar com os encargos trabalhistas é mais caro e demorado do que simplesmente atuar à margem da lei.
As causas que sustentam o mercado informal
A expansão da economia informal não é um fenômeno recente. Ela reflete um desequilíbrio estrutural entre as oportunidades formais e as condições reais do mercado de trabalho.
Entre as principais causas estão a burocracia excessiva, a carga tributária elevada e o baixo nível de fiscalização.
Muitos trabalhadores optam por atuar de forma autônoma como única alternativa de sobrevivência.
Em momentos de crise econômica, a informalidade cresce em ritmo acelerado, absorvendo parte da população desempregada.
Outro fator é a digitalização sem formalização.
O avanço de aplicativos de transporte, entregas e serviços criou uma nova geração de trabalhadores autônomos que produzem renda, mas sem vínculo ou proteção legal, ampliando o alcance da informalidade no meio urbano.
O impacto da informalidade na economia brasileira
Embora movimente trilhões de reais, a economia informal gera perdas significativas para o Estado e para o mercado formal.
A ausência de registro e de pagamento de tributos reduz a arrecadação pública e limita investimentos em saúde, educação e infraestrutura.
Além disso, empresas formais enfrentam concorrência desleal de negócios que não pagam impostos nem cumprem obrigações trabalhistas, o que pressiona o setor produtivo e desestimula o empreendedorismo regularizado.
No longo prazo, a informalidade prejudica a produtividade nacional, reduz a capacidade de planejamento econômico e compromete o crescimento sustentável da economia brasileira.
A cada real não tributado, o poder público perde capacidade de devolver serviços essenciais à população.
O que a informalidade significa para o trabalhador
Para milhões de brasileiros, a informalidade é a única alternativa de renda, mas também uma fonte constante de insegurança.
Sem direitos trabalhistas, esses profissionais não têm garantias de férias, 13º salário, seguro-desemprego ou aposentadoria, e dependem exclusivamente da própria força de trabalho.
A instabilidade é a regra: qualquer doença, acidente ou queda nas vendas pode interromper completamente a renda familiar.
Em alguns setores, como comércio de rua e serviços domésticos, a informalidade chega a mais da metade dos trabalhadores ativos, o que demonstra o tamanho do desafio social.
Mesmo com os riscos, a informalidade persiste porque oferece flexibilidade e menor custo de entrada.
Para muitos microempreendedores e autônomos, é um espaço de sobrevivência e empreendedorismo sem burocracia, ainda que isso signifique abrir mão de direitos fundamentais.
Caminhos possíveis para reduzir a informalidade
Especialistas apontam que o combate à informalidade depende de políticas públicas que tornem a formalização mais simples, barata e vantajosa.
Isso inclui reduzir tributos sobre a folha de pagamento, ampliar o acesso ao crédito e fortalecer programas como o MEI, que facilita a entrada de pequenos empreendedores no sistema formal.
A educação financeira e a digitalização dos processos fiscais também podem estimular a formalização, desde que acompanhadas de incentivos reais para o trabalhador e o empresário.
Em paralelo, melhorar a fiscalização e simplificar a tributação são medidas indispensáveis para equilibrar o jogo entre os setores formal e informal.