Muito além de um único autor, a Bíblia foi escrita ao longo de séculos, reunindo tradições, crises políticas e influências culturais diversas
A Bíblia é uma das obras mais impactantes da história. Mesmo assim, suas origens ainda levantam dúvidas e revelam uma história cheia de camadas. Embora tradições religiosas atribuam a autoria a nomes como Moisés, Isaías e Paulo, a pesquisa acadêmica mostra algo muito mais complexo: múltiplas fontes, séculos de revisões e contextos políticos decisivos.
Escrita ao longo de séculos
O mais importante é entender que a Bíblia não foi escrita de uma vez. Ela se formou entre 1200 a.C. e 100 d.C.
Os textos surgiram de tradições orais, foram moldados por eventos como o exílio babilônico, a dominação persa e o Império Romano.
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Com o tempo, esses relatos passaram por seleções, edições e canonizações, formando a coletânea que conhecemos hoje.
As quatro fontes do Pentateuco
Os cinco primeiros livros — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio — são atribuídos tradicionalmente a Moisés. Porém, estudiosos identificam quatro fontes principais:
- Fonte E (Eloísta): Refere-se a Deus como “Elohim” e aparece em partes de Gênesis, Êxodo e Números. É uma das mais antigas e teria origem no norte de Israel.
- Fonte J (Javista): Usa o nome Yahweh (YHWH) e possui um estilo narrativo vívido. Reflete influências babilônicas e teria sido escrita após o século 7 a.C.
- Fonte P (Sacerdotal): Presente em quase todo Levítico e Números. Dá foco a leis e genealogias. Teria surgido após o exílio.
- Fonte D (Deuteronomista): Origina o Deuteronômio. Teria sido escrita durante o reinado de Josias como parte de uma reforma religiosa.
Dos livros históricos à monarquia israelita
Livros como Josué, Juízes, Samuel e Reis relatam desde a conquista de Canaã até o período dos reis Davi e Salomão.
A tradição os liga a Samuel, mas há fortes evidências de que escribas deuteronomistas os escreveram durante o exílio na Babilônia.
Esses textos funcionavam como análise teológica da história: as tragédias do povo seriam castigos pela infidelidade a Deus.
Profetas e agitações políticas
Os livros proféticos refletem momentos de crise. Isaías, por exemplo, tem três partes:
- Capítulos 1–39, escritos no século 8 a.C., coincidem com a época do cerco assírio.
- Capítulos 40–55, do período do exílio babilônico.
- Capítulos 56–66, pós-exílio, exaltam o rei persa Ciro.
No caso de Jeremias, há indícios de que seu escriba, Baruque, tenha contribuído com o texto. Já Ezequiel, profeta no exílio, deixou escritos que mais tarde foram ampliados por seus seguidores.
Livros poéticos e sabedoria acumulada
Jó, Salmos e Provérbios levaram séculos para serem concluídos. Jó é um poema antigo cercado por partes narrativas mais recentes.
Salmos reúne orações compostas em diferentes épocas, algumas durante o reinado em Jerusalém, outras em tempos de exílio. Provérbios, embora ligado a Salomão, passou por edições até o século 2 a.C.
Influência da cultura grega
Durante o domínio helenístico, a tensão entre tradição e modernidade deixou marcas nos textos. Livros como Ester, Rute, Esdras, Neemias, Lamentações e Eclesiastes ganharam forma.
Enquanto Ester e Rute reforçam a identidade judaica, Eclesiastes apresenta um tom cético. Lamentações expressa o luto pela destruição de Jerusalém.
O surgimento do Novo Testamento
No século 1 d.C., surgiu o Novo Testamento, voltado para os primeiros cristãos. O Evangelho de Marcos foi o primeiro, escrito entre os anos 65 e 70, dirigido a cristãos perseguidos em Roma.
Mateus, de 80 d.C., mostra Jesus como o novo Moisés. Lucas, escrito por volta de 85 d.C., foca nos marginalizados e traz parábolas exclusivas, como o Bom Samaritano.
O autor de Lucas também escreveu Atos dos Apóstolos, que narra a expansão da igreja cristã. Já João, o último evangelho, foi escrito entre 90 e 100 d.C.
É um texto mais teológico, com foco em discursos místicos e na divindade de Jesus.
Cartas de Paulo e a mensagem cristã
As Epístolas Paulinas, como Romanos e Coríntios, foram escritas por Paulo de Tarso. Ele formulou ideias fundamentais do cristianismo, como a salvação pela fé e a abertura da fé a todos os povos.
Também escreveu as Epístolas Gerais — como Tiago e Pedro — com conselhos para diferentes comunidades.
O Apocalipse e as visões do fim
Por fim, o Apocalipse de João, escrito por volta de 95 d.C. na ilha de Patmos, apresenta visões apocalípticas.
O livro mistura imagens simbólicas, juízo divino e esperança na restauração. Muitos estudiosos questionam a autoria, mas a obra continua sendo uma das mais impactantes do cristianismo.
Portanto, a Bíblia é fruto de séculos de fé, crises e transformações culturais. Seus autores, muitos deles anônimos, trabalharam em diferentes contextos históricos para construir o que hoje se tornou o livro mais influente da humanidade.
Com informações de Aventuras na história.