Centros de ensino cultural patrocinados por Pequim são acusados de promover censura, influenciar a produção acadêmica e favorecer lideranças simpáticas à geopolítica da China
A atuação dos Institutos Confúcio (ICs) na América Latina tem sido alvo de crescente preocupação por parte de especialistas, organizações internacionais e, agora, também do Comando Sul dos Estados Unidos. Em publicação divulgada pelo portal Diálogo Americas, os ICs são descritos como instrumentos de propaganda e interferência geopolítica da China, que atuam sob a fachada de intercâmbio cultural para projetar o poder do Partido Comunista Chinês (PCC) na região.
Segundo o think tank colombiano Fundação Andrés Bello, atualmente há mais de 47 Institutos Confúcio em funcionamento na América Latina. Esses centros oferecem aulas de mandarim, artes tradicionais e atividades culturais, muitas vezes em parceria com universidades locais. Apesar da aparência acadêmica, a publicação destaca que os ICs são controlados diretamente pelo Ministério da Educação do PCC e operam como extensões do governo chinês em solo estrangeiro.
Enquanto países como Austrália, Suécia e Países Baixos já fecharam seus ICs devido a preocupações com a liberdade acadêmica, Honduras inaugurou seu primeiro Instituto Confúcio em maio de 2025, dentro da Universidade Pedagógica Nacional Francisco Morazán, com apoio direto da embaixada chinesa e universidades da China.
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Censura, alinhamento ideológico e influência sobre universidades
O avanço dos Institutos Confúcio levanta alertas por sua interferência nos conteúdos educacionais e pela restrição a temas sensíveis como o massacre da Praça da Paz Celestial, a repressão aos uigures, as tensões em Taiwan e a situação no Tibete. Relatórios da Human Rights Watch e de entidades latino-americanas alertam que os ICs selecionam seus professores com base na lealdade ao regime chinês e impõem restrições ideológicas sobre os materiais utilizados em sala de aula.
Na Colômbia, análises apontam que os ICs fazem parte de uma estratégia diplomática de longo prazo da China, cujo objetivo é formar lideranças alinhadas aos interesses estratégicos de Pequim. O risco, segundo analistas, está na dependência financeira criada nas universidades anfitriãs, que acabam reduzindo críticas à China para manter os convênios e os recursos recebidos.
De acordo com Parsifal D’Sola, diretor da Fundação Andrés Bello, quanto maior for o envolvimento acadêmico com programas financiados por instituições governamentais chinesas, menor será o espaço para questionamentos. “Isso favorece a construção de uma imagem internacional positiva da China, mesmo diante de práticas autoritárias e violações de direitos humanos”, afirmou em entrevista à Voz da América.
Brasil, Peru e o risco da transferência de tecnologia estratégica
No Brasil, o cenário é igualmente relevante. Existem hoje 12 Institutos Confúcio em operação, muitos deles em regiões economicamente vulneráveis, mas de alto interesse estratégico. A FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) ressalta que a China intensificou suas parcerias acadêmicas no país, oferecendo bolsas, cursos e integração curricular do mandarim em universidades públicas e privadas.
O Plano de Ação Conjunta China-CELAC 2022–2024 previa justamente o aumento da presença desses institutos na América Latina, além da expansão do ensino da língua chinesa nos currículos nacionais e da oferta de formação para professores locais com base no modelo educacional chinês.
No Peru, embora a Universidade Nacional de Engenharia não tenha um Instituto Confúcio, mantém parcerias com a Universidade Politécnica de Shenzhen, em projetos de desenvolvimento automotivo. Especialistas alertam que tais colaborações podem envolver transferência tecnológica com aplicações militares, representando risco à soberania científica e à segurança regional.
Influência cultural como ferramenta de poder geopolítico
Para o Comando Sul dos EUA e entidades ligadas à segurança hemisférica, os Institutos Confúcio fazem parte de uma estratégia abrangente de influência cultural, acadêmica e política do governo chinês. O objetivo seria consolidar espaços de influência estrutural na América Latina por meio da formação de futuros líderes simpáticos ao regime chinês.
A retórica de cooperação cultural e educativa, segundo os críticos, serve de fachada para ações diplomáticas mais profundas, com implicações de longo prazo para a liberdade de expressão, a pluralidade acadêmica e a autonomia institucional das universidades da região.
A publicação do portal Diálogo Americas, vinculada ao Comando Sul dos EUA, alerta que, em contextos de crise econômica universitária, o financiamento chinês é uma proposta atrativa, mas coloca em risco a integridade acadêmica e abre caminho para censura, vigilância ideológica e dependência externa.