Iniciativa liderada pelo presidente Lula busca unir a região para agregar valor a minerais críticos como lítio e cobre, mas enfrenta desafios geopolíticos e ambientais.
De acordo com uma proposta apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a 66ª Cúpula do Mercosul, em 3 de julho de 2025, o Brasil está liderando um esforço para criar um acordo regional para a gestão de minerais críticos. A iniciativa visa unir os países sul-americanos para harmonizar políticas de extração, processamento e comércio de elementos essenciais para a transição energética global, como o lítio e o cobre, garantindo que os benefícios econômicos fiquem na região.
A “corrida global” por esses recursos “já começou”, afirmou Lula, e a América do Sul precisa se posicionar de forma unida para não repetir o erro histórico de ser apenas uma exportadora de matérias-primas. A proposta de reativar as discussões através da Organização Latino-Americana de Energia (OLADE) busca criar uma base comum para o desenvolvimento de uma indústria de alto valor agregado, gerando empregos e tecnologia no continente.
O que são os minerais críticos e por que são tão importantes?
Minerais críticos são elementos essenciais para as tecnologias de energia limpa que definem a economia do século XXI. O lítio, por exemplo, é a matéria-prima fundamental para as baterias de veículos elétricos, enquanto o cobre é indispensável para a construção de painéis solares, turbinas eólicas e para a expansão das redes elétricas.
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A transição energética global, impulsionada por acordos como o de Paris (2015), está criando uma demanda sem precedentes por esses materiais. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA) de 2023, a demanda por lítio deve aumentar em 500% até 2030 para que o mundo consiga atingir suas metas de emissão zero.
O potencial da América do Sul: um “tesouro latente” de minerais críticos
A América Latina está no centro dessa nova geopolítica dos recursos. De acordo com um estudo da OLADE de janeiro de 2024, a região detém 61% das reservas mundiais de lítio e 45% das de cobre. O chamado “Triângulo do Lítio”, formado por Argentina, Bolívia e Chile, concentra sozinho metade das reservas globais do mineral.
O Brasil emerge como um ator cada vez mais relevante nesse cenário. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), em 2024 o país já detinha 5% das reservas mundiais de lítio, localizadas principalmente no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Na produção de cobre, liderada pela Vale em Carajás (PA), o Brasil também é um player importante, com uma produção anual de 1,5 milhão de toneladas.
País | % Reservas Globais de Lítio (2024) | % Reservas Globais de Cobre (2024) |
Brasil | 5% | 7% |
Chile | 40% | 23% |
Argentina | 10% | 3% |
Bolívia | 21% | 1% |
A proposta brasileira
A iniciativa brasileira, apresentada por Lula na Cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai, busca mudar o paradigma da exploração de minerais críticos. A proposta é criar uma política regional que incentive o beneficiamento local, ou seja, o processamento da matéria-prima para a produção de produtos de maior valor, como baterias e componentes eletrônicos.
Essa estratégia visa evitar a “extração predatória”, um modelo que, historicamente, exporta a riqueza mineral e deixa para trás os impactos ambientais e sociais. Ao agregar valor localmente, a região pode gerar mais empregos qualificados, atrair investimentos em tecnologia e fortalecer sua soberania econômica.
Os gigantes da mineração no Brasil
O Brasil já conta com empresas de peso atuando na extração de minerais críticos, que seriam peças-chave em um eventual acordo regional.
Vale S.A.: liderada pelo CEO Eduardo Bartolomeo, é a principal produtora de cobre do país, com operações gigantescas como a da mina de Salobo, no Pará.
Sigma Lithium: comandada pela CEO Ana Cabral-Gardner, a empresa se tornou uma referência global na produção de lítio sustentável em seu projeto na Grota do Cirilo, no Vale do Jequitinhonha, exportando para gigantes como Tesla e LG.
AMG Critical Materials: também atuando em Minas Gerais, a empresa possui uma joint venture com parceiros japoneses para o beneficiamento do lítio extraído.
Desafios e o futuro do acordo para minerais críticos
Apesar do enorme potencial, a criação de uma política unificada para os minerais críticos na América do Sul enfrenta grandes desafios. O principal deles é o cenário geopolítico. A disputa entre Estados Unidos e China pela influência na região e pelo controle das cadeias de suprimentos de minerais estratégicos coloca os países sul-americanos em uma posição delicada.
Além disso, a extração desses minerais acarreta sérios riscos ambientais, como o alto consumo de água na produção de lítio e os impactos da mineração em biomas sensíveis como a Amazônia. Um acordo regional precisaria estabelecer regras rígidas de sustentabilidade e garantir a consulta e o respeito aos direitos das comunidades indígenas e locais. O sucesso da iniciativa dependerá da capacidade dos líderes sul-americanos, como Lula, Gabriel Boric (Chile) e Javier Milei (Argentina), de superarem as diferenças políticas e construírem um consenso em torno de um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.
Você acredita que um acordo para a gestão de minerais críticos pode fortalecer a economia da América do Sul? Deixe sua opinião nos comentários.