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Proposta do Brasil quer que América do Sul produza baterias, não apenas exporte o lítio bruto

Publicado em 22/07/2025 às 16:35
Brasil propõe "OPEP do lítio" para evitar nova era de exploração sem valor agregado na América do Sul
Brasil propõe “OPEP do lítio” para evitar nova era de exploração sem valor agregado na América do Sul
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Iniciativa liderada pelo presidente Lula busca unir a região para agregar valor a minerais críticos como lítio e cobre, mas enfrenta desafios geopolíticos e ambientais.

De acordo com uma proposta apresentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a 66ª Cúpula do Mercosul, em 3 de julho de 2025, o Brasil está liderando um esforço para criar um acordo regional para a gestão de minerais críticos. A iniciativa visa unir os países sul-americanos para harmonizar políticas de extração, processamento e comércio de elementos essenciais para a transição energética global, como o lítio e o cobre, garantindo que os benefícios econômicos fiquem na região.

A “corrida global” por esses recursos “já começou”, afirmou Lula, e a América do Sul precisa se posicionar de forma unida para não repetir o erro histórico de ser apenas uma exportadora de matérias-primas. A proposta de reativar as discussões através da Organização Latino-Americana de Energia (OLADE) busca criar uma base comum para o desenvolvimento de uma indústria de alto valor agregado, gerando empregos e tecnologia no continente.

O que são os minerais críticos e por que são tão importantes?

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Minerais críticos

Minerais críticos são elementos essenciais para as tecnologias de energia limpa que definem a economia do século XXI. O lítio, por exemplo, é a matéria-prima fundamental para as baterias de veículos elétricos, enquanto o cobre é indispensável para a construção de painéis solares, turbinas eólicas e para a expansão das redes elétricas.

A transição energética global, impulsionada por acordos como o de Paris (2015), está criando uma demanda sem precedentes por esses materiais. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA) de 2023, a demanda por lítio deve aumentar em 500% até 2030 para que o mundo consiga atingir suas metas de emissão zero.

O potencial da América do Sul: um “tesouro latente” de minerais críticos

Proposta do Brasil quer que América do Sul produza baterias, não apenas exporte o lítio bruto

A América Latina está no centro dessa nova geopolítica dos recursos. De acordo com um estudo da OLADE de janeiro de 2024, a região detém 61% das reservas mundiais de lítio e 45% das de cobre. O chamado “Triângulo do Lítio”, formado por Argentina, Bolívia e Chile, concentra sozinho metade das reservas globais do mineral.

O Brasil emerge como um ator cada vez mais relevante nesse cenário. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), em 2024 o país já detinha 5% das reservas mundiais de lítio, localizadas principalmente no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Na produção de cobre, liderada pela Vale em Carajás (PA), o Brasil também é um player importante, com uma produção anual de 1,5 milhão de toneladas.

País% Reservas Globais de Lítio (2024)% Reservas Globais de Cobre (2024)
Brasil5%7%
Chile40%23%
Argentina10%3%
Bolívia21%1%

A proposta brasileira

A iniciativa brasileira, apresentada por Lula na Cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai, busca mudar o paradigma da exploração de minerais críticos. A proposta é criar uma política regional que incentive o beneficiamento local, ou seja, o processamento da matéria-prima para a produção de produtos de maior valor, como baterias e componentes eletrônicos.

Essa estratégia visa evitar a “extração predatória”, um modelo que, historicamente, exporta a riqueza mineral e deixa para trás os impactos ambientais e sociais. Ao agregar valor localmente, a região pode gerar mais empregos qualificados, atrair investimentos em tecnologia e fortalecer sua soberania econômica.

Os gigantes da mineração no Brasil

O Brasil já conta com empresas de peso atuando na extração de minerais críticos, que seriam peças-chave em um eventual acordo regional.

Vale S.A.: liderada pelo CEO Eduardo Bartolomeo, é a principal produtora de cobre do país, com operações gigantescas como a da mina de Salobo, no Pará.

Sigma Lithium: comandada pela CEO Ana Cabral-Gardner, a empresa se tornou uma referência global na produção de lítio sustentável em seu projeto na Grota do Cirilo, no Vale do Jequitinhonha, exportando para gigantes como Tesla e LG.

AMG Critical Materials: também atuando em Minas Gerais, a empresa possui uma joint venture com parceiros japoneses para o beneficiamento do lítio extraído.

Desafios e o futuro do acordo para minerais críticos

Apesar do enorme potencial, a criação de uma política unificada para os minerais críticos na América do Sul enfrenta grandes desafios. O principal deles é o cenário geopolítico. A disputa entre Estados Unidos e China pela influência na região e pelo controle das cadeias de suprimentos de minerais estratégicos coloca os países sul-americanos em uma posição delicada.

Além disso, a extração desses minerais acarreta sérios riscos ambientais, como o alto consumo de água na produção de lítio e os impactos da mineração em biomas sensíveis como a Amazônia. Um acordo regional precisaria estabelecer regras rígidas de sustentabilidade e garantir a consulta e o respeito aos direitos das comunidades indígenas e locais. O sucesso da iniciativa dependerá da capacidade dos líderes sul-americanos, como Lula, Gabriel Boric (Chile) e Javier Milei (Argentina), de superarem as diferenças políticas e construírem um consenso em torno de um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.

Você acredita que um acordo para a gestão de minerais críticos pode fortalecer a economia da América do Sul? Deixe sua opinião nos comentários.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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