Construído nos anos 1990 para colocar Cidreira no mapa do futebol, o Sessinzão virou ruínas e dívidas. Agora, projeto de autódromo de R$ 50 milhões surge como última chance de mudança para a cidade
Entre dunas e o ritmo tranquilo de uma cidade pequena, Cidreira ganhou nos anos 1990 uma obra que prometia mudar seu destino. O estádio Antônio Braz Sessin, apelidado de Sessinzão, foi inaugurado em 1996 com investimento de pouco mais de R$ 2 milhões.
A ideia era movimentar a economia local e colocar a cidade, a 150 quilômetros de Porto Alegre, no mapa do futebol.
O estádio tinha capacidade para 18 mil pessoas, número maior que toda a população atual, de pouco mais de 17 mil habitantes, segundo o último Censo.
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Mesmo grandioso, o espaço nunca cumpriu o papel sonhado.
Poucos jogos e rápida decadência
Em quase três décadas de existência, o Sessinzão recebeu apenas 19 jogos oficiais, o último em 2007. Pouco depois, em 2010, o local foi interditado por problemas estruturais e falta de alvarás.
Sem clubes profissionais na cidade e sem recursos para a manutenção, o estádio virou um peso. O que deveria ser espaço de lazer se transformou em ruínas e entulho.
O retrato do abandono
Quem caminha pelo entorno encontra arquibancadas desmoronadas, vestiários invadidos e torneiras roubadas.
No gramado, o que resta de vida é um cavalo que transformou o campo em pasto improvisado.
O caseiro que cuidava do espaço faleceu, e suas cinzas foram lançadas no centro do campo. Desde então, o descaso aumentou. Hoje, o estádio é usado pela população como área de descarte de lixo.
Dívidas e o peso de um “elefante branco”
A prefeitura calcula uma dívida de aproximadamente R$ 10 milhões, somando obras não pagas, reforma de 2006 e contas de energia atrasadas.
O alto custo inviabiliza qualquer tentativa de revitalização ou demolição.
Implodir e limpar a área exigiria recursos que poderiam comprometer verbas de saúde e educação. Por isso, o município mantém o espaço parado, um “elefante branco” que causa constrangimento e desafios.
Visão do poder público
O prefeito Beto do Litoral (AVANTE) reconhece a dificuldade. Ele afirma que a região está abandonada, cercada por lixo, mas destaca o potencial da área.
Segundo ele, com investimentos adequados, o espaço pode virar uma “virada de chave” para Cidreira. O futebol ficou para trás, mas o local pode ganhar nova vida em outra atividade esportiva.
Eloi Sessim e a ligação com o estádio
O responsável pelo projeto, Eloi Braz Sessim, faleceu em agosto de 2024, aos 75 anos, por complicações cardíacas. O estádio leva o nome de seu pai, Antônio Braz Sessim.
Eloi foi prefeito de Cidreira entre 1993 e 1996 e de Tramandaí em outros dois mandatos. Apesar de sua influência política, enfrentou cassação em 1997 por suspeitas de corrupção e chegou a ficar preso por cem dias.
Mesmo assim, continuou ativo na política. Tentou voltar à prefeitura de Cidreira em 2024, mas recebeu apenas 520 votos e terminou em terceiro lugar.
A proposta de transformação do Estádio
A possível salvação do Sessinzão passa longe do futebol. Um projeto de R$ 50 milhões propõe transformar o estádio em autódromo.
A Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA) deve receber o espaço em comodato por 30 anos. A ideia é construir uma pista oval e um complexo de corridas.
O projeto está em fase final de aprovação na Câmara de Vereadores.
Segundo a FGA, a obra poderia levar até dez anos, mas teria impacto positivo na economia local, gerando empregos e atraindo turistas.
Entusiasmo da Federação
Arlindo Signor, presidente da FGA, acredita na viabilidade do projeto. Ele afirma que investidores, governo estadual, federal e grandes promotores nacionais já demonstraram interesse.
Signor destaca que seria o único circuito oval da América Latina, atraindo grandes eventos e até competições internacionais.
O sonho da Nascar
Um dos maiores desejos é receber uma etapa da Nascar americana, uma das categorias mais tradicionais do automobilismo mundial.
Segundo Signor, existe diálogo com a Nascar Brasil e interesse da matriz nos Estados Unidos em realizar corridas no país.
Embora pareça distante, esse objetivo alimenta as esperanças de transformar o estádio em referência internacional.
Autódromo milionário: última cartada
O projeto é visto como a derradeira oportunidade para que o Sessinzão deixe de ser apenas ruínas. Se concretizado, pode transformar a imagem de Cidreira, que convive há anos com um estádio maior que a própria cidade.
Do passado de glórias sonhadas às ruínas atuais, a história do Sessinzão agora depende de uma aposta ousada: trocar a bola pelo ronco dos motores.
Com informações de GE.