Descubra a história do projeto Znamya, da Rússia, que tentou criar espelhos gigantes no espaço para iluminar as regiões polares
Em 1992, a ideia de enviar um espelho gigante para o espaço parecia algo dito de um filme de ficção científica. A agência espacial russa Roscosmos lançou o ambicioso projeto Znamya, que visava colocar um enorme espelho em órbita para refletir os raios solares de volta à Terra, com o intuito de iluminar as cidades árticas da Sibéria durante os meses escuros de inverno.
Embora a proposta possa subir como um plano de vilão de James Bond, o objetivo do projeto era puramente científico e voltado para a melhoria da vida nas regiões mais inóspitas do planeta.
O conceito do espelho espacial
A ideia de usar espelhos para refletir a luz solar na Terra não era nova. Em 1923, o cientista alemão Hermann Oberth, um dos pioneiros da astronáutica moderna, propôs em seu livro O Foguete no Espaço Planetário a construção de uma rede de espelhos gigantes capazes de refletir a luz solar sobre a superfície terrestre.
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Ele acreditava que isso não poderia apenas iluminar regiões escuras, como também ajudar em situações de emergência, como naufrágios, ou até manipular o clima.
Esse conceito, que na época parecia impossível, ressurgiu ao longo do século 20, e na década de 1970, foi retomado pelo engenheiro de foguetes Krafft Ehricke, que imaginou usar espelhos no espaço para fornecer energia ou iluminar áreas remotas da Terra.
Porém, foi na Rússia que a ideia evoluiu de forma mais concreta. O engenheiro russo Vladimir Syromiatnikov, que trabalhou com a Roscosmos, acreditava que as velas solares poderiam ser usadas não apenas para propulsão no espaço, mas também para iluminar a Terra.
Durante a longa noite polar da Sibéria, onde o Sol permanece abaixo do horizonte por meses, a necessidade de luz adicional foi crucial, especialmente para atividades econômicas e sociais.
A Rússia decidiu então apostar no conceito de Syromiatnikov e financiar o desenvolvimento do Znamya, um espelho que seria colocado em órbita para refletir a luz solar de volta à Terra.
O desenvolvimento do Znamya
O projeto Znamya começou a ganhar força na década de 1980. Syromiatnikov e sua equipe, com apoio do governo soviético, idealizaram um espelho feito de folhas finas de Mylar aluminizado, um material leve e altamente reflexivo, capaz de suportar as condições extremas do espaço.
O protótipo inicial, chamado Znamya 1, não foi lançado, mas ocorreu na Terra para testes. O Znamya 2, por outro lado, seria o primeiro a ser lançado ao espaço, em 1992.
O espelho do Znamya 2, com 20 metros de largura, seria desdobrado a partir de um tambor central que giraria rapidamente, como um guarda-chuva, para capturar os raios solares e refletir a luz de volta à Terra.
O projeto visava criar um “holofote” solar com cerca de 8 km de largura, movendo-se a uma velocidade impressionante de 13 km por segundo, iluminando áreas em seu caminho, como uma linha de luz que se estende por vários países.
O lançamento e o primeiro sucesso
Em 27 de outubro de 1992, o Znamya 2 foi lançado com sucesso a bordo da nave Progress M-15, do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão.
A missão era audaciosa, mas não sem desafios. Quando a nave Progress desacoplou a estação espacial Mir e iniciou o processo de desdobramento do espelho, a tripulação da estação assistiu às características de longe.
O espelho refletiu a luz do Sol para a Terra, criando uma zona de brilho que foi vista da França até a Rússia.
Embora o Znamya 2 tenha sido aclamado como um sucesso técnico, os resultados não foram tão impactantes quanto se esperava.
A luz refletida era mais fraca e difusa do que o esperado, não fornecendo a iluminação prática necessária para áreas grandes. Além disso, a natureza rápida e fugaz do feixe de luz fez com que o uso real do espelho fosse questionado.
Mesmo assim, o experimento trouxe dados valiosos que permitiram melhorias para futuras missões.
O futuro do Znamya
Com o sucesso limitado do Znamya 2, Syromiatnikov não se desmotivou. Ele planejou a seguir, o Znamya 2.5, com um espelho de 25 metros que deveria ser capaz de refletir mais luz e ser direcionado com maior precisão.
A intenção foi realizar uma série de experimentos para iluminar áreas específicas por um período mais longo, com o objetivo de iluminar cidades inteiras durante o inverno polar.
A missão foi planejada para outubro de 1998, e Syromiatnikov tinha grandes esperanças de que esse novo espelho pudesse ser a chave para um futuro mais iluminado para as regiões árticas.
Porém, antes mesmo do lançamento do Znamya 2.5, começaram a surgir preocupações. Astrônomos se opuseram à ideia, temendo que os espelhos pudessem poluir o céu noturno e interferir nas observações astronômicas.
Os ambientalistas também alertaram para o potencial de impacto da luz artificial na fauna e flora locais, perturbando os ciclos naturais. Apesar dessas objeções, a excitação pela possibilidade de iluminar regiões remotas da Terra era grande.
O colapso do projeto
O lançamento do Znamya 2.5 ocorreu conforme o planejado em fevereiro de 1999, mas sem dificuldades. Durante o processo de desdobramento do espelho, um erro de comando causou um imbróglio técnico.
As finas folhas refletidas ficaram presas na antena da nave Progresso, o que resultou em danos irreparáveis ao espelho.
Tentativas de resolver o problema falharam, e o espelho foi, finalmente, colocado em rota de retorno à Terra, onde queimou na atmosfera.
Esse episódio marcou o fim do Znamya 2.5 e o próprio projeto Znamya. O espelho Znamya 3, que deveria ser ainda maior e mais avançado, nunca foi construído, uma vez que o projeto perdeu apoio financeiro.
Com isso, o sonho de Vladimir Syromiatnikov de criar uma rede de espelhos espaciais para iluminar o Ártico e gerar energia sob demanda chegou ao fim.
Com informações de bbc.