Medida bipartidária visa aliviar o bolso do consumidor, que enfrenta alta de 21% no preço do grão, em parte devido às novas tarifas sobre café importado.
Um novo projeto de lei bipartidário será apresentado na Câmara dos Representantes dos EUA com o objetivo de eliminar as tarifas sobre café, em resposta direta à escalada de preços que afeta os consumidores. A informação foi confirmada por porta-vozes dos legisladores Don Bacon (Republicano) e Ro Khanna (Democrata) à CNN nesta sexta-feira (19). A medida surge como uma reação a uma recente tarifa de 50% imposta sobre o café brasileiro no final de julho, que historicamente era um dos principais fornecedores do mercado americano.
O impacto dessa política tarifária já é sentido diretamente no varejo. Dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) indicam que os preços do café torrado nos supermercados dos EUA aumentaram impressionantes 20,9% em agosto, em comparação com o ano anterior. Esse cenário de inflação no produto, que é essencial para muitas famílias, uniu os dois lados do espectro político em uma rara demonstração de consenso sobre política comercial, visando reverter a alta.
O detalhe da proposta bipartidária
O projeto de lei, que segundo a CNN seria apresentado formalmente ainda nesta sexta-feira (19), é específico em seus objetivos. Ele busca isentar de forma abrangente os produtos de café de quaisquer tarifas que tenham sido impostas após 19 de janeiro de 2025. A legislação não se limita apenas ao café verde (não torrado), mas inclui também o café torrado, o descafeinado, as cascas de café e até mesmo substitutos do café que contenham o grão em qualquer proporção.
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O objetivo central é reverter o que os legisladores veem como um aumento de custo desnecessário para as famílias americanas. “As famílias de todos os Estados Unidos estão sentindo o custo dos preços mais altos do café”, afirmou o republicano Don Bacon, segundo a reportagem da CNN. Ele destacou que o país não cultiva o grão em larga escala comercial, tornando as importações essenciais e, portanto, altamente sensíveis a barreiras tarifárias que só pioram a situação.
O impacto no mercado e a queda do Brasil
A imposição da tarifa de 50% sobre as importações brasileiras, ocorrida no final de julho, desestabilizou significativamente a cadeia de suprimentos. Conforme apurado pela CNN, o Brasil, que costumava fornecer cerca de um terço de todo o café consumido nos Estados Unidos, viu seus embarques diminuírem drasticamente. Essa quebra no fornecimento de um grande produtor global força os compradores americanos a buscarem alternativas, muitas vezes mais caras, ou a repassar o custo da tarifa diretamente ao consumidor.
O efeito foi imediato nos mercados futuros. Os preços do café arábica, a variedade suave preferida por grandes redes como Starbucks e Dunkin Donuts, dispararam. Desde que o governo Trump impôs a tarifa sobre o produto brasileiro, os contratos futuros na bolsa de Nova York registraram uma alta de aproximadamente 50%. Esse aumento no mercado de commodities é o que, eventualmente, se traduz na alta de quase 21% vista nas gôndolas dos supermercados, conforme apontado pelos dados oficiais do BLS.
O debate político além das tarifas sobre café
O democrata Ro Khanna, coautor do projeto, foi direto ao questionar o impacto da tarifa sobre o cotidiano do eleitor. “Se você toma café todas as manhãs, como pode não ficar chateado com isso?“, disse Khanna à CNN, referindo-se ao aumento de preços. A fala do democrata busca conectar a política comercial de alto nível, muitas vezes abstrata, com uma frustração diária e tangível, aumentando a pressão popular pela aprovação da medida.
Para o republicano Don Bacon, a questão vai além do preço do produto. A iniciativa é vista como uma oportunidade para um debate maior sobre o papel do Congresso na definição de tarifas, uma autoridade que, segundo ele, foi excessivamente delegada ao Poder Executivo. “Estou ansioso para trabalhar com o deputado Khanna […] e acredito que ele pode ajudar a desencadear um debate mais amplo sobre o Congresso, recuperando seu papel constitucional na política tarifária“, afirmou Bacon, marcando uma posição de independência em relação à linha dura de tarifas do ex-presidente Donald Trump.
A proposta bipartidária para eliminar as tarifas sobre café representa, portanto, uma tentativa direta de frear a inflação de um produto básico para os americanos. Ao mesmo tempo, sinaliza um movimento político relevante sobre quem deve controlar a política comercial do país, com impactos diretos em grandes produtores, como o Brasil, e no bolso do consumidor final.