Declaração do embaixador chinês em Washington abre espaço para retomada das importações americanas e acende alerta para o Brasil, que atualmente domina mais de 70% das vendas da oleaginosa ao país asiático
A disputa entre Brasil e Estados Unidos pelo mercado chinês de soja ganhou novos contornos após o embaixador da China em Washington, Xie Feng, defender o aumento da parceria agrícola sino-americana. O anúncio foi feito durante um encontro oficial na capital americana, reacendendo preocupações sobre o impacto direto na participação brasileira, responsável por cerca de 70% das importações do grão pelo gigante asiático.
Segundo Xie, a relação comercial entre Pequim e Washington no setor agrícola deve ser reforçada e não politizada. “A agricultura não deve ser politizada, e os agricultores não devem pagar o custo da guerra comercial”, afirmou o diplomata, destacando que a cooperação entre os países “beneficiou o mundo inteiro” e pode voltar a crescer.
O evento, realizado em 22 de agosto, foi organizado pelo Conselho de Exportação de Soja dos EUA em conjunto com a Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Alimentos e contou com a presença de associações industriais, acadêmicos e empresas agrícolas dos dois países.
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China como maior compradora global de soja
A China permanece como principal importadora mundial de soja, consumindo 61,1% de toda a oleaginosa negociada no planeta. O insumo é crucial para a ração animal destinada às cadeias de suinocultura e avicultura. Apenas 15% da demanda chinesa é atendida pela produção local, o que obriga o país a recorrer majoritariamente às importações.
Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas, das quais 74,6 milhões saíram do Brasil e 22,1 milhões dos EUA, segundo a Administração Geral das Alfândegas da China. Apesar da liderança brasileira, a declaração do embaixador sinaliza possível reposicionamento no equilíbrio das compras futuras.
Ainda de acordo com Xie, a redução recente no fluxo agrícola americano trouxe instabilidade aos produtores. Ele citou que, no primeiro semestre de 2025, as exportações dos EUA para a China caíram 53% em relação ao ano anterior, com queda de 51% especificamente na soja.
Impactos da guerra comercial e tarifas bilaterais
O cenário atual é resultado da disputa tarifária entre EUA e China, iniciada durante o primeiro mandato de Donald Trump. As duas nações chegaram a aplicar alíquotas superiores a 100% em seus produtos, impactando diretamente a soja. Como reflexo, os chineses redirecionaram grande parte da demanda para o Brasil, ampliando a fatia brasileira no mercado.
No entanto, em maio deste ano, Washington e Pequim anunciaram uma redução temporária das tarifas por 90 dias, prorrogada posteriormente até novembro. Nesse contexto, Trump pediu publicamente que a China quadruplicasse rapidamente suas compras de soja americana, elevando a expectativa de retorno das exportações dos EUA.
Conforme noticiado pela Gazeta do Povo, essa pressão tem potencial para reduzir a participação brasileira, caso os chineses optem por diversificar as origens de sua principal commodity agrícola.
A posição dos produtores e o risco para o Brasil
O presidente da Associação Americana de Soja, Caleb Ragland, enviou carta à Casa Branca agradecendo o esforço do governo em reabrir o mercado chinês. “Infelizmente para nossos produtores de soja, a China firmou contratos com o Brasil para atender sua demanda dos próximos meses, evitando comprar dos Estados Unidos”, informou.
“Os produtores de soja estão sob estresse financeiro extremo. Os preços continuam a cair e ao mesmo tempo nossos agricultores estão pagando significativamente mais por insumos e equipamentos”, continuou Reagland. “Os produtores de soja americanos não conseguirão sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior consumidor.”
No mesmo encontro em Washington, Jim Sutter, presidente do Conselho de Exportação de Soja dos EUA, declarou esperar que um acordo seja concluído ainda em 2025. Segundo ele, a cooperação sino-americana pode voltar a ser “mutuamente benéfica” em pouco tempo.
Para o Brasil, a sinalização chinesa representa um alerta. O país havia consolidado liderança nas exportações para Pequim após as tarifas impostas contra os americanos em 2018, chegando a fornecer 75% da soja importada pela China. Uma eventual reabertura do mercado para os EUA pode diminuir essa vantagem e alterar o cenário competitivo.
Histórico recente de negociações agrícolas
Entre 2020 e 2022, após a assinatura da chamada “Fase Um” do acordo comercial EUA-China, Pequim se comprometeu a comprar até US$ 80 bilhões em produtos agrícolas americanos, incluindo soja. Contudo, apenas 73% da meta foi cumprida, permitindo que o Brasil mantivesse a dianteira no fornecimento, com preços competitivos e logística favorável.
Ainda assim, especialistas avaliam que a nova rodada de negociações pode ser decisiva para reposicionar os Estados Unidos no mercado chinês, caso Pequim aceite elevar as cotas de importação de soja americana.
Xie Feng encerrou seu discurso destacando áreas de cooperação futuras, como biotecnologia, agricultura inteligente e irrigação sustentável. Segundo ele, “a parceria agrícola entre China e EUA deve florescer de forma saudável”, reforçando a expectativa de reaproximação comercial.
Você acredita que a China continuará priorizando a soja brasileira nos próximos anos ou tende a reforçar cada vez mais sua parceria agrícola com os Estados Unidos?