Alexandre de Moraes perdeu apoio no STF após ser punido pelos EUA. Saiba por que nem mesmo seus colegas quiseram assinar uma nota em sua defesa
A tentativa do ministro Alexandre de Moraes de unificar o Supremo Tribunal Federal em uma carta de apoio fracassou, revelando uma fissura inédita entre os integrantes da mais alta Corte brasileira. O motivo da tensão foi a recente sanção imposta pelos Estados Unidos contra Moraes, com base na Lei Magnitsky — dispositivo legal norte-americano que pune figuras estrangeiras acusadas de graves violações de direitos humanos ou atos de corrupção. A medida causou forte repercussão diplomática e política, mas não encontrou eco unânime entre seus pares no STF.
A pressão por apoio e o recuo dos ministros
Logo após ser informado sobre a punição, Moraes procurou convencer os demais ministros a assinar uma carta conjunta de repúdio contra a decisão norte-americana. No entanto, mais da metade dos integrantes da Corte considerou inadequada a elaboração de um documento institucional para rebater uma política externa dos Estados Unidos. O entendimento majoritário foi de que tal iniciativa poderia comprometer ainda mais a imagem do STF e gerar atritos diplomáticos desnecessários.
Diante da resistência, optou-se por uma solução mais cautelosa: uma nota institucional assinada apenas pelo presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso. O comunicado, em tom diplomático, não citou os Estados Unidos diretamente, tampouco mencionou a Lei Magnitsky, frustrando as expectativas de Moraes, que contava com apoio irrestrito dos colegas.
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Jantar no Alvorada escancara divisão interna
Com a falta de consenso na Corte, uma nova tentativa de demonstrar unidade foi articulada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um jantar foi organizado no Palácio da Alvorada, com a presença de todos os 11 ministros do STF como objetivo simbólico de reafirmar a coesão entre os Poderes e reforçar a narrativa de defesa da soberania nacional. A imagem dos magistrados ao lado do presidente serviria como peça estratégica na campanha de comunicação promovida pelo Planalto, que busca reverter índices de aprovação em queda.
Contudo, o plano de Lula sofreu um revés: apenas seis ministros compareceram ao evento. Estiveram presentes Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Edson Fachin, Flávio Dino, Gilmar Mendes e Roberto Barroso. Já André Mendonça, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux e Nunes Marques se ausentaram, reforçando a percepção de que há um desconforto crescente com os rumos adotados por Moraes dentro da Corte.
Participação protocolar e críticas internas
Entre os ministros presentes no Alvorada, nem todos o fizeram por convicção. Edson Fachin, por exemplo, participou a contragosto. Sua presença foi motivada sobretudo por razões institucionais, já que assumirá a presidência do Supremo em breve, tendo como vice justamente Alexandre de Moraes. A ausência poderia ser mal interpretada nesse contexto de transição de comando no Judiciário.
Fontes próximas ao STF indicam que cresce o sentimento de que Moraes estaria conduzindo o tribunal por um caminho perigoso e sem retorno. O estopim teria sido a decisão recente em que ele determinou o uso de tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, acompanhada da insinuação de que os Estados Unidos poderiam ser considerados “inimigos estrangeiros” do Brasil. A retórica foi considerada excessiva e imprópria por vários ministros, especialmente diante da delicadeza das relações diplomáticas com Washington.
Isolamento e desgaste institucional
O episódio revela o crescente isolamento de Alexandre de Moraes dentro do Supremo Tribunal Federal. Apesar de seu protagonismo nos últimos anos, especialmente em decisões de grande impacto político, o ministro agora enfrenta resistência entre os próprios colegas. O fracasso na tentativa de mobilização institucional — tanto pela carta quanto pelo jantar — deixa evidente que a base de apoio a ele no tribunal já não é mais unânime.
A resposta moderada da Corte, somada à ausência de quase metade dos ministros em um encontro simbólico com o presidente da República, sugere que o STF passa por um momento de redefinição interna. E, no centro dessa crise, está o desgaste da figura de Moraes, cada vez mais associado a decisões polêmicas e a um discurso que nem todos estão dispostos a endossar.