Diante de atrasos na eletrificação da frota, São Paulo considera o uso de biometano como solução sustentável para acelerar a descarbonização do transporte público.
Nos últimos anos, à medida que as cidades cresceram, aumentou também a preocupação com a sustentabilidade no transporte coletivo. Nesse contexto, São Paulo, considerada a maior metrópole do Brasil, considera o uso de biometano como alternativa viável e imediata para reduzir as emissões de poluentes.
Inicialmente, a cidade apostou fortemente na eletrificação da frota de ônibus. No entanto, esse processo tem encontrado obstáculos importantes.
A modernização do transporte público exige infraestrutura robusta e planejamento integrado. Contudo, quando esse processo se depara com gargalos técnicos, como a conexão elétrica em larga escala, é natural que surjam alternativas para manter os objetivos ambientais em movimento.
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Por essa razão, o biometano surge como uma solução prática, especialmente diante das dificuldades com a concessionária de energia responsável pela infraestrutura elétrica.
Enel é apontada como entrave para os ônibus elétricos
De acordo com o prefeito Ricardo Nunes, a Enel tem cobrado tarifas elevadas para realizar as ligações de energia, embora não consiga entregar o serviço com a agilidade necessária.
Como resultado, muitos ônibus elétricos comprados pelas empresas permanecem parados nas garagens.
Consequentemente, o atraso afeta diretamente as metas de descarbonização. Além disso, o próprio cronograma de modernização da frota sofre impactos negativos.
Por isso, a prefeitura classificou a atuação da concessionária como irresponsável e descompromissada com o desenvolvimento sustentável da cidade.
Dessa forma, a gestão municipal considera o uso de biometano como forma de garantir a continuidade do plano de mobilidade limpa.
Ao priorizar alternativas, a prefeitura busca manter o foco nos resultados, mesmo diante dos desafios impostos por fatores externos.
A pressão popular por melhorias ambientais também exerce influência. Cada vez mais, a população exige políticas públicas voltadas para a saúde, o ar limpo e a mobilidade acessível.
Assim, as autoridades precisam responder com agilidade e criatividade, mesmo quando os caminhos inicialmente previstos encontram bloqueios.
Biometano: solução prática e sustentável
Antes de mais nada, é importante entender o que é o biometano. Trata-se de um gás renovável, produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos como lixo doméstico, restos agrícolas e dejetos animais.
Por meio de processos tecnológicos, esse gás é purificado e transformado em combustível limpo.
Portanto, o uso do biometano não apenas reduz a emissão de poluentes, como também evita o desperdício de resíduos.
Historicamente, o Brasil já desenvolveu soluções similares, como o etanol, demonstrando capacidade de criar fontes energéticas alternativas com forte impacto ambiental positivo.
Além disso, ao optar pelo biometano, a cidade aproveita um recurso abundante e de baixo custo.
Isso representa um ganho não só para o meio ambiente, mas também para a economia urbana, principalmente se o combustível for produzido regionalmente.
Ao envolver cooperativas de reciclagem, centros de tratamento de resíduos e pequenos produtores rurais, o biometano também estimula a inclusão social e a descentralização energética.
Esse modelo fortalece o desenvolvimento sustentável nos bairros periféricos, criando oportunidades de renda, tecnologia e capacitação profissional.
Frota poderá ser adaptada com menor custo
Segundo o secretário de Mobilidade e Transportes, Celso Jorge Caldeira, os veículos a diesel podem ser convertidos para operar com biometano, o que acelera a transição com menor investimento.
Isso é especialmente relevante considerando que o projeto dos ônibus elétricos enfrenta barreiras técnicas e logísticas.
Ademais, a prefeitura ainda pretende abrir licitações para atrair empresas produtoras e distribuidoras de biometano.
Com isso, espera-se criar uma cadeia produtiva local, capaz de abastecer a frota de forma contínua e independente da rede elétrica tradicional.
Mesmo com os atrasos, o objetivo permanece: descarbonizar a frota até 2028.
Embora a meta já tenha sofrido ajustes, a introdução do biometano pode permitir sua retomada em ritmo acelerado.
Atualmente, apenas 6,4% da frota de ônibus é considerada limpa, mas esse número pode crescer rapidamente com a nova estratégia.
As empresas de transporte também demonstram interesse nessa mudança, especialmente porque o biometano representa uma solução viável, econômica e de rápida adaptação.
Além disso, o combustível pode ser armazenado com mais facilidade, sem depender exclusivamente da complexa infraestrutura elétrica.
Baterias também integram plano emergencial
Paralelamente ao biometano, a cidade aposta na instalação de baterias estacionárias em sete garagens.
Essas baterias, fornecidas pela empresa Huawei, funcionam como reservatórios de energia elétrica.
Desse modo, elas garantem o carregamento dos ônibus mesmo em momentos de pico ou onde a rede elétrica falha.
Até agora, 40 baterias já chegaram a São Paulo e poderão abastecer cerca de 400 ônibus.
Entretanto, a implementação total depende de autorização da SPTrans e de tratativas finais com parceiros chineses, previstas para as próximas semanas.
Portanto, com a atuação coordenada entre biometano e baterias, a prefeitura pretende diversificar o abastecimento da frota e mitigar os riscos de interrupções.
Essa abordagem híbrida busca garantir resiliência e continuidade nos avanços da mobilidade urbana sustentável.
SP considera o uso de biometano: Um caminho estratégico para o futuro da mobilidade
Assim, ao considerar o uso de biometano, São Paulo demonstra disposição para inovar e se adaptar às circunstâncias.
Embora a eletrificação seja um caminho promissor, ela não pode ser o único pilar da transição energética.
Nesse sentido, o biometano representa uma solução complementar, que se alinha às condições técnicas e ambientais da cidade.
Com ele, a prefeitura reforça seu compromisso com a sustentabilidade, ao mesmo tempo em que contorna os entraves atuais da infraestrutura elétrica.
Além do mais, o aproveitamento de resíduos orgânicos como fonte energética fortalece o conceito de economia circular.
Em vez de gerar apenas lixo, São Paulo passa a transformar seus rejeitos em combustível limpo, eficiente e acessível.
Como resultado, a cidade reduz sua dependência do diesel importado, melhora a qualidade do ar e estimula a geração de empregos em novos setores produtivos.
Ainda que desafios persistam, a combinação entre vontade política, inovação tecnológica e pragmatismo abre caminho para soluções duradouras.
Por fim, é importante ressaltar que a mobilidade urbana sustentável não depende de uma única solução.
A convergência entre diversas fontes limpas — como a eletricidade, o biometano e as baterias estacionárias — amplia as possibilidades e fortalece a estratégia de longo prazo.
Portanto, ao optar por um modelo energético mais flexível, São Paulo sinaliza um futuro no qual o transporte público se torna menos poluente, mais confiável e, acima de tudo, compatível com os desafios ambientais do século XXI.