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Predador de 506 milhões de anos é descoberto por paleontólogos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 16/05/2025 às 09:31
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Reconstrução em vida de Mosura fentoni. Crédito: Arte de Danielle Dufault, ROM
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Fóssil de 506 milhões de anos revela predador com três olhos, garras afiadas e sistema circulatório preservado, ampliando o conhecimento sobre os primeiros artrópodes.

Um fóssil raro e surpreendente acaba de ser identificado por paleontólogos no Canadá. O Mosura fentoni, como foi batizado, viveu há 506 milhões de anos e apresenta características inéditas entre os radiodontes, grupo de predadores extintos dos mares do período Cambriano.

A descoberta foi publicada na revista Royal Society Open Science e revela mais detalhes sobre a diversidade e a evolução precoce dos artrópodes.

Predador com três olhos e garras afiadas

O fóssil foi encontrado no famoso Folhelho Burgess, na Colúmbia Britânica. A criatura media cerca do tamanho de um dedo indicador, tinha três olhos, garras espinhosas e uma boca circular cheia de dentes.

Nadadeiras laterais ajudavam na locomoção. Apesar do tamanho modesto, o animal era um caçador ativo e compartilhou o ambiente com outras espécies, como o Anomalocaris canadensis, um predador de cerca de um metro.

Uma das principais novidades do Mosura é a presença de uma região corporal semelhante a um abdômen, com 16 segmentos e estruturas respiratórias.

Segundo Joe Moysiuk, curador de Paleontologia e Geologia do Museu de Manitoba, essa característica é rara e lembra a morfologia de animais modernos, como caranguejos-ferradura e insetos. Para ele, é um exemplo claro de convergência evolutiva.

Espécime fóssil de Mosura fentoni, ROMIP 66108, do sítio da Pedreira Raymond, fotografado sob diferentes condições de iluminação. A forma geral do corpo é melhor visualizada na imagem à esquerda, enquanto a imagem à direita mostra traços refletivos do intestino, sistema circulatório, olhos e sistema nervoso. Crédito: Jean-Bernard Caron ROM

A “mariposa-do-mar” e sua anatomia impressionante

Durante as escavações, o novo predador recebeu um apelido curioso dos cientistas: “mariposa-do-mar”.

O nome vem do formato das nadadeiras e do corpo estreito na parte traseira, que lembravam o voo de uma mariposa. Isso inspirou o nome científico Mosura fentoni, uma referência ao monstro fictício japonês Mothra.

Apesar do nome, o animal está longe de ser uma mariposa real. Ele faz parte de um ramo ancestral dos artrópodes, grupo que inclui insetos, aranhas e crustáceos.

Os radiodontes, como explica Jean-Bernard Caron, coautor do estudo, foram os primeiros a se diversificar na árvore evolutiva dos artrópodes. A descoberta reforça a ideia de que esses seres antigos já eram incrivelmente diversos.

Além da forma externa, os fósseis de Mosura revelaram partes internas raramente preservadas. Elementos do sistema nervoso, sistema digestivo e até vestígios do sistema circulatório ficaram registrados. “Poucos sítios no mundo permitem ver esse nível de detalhe em tecidos moles”, afirma Caron, curador do Museu Real de Ontário.

Diagrama anatômico de Mosura fentoni, mostrando detalhes preservados do sistema nervoso em roxo, do sistema digestivo em verde e do sistema circulatório em laranja. Crédito: Arte de Danielle Dufault ROM

Sistema circulatório com vestígios bem preservados

O Mosura não tinha veias ou artérias como os seres humanos. Seu sangue circulava por lacunas – grandes cavidades internas onde o coração bombeava o fluido.

Essas lacunas foram preservadas como manchas brilhantes nos fósseis, se espalhando até as nadadeiras. Esse padrão ajudou a resolver dúvidas sobre estruturas parecidas vistas em outros fósseis.

Essas lacunas bem preservadas são uma chave para entender sistemas parecidos já encontrados em fósseis antigos, mas que antes eram mal interpretados”, diz Moysiuk, que também atua como Pesquisador Associado no ROM. “Elas confirmam a origem antiga desse tipo de circulação.”

Fósseis revelam tesouros esquecidos

A maioria dos fósseis de Mosura foi coletada pelo Museu Real de Ontário entre 1975 e 2022, principalmente na Pedreira Raymond, dentro do Parque Nacional de Yoho.

Alguns exemplares também foram encontrados na região do Cânion Marble, no Parque Nacional de Kootenay, a cerca de 40 km de distância.

Um fóssil ainda mais antigo foi descoberto por Charles Walcott, responsável por revelar o Folhelho Burgess ao mundo.

A descoberta reforça o valor dos acervos científicos. “Se você acha que já viu tudo, basta abrir uma gaveta de museu”, brinca Moysiuk.

Para os pesquisadores, os acervos guardam informações valiosas ainda a serem interpretadas, mesmo décadas após a coleta dos materiais.

Um patrimônio mundial de ciência e história

Os fósseis foram encontrados em sítios administrados pela Parks Canada, nos Parques Nacionais de Yoho e Kootenay.

A região do Folhelho Burgess foi reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1980, por seu valor único para a história da Terra. A Parks Canada mantém o local aberto a visitas guiadas, promovendo a educação e a ciência.

No futuro, o público poderá ver o Mosura fentoni de perto. Um exemplar será exibido pela primeira vez no Museu de Manitoba, em Winnipeg.

Outros fósseis de radiodontes já estão disponíveis na Galeria Willner Madge, no ROM, em Toronto.

A nova espécie se junta a outras descobertas recentes de radiodontes, como Stanleycaris, Cambroraster e Titanokorys, ampliando o conhecimento sobre o período Cambriano.

Os cientistas seguem analisando novos fósseis da região, em busca de mais pistas sobre os primeiros animais do planeta.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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