O preço médio dos carros novos no Brasil ultrapassou R$ 150 mil em agosto de 2025. SUVs dominam as vendas no varejo, enquanto modelos populares como o Fiat Mobi dependem quase só de vendas diretas
O setor automotivo brasileiro vive um momento de virada. Dados divulgados pela K.LUME Consultoria, com base nos emplacamentos da Fenabrave, mostram que em agosto o preço médio dos carros de passeio vendidos no país passou pela primeira vez da barreira dos R$ 150 mil, chegando a R$ 152.727,40.
O número representa um salto de 3,4% em relação a julho, quando o valor médio estava em R$ 147.769,80.
A alta não se explica apenas por reajustes de tabela, mas pelo próprio perfil de consumo: os modelos que se mantêm fortes no varejo estão concentrados nos SUVs compactos e médios, faixa de veículos que hoje dificilmente custa menos de R$ 150 mil e que, em versões mais completas, já rondam os R$ 200 mil.
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SUVs dominam o ranking e ditam o novo padrão
O reflexo dessa transformação aparece no ranking de vendas. Em agosto, o Toyota Corolla Cross, com preço inicial de R$ 188.990, foi o terceiro carro mais emplacado do país, com 7.737 unidades.
Logo atrás vieram o Volkswagen T-Cross, com 7.702, e o Hyundai Creta, com 6.649. Outro modelo em destaque foi o Fiat Fastback, que somou 5.040 unidades.
Esses SUVs representam o perfil do consumidor que ainda consegue se manter ativo no varejo, mesmo diante de juros altos e de uma economia em ritmo lento.
São clientes menos dependentes de financiamento e com maior poder de compra.
Já entre os modelos populares, a situação é diferente. O Fiat Mobi, com preço mais baixo, teve 6.877 emplacamentos no mesmo período, mas quase todas as unidades (97,6%) foram direcionadas a vendas diretas para locadoras, PcDs e motoristas de aplicativo.
Ou seja: o varejo tradicional praticamente desapareceu para esse segmento.
Juros altos e economia fraca afastam público de entrada
Segundo a K.LUME, o fenômeno não significa que os carros caros estejam vendendo muito mais, mas que os baratos vendem cada vez menos.
A explicação está no crédito. As taxas elevadas da Selic dificultam o acesso ao financiamento, expulsando do mercado o consumidor que depende de parcelamento para adquirir um veículo.
Nem mesmo a redução do IPI conseguiu frear essa tendência. Enquanto os SUVs médios e compactos seguem firmes nas primeiras posições, os hatches acessíveis sobrevivem apenas no canal corporativo, sem força entre clientes individuais.
No acumulado de 2025, os números confirmam o cenário: o Volkswagen T-Cross soma 53.551 unidades, o Honda HR-V aparece com 36.086, o Chevrolet Tracker tem 34.212 e o Corolla Cross chegou a 36.955. Todos dentro da faixa de preços acima de R$ 150 mil.
Um mercado mais restrito e concentrado
O retrato atual do setor mostra que a combinação de juros elevados e economia desaquecida redesenha o mercado brasileiro.
Hoje, o varejo concentra-se em consumidores que conseguem pagar SUVs mais caros, enquanto o público tradicional de entrada perde espaço rapidamente.
Esse movimento faz com que o ticket médio dos carros novos atinja patamares inéditos, afastando grande parte da população e restringindo a base de compradores.
Para especialistas, caso o cenário de crédito não mude, a tendência é que o mercado continue a se concentrar em faixas mais altas, aprofundando a exclusão do consumidor de menor renda e reduzindo a competitividade dos veículos populares.