Pesquisadores italianos desenvolveram um sistema que identifica pessoas usando apenas os sinais de Wi-Fi em um ambiente. Sem precisar de câmeras ou celulares, a tecnologia alcança mais de 95% de precisão e pode transformar qualquer roteador em uma ferramenta de rastreamento biométrico invisível.
A vigilância digital deu mais um passo ousado. Agora, nem câmeras, celulares ou dispositivos vestíveis são necessários para identificar alguém.
Pesquisadores da Universidade La Sapienza de Roma desenvolveram uma nova técnica que permite rastrear pessoas apenas com sinais de Wi-Fi. O sistema recebeu o nome de WhoFi.
Essa inovação transforma os sinais de Wi-Fi em uma ferramenta capaz de reconhecer indivíduos com base em como seus corpos afetam as ondas ao se moverem por ambientes conectados.
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A precisão do método surpreende: até 95,5%, segundo os testes realizados.
Biometria invisível
O WhoFi utiliza uma abordagem conhecida como Channel State Information (CSI), ou Informações de Estado do Canal.
Essa técnica analisa como os sinais de Wi-Fi se comportam ao atravessar ambientes e encontrar obstáculos como paredes, móveis — e corpos humanos.
De acordo com os pesquisadores Danilo Avola, Daniele Pannone, Dario Montagnini e Emad Emam, as distorções causadas pela presença de uma pessoa são únicas o suficiente para gerar uma espécie de impressão digital.
Esses dados, quando processados por redes neurais profundas, tornam-se identificadores biométricos.
A arquitetura usada no estudo foi baseada em transformadores, modelos de inteligência artificial conhecidos por seu desempenho em tarefas complexas.
A equipe aplicou a técnica no conjunto público de dados NTU-Fi, conseguindo resultados superiores aos métodos anteriores, como o sistema EyeFi, de 2020, que alcançava apenas 75% de precisão.
Nova forma de reidentificação
A reidentificação não é um conceito novo. Ela já é comum em sistemas de câmeras de segurança, que analisam características como roupas ou movimentos para rastrear uma pessoa de um local a outro. A diferença está no meio utilizado.
Com sinais de Wi-Fi, o reconhecimento se torna invisível. Não há necessidade de iluminação, nem de linha de visão direta. Além disso, esses sinais atravessam paredes, o que amplia a área de cobertura da vigilância. Isso representa uma mudança importante na forma como os dados biométricos podem ser coletados.
Outro ponto relevante é que, à primeira vista, esse método pode parecer menos invasivo, já que não envolve imagens ou gravações explícitas.
No entanto, o fato de funcionar sem que a pessoa carregue um celular ou esteja em frente a uma câmera levanta novos debates sobre privacidade.
Impacto da tecnologia Wi-Fi Sensing
O avanço do WhoFi ocorre em um cenário de transformação do próprio Wi-Fi. Desde 2020, com a aprovação da especificação IEEE 802.11bf, a tecnologia ganhou uma nova função: a de sensoriamento ambiental.
A Wi-Fi Alliance, responsável por promover os padrões da rede sem fio, vem incentivando o uso do chamado Wi-Fi Sensing.
A ideia é que roteadores e pontos de acesso possam funcionar também como sensores, detectando movimentos, presença e agora até perfis biométricos.
Isso amplia as possibilidades de aplicação em áreas como segurança, automação residencial e monitoramento de ambientes. Porém, também abre espaço para o rastreamento passivo sem consentimento explícito.
Precisão surpreendente
O WhoFi se destaca por sua precisão. Com até 95,5% de acerto na reidentificação de indivíduos, a tecnologia mostra um salto em relação a sistemas anteriores.
Essa taxa foi alcançada mesmo com variações no ambiente e sem a necessidade de qualquer dispositivo com a pessoa monitorada.
A pesquisa foi publicada como pré-impressão no arXiv, um repositório de estudos ainda não revisados por pares. Mesmo assim, o trabalho já desperta atenção na comunidade científica e em setores ligados à segurança digital.
A possibilidade de identificar alguém apenas pelos efeitos de seu corpo sobre sinais Wi-Fi abre novas discussões sobre os limites entre inovação tecnológica e privacidade pessoal.