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Portos de Pecém e Suape passam por transformação bilionária para exportar hidrogênio verde. Obras, usinas e contratos prometem colocar Brasil no centro da revolução energética

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 22/08/2025 às 07:55
Portos de Pecém e Suape passam por transformação bilionária para exportar hidrogênio verde
Foto: Portos de Pecém e Suape passam por transformação bilionária para exportar hidrogênio verde
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Porto de Pecém e Suape passam por transformação bilionária para exportar hidrogênio verde: píeres ampliados, usinas acopladas e contratos com Europa e Ásia prometem colocar o Brasil no centro da maior revolução energética do século

Dois portos nordestinos estão prestes a redefinir o papel do Brasil no cenário energético global. Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, se tornaram epicentros de megaprojetos bilionários voltados para a exportação de hidrogênio verde e seus derivados, como amônia e e-metanol.

Se no passado essas regiões foram sinônimo de exportação de minério e petróleo, agora elas podem se tornar os grandes corredores de saída da energia limpa brasileira para a Europa e a Ásia. O que está em jogo é um mercado que pode movimentar trilhões de dólares até 2050 e reposicionar o Brasil como protagonista da transição energética global.

Pecém: o hub mais avançado

O Porto do Pecém lidera a corrida. Apoiado pelo Banco Mundial e pelo programa H2Brasil, financiado pela Alemanha, o complexo já conta com dezenas de memorandos de entendimento assinados com multinacionais interessadas em instalar usinas de hidrogênio verde.

Entre os projetos anunciados, estão plantas que podem somar 500 MW de capacidade, transformando energia solar e eólica em hidrogênio e, posteriormente, em amônia para exportação. O porto já tem acordo direto com o Porto de Roterdã, na Holanda, criando um corredor verde que pode abastecer toda a União Europeia em poucos anos.

Além disso, empresas chinesas como a Envision e a estatal SPIC já confirmaram interesse em fornecer equipamentos e investir na região, mostrando que o Ceará se tornou palco de uma disputa geopolítica silenciosa entre Europa e China.

Suape: o polo de e-metanol

Em Pernambuco, o Porto de Suape segue caminho parecido. Já recebeu projetos voltados para a produção de e-metanol, combustível sintético obtido a partir do hidrogênio verde combinado com CO₂ biogênico. O investimento inicial anunciado ultrapassa R$ 2 bilhões e envolve parcerias com grupos internacionais.

Suape também foi incluído pelo Ministério de Minas e Energia como um dos hubs estratégicos do Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2), o que deve garantir acesso a linhas de financiamento federais e internacionais. A expectativa é que o porto se torne referência na exportação de derivados de hidrogênio para o mercado asiático, especialmente Japão e Coreia do Sul.

A corrida da infraestrutura

Transformar Pecém e Suape em plataformas de exportação de hidrogênio verde exige obras de infraestrutura gigantescas:

  • Ampliação de píeres para movimentar navios especializados no transporte de amônia e metanol.
  • Construção de áreas exclusivas para armazenar derivados de hidrogênio em segurança.
  • Instalação de gasodutos internos para conectar usinas de produção aos terminais portuários.
  • Integração com parques solares e eólicos já em operação no Nordeste, que fornecem a eletricidade renovável necessária para a eletrólise.

O custo total ainda não foi consolidado, mas especialistas estimam que os investimentos em infraestrutura ultrapassem R$ 15 bilhões nos próximos anos.

Europa e Ásia de olho no Nordeste

Os primeiros contratos já apontam quem serão os principais compradores: União Europeia e Ásia. A Alemanha, que busca reduzir sua dependência do gás russo, já declarou interesse em importar hidrogênio verde brasileiro. O Porto de Roterdã assinou memorandos para receber amônia do Ceará.

Do outro lado do mundo, Japão e Coreia do Sul já sondam o Brasil como fornecedor alternativo de energia limpa para alimentar sua indústria pesada, altamente dependente de combustíveis fósseis.

Essa procura internacional reforça o peso estratégico de Pecém e Suape: quem dominar esses hubs controlará a porta de saída do hidrogênio verde brasileiro para o mundo.

O risco de exportar apenas energia bruta

Apesar do otimismo, especialistas alertam: o Brasil corre o risco de repetir o erro histórico de exportar apenas matéria-prima barata. Se o hidrogênio produzido no Nordeste for vendido como amônia para consumo europeu, o país pode perder a chance de desenvolver uma cadeia industrial interna de maior valor agregado, como siderurgia verde, fertilizantes sustentáveis e combustíveis sintéticos para aviação.

Para evitar isso, governos estaduais e o próprio PNH2 defendem políticas de conteúdo local e transferência de tecnologia, que garantam que parte da riqueza fique no país.

Empregos e transformação regional

Além do impacto global, os projetos de Pecém e Suape podem gerar benefícios locais gigantescos. Estimativas preliminares apontam para a criação de mais de 50 mil empregos diretos e indiretos nos próximos dez anos, apenas nas fases de construção e operação das plantas.

Para o Nordeste, historicamente marcado por desigualdades, o hidrogênio verde surge como uma oportunidade de transformação socioeconômica, criando uma nova vocação industrial baseada em tecnologia e energia limpa.

A chegada de uma nova era dos portos brasileiros

Pecém e Suape já foram símbolos da exportação de minério, petróleo e derivados. Agora, caminham para se tornar os principais hubs de hidrogênio verde do Hemisfério Sul, colocando o Brasil no centro de uma corrida energética que pode definir o futuro da indústria mundial.

Se souber aproveitar essa janela histórica, o país poderá não apenas exportar energia limpa, mas também consolidar uma nova matriz de desenvolvimento baseada em inovação, sustentabilidade e integração global.

O desafio é garantir que os trilhões prometidos pelo hidrogênio verde se transformem em riqueza e progresso para os brasileiros — e não apenas em contratos vantajosos para potências estrangeiras.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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