Três irmãos nascidos em Nova York nos anos 1960 foram separados ao nascer, criados sem saber um do outro e observados secretamente em um estudo. O caso permanece envolto em segredo até 2065, quando os documentos serão abertos.
Três irmãos idênticos nascidos em julho de 1961, em um subúrbio de Nova York, foram separados ainda bebês e adotados por famílias diferentes, sem que seus pais adotivos tivessem conhecimento da existência dos demais.
O caso, que ganhou grande repercussão ao ser revelado, permanece cercado de dúvidas e só terá respostas completas em 2065, quando documentos confidenciais sobre o experimento serão finalmente abertos ao público.
Encontro inesperado e repercussão internacional
Conforme uma matéria da BBC, a surpreendente história começou a se desenrolar em 1980, quando Robert “Bobby” Shafran, aos 19 anos, chegou ao seu primeiro dia no Sullivan Community College, no Estado de Nova York.
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Imediatamente, foi recebido por colegas e funcionários como se fosse um velho conhecido chamado Eddie.
A semelhança era tamanha que Michael Domnitz, amigo de Eddie Galland, não hesitou em perguntar a Bobby se ele era adotado e se seu aniversário era 12 de julho de 1961.
Ao confirmar as coincidências, Bobby e Michael procuraram Eddie, dando início a uma série de descobertas que transformaria para sempre suas vidas.
O reencontro entre Bobby e Eddie foi descrito por Bobby como “esquisito e fantástico”, destacando como até mesmo detalhes triviais, como problemas nos lábios durante o inverno, eram idênticos entre eles.
A mídia nova-iorquina rapidamente noticiou o caso, chamando a atenção de David Kellman, que também possuía a mesma data de nascimento e características físicas idênticas.
David identificou-se imediatamente ao ver fotos publicadas em jornais e, após entrar em contato, confirmou ser o terceiro irmão do trio de gêmeos.
Convivência, diferenças e tragédia familiar
Após o reencontro, os três irmãos rapidamente se tornaram celebridades, participando de programas de TV e entrevistas.
Decidiram morar juntos e até abriram um restaurante, chamado Triplets, em referência ao vínculo recém-descoberto.
No entanto, a convivência diária acabou revelando diferenças de personalidade e conflitos, o que levou Bobby a se afastar do negócio.
A situação emocional de Eddie também se agravou, culminando em sua morte, em 1995, após um período de depressão.
Separação, agência de adoção e experimento científico
Com a revelação dos laços biológicos, os pais adotivos dos irmãos buscaram explicações junto à agência responsável, a extinta Louise Wise Services, em Nova York.
A justificativa apresentada foi de que seria difícil encontrar uma família disposta a adotar três irmãos de uma só vez.
Contudo, mais tarde, foi descoberto que a separação dos irmãos fazia parte de um estudo científico conduzido pelo psicanalista austríaco Peter Neubauer.
O experimento tinha como objetivo analisar até que ponto o ambiente ou a genética influenciam o desenvolvimento humano.
Conforme relataram Bobby e David, durante a infância, suas famílias recebiam regularmente pesquisadores que aplicavam testes, filmavam interações cotidianas e avaliavam seu desempenho em diversas tarefas.
Essas visitas ocorreram até que os irmãos completassem dez anos.
Apesar da insistência dos pais adotivos, os verdadeiros propósitos das visitas e do estudo jamais foram revelados durante a infância dos meninos.
Sigilo dos dados e revelações futuras
As revelações sobre o experimento vieram à tona anos depois, graças à investigação do jornalista Lawrence Wright.
Ele localizou referências em artigos científicos sobre um estudo secreto envolvendo a separação de gêmeos idênticos para análise comparativa do impacto da genética e do ambiente na formação do indivíduo.
Peter Neubauer e sua equipe acompanharam diversas famílias, mas os dados coletados nunca foram publicados.
Os documentos oficiais do estudo estão mantidos sob sigilo na Universidade Yale, com previsão de serem abertos apenas em 2065.
Isso impede, até o momento, que os irmãos e o público conheçam o real impacto do experimento ou mesmo quantas crianças foram afetadas pelo procedimento.
Segundo relatos, ao menos quatro pares de gêmeos idênticos participaram da pesquisa.
Consequências psicológicas e ética científica
Os irmãos relataram que, durante a infância, apresentavam comportamentos semelhantes, como agressividade e episódios de bater a cabeça no berço, o que foi interpretado, posteriormente, como possíveis sinais de ansiedade de separação.
O caso levantou questionamentos éticos relevantes sobre os limites da pesquisa científica, o consentimento das famílias e os direitos das crianças adotadas.
Bobby e David expressam o desejo de que, futuramente, as informações geradas possam contribuir de forma positiva para outras crianças, apesar do sofrimento causado.
“Seria bom saber se algumas conclusões fossem úteis. Para que tudo isso não tivesse sido em vão”, afirmou Bobby em entrevista à BBC.
Documentário e cultura pop
Em 2019, a história dos três irmãos ganhou um novo capítulo com o lançamento do documentário “Three Identical Strangers” (“Três Estranhos Idênticos”), dirigido por Tim Wardle.
A produção reconstitui a trajetória dos irmãos e traz à tona debates sobre ética, ciência e identidade.
Mesmo com a ampla cobertura na mídia e os desdobramentos documentais, grande parte dos detalhes sobre o experimento permanece desconhecida.
O acesso aos arquivos selados, previsto para 2065, pode finalmente elucidar o mistério que cerca a vida dos irmãos e o real propósito do estudo.
Diante desse cenário, permanece a dúvida:
Até que ponto é aceitável submeter vidas humanas a experimentos científicos em nome do avanço do conhecimento?