Os voos domésticos no Brasil lideram o ranking de preços na América Latina. Saiba por que viajar de avião no país custa mais caro.
Os voos domésticos no Brasil seguem liderando o ranking de tarifas mais altas da América Latina, segundo estudos recentes.
O levantamento, divulgado pela plataforma de inteligência turística Mabrian, aponta que o preço médio de uma passagem no país chega a US$ 135 (cerca de R$ 722), quase o dobro do valor registrado no Peru.
A ausência de companhias low cost, os altos custos estruturais e a concentração do mercado em poucas empresas explicam parte desse cenário, que afeta milhões de passageiros.
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Brasil paga mais caro para voar dentro do próprio país
De acordo com os dados, o custo médio por milha em voos domésticos brasileiros é de US$ 0,093 (aproximadamente R$ 0,50).
Em países vizinhos, como Colômbia e Peru, esse valor cai para menos da metade.
A diferença fica ainda mais evidente em rotas comparáveis. Um voo entre São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, pode custar R$ 740, enquanto trajetos maiores, como Buenos Aires-Córdoba, são vendidos por cerca de R$ 251.
O problema ganhou destaque recente durante a preparação para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém.
Passageiros relataram dificuldades em encontrar voos com valores acessíveis, já que as distâncias longas e o custo do combustível elevam os preços ainda mais.
Ausência de companhias low cost no Brasil
Enquanto países como Chile, Peru e Colômbia já consolidaram o modelo de companhias low cost — empresas que oferecem passagens mais baratas, mas cobram por serviços adicionais —, o Brasil permanece atrás.
Segundo Emilio Inés Villar, especialista em turismo internacional da The Data Appeal Company, fatores como carga tributária pesada, infraestrutura limitada e instabilidade econômica afastam novas iniciativas.
“As tentativas de introduzir opções de baixo custo não deram frutos no Brasil”, afirmou.
Um exemplo foi a Webjet, que chegou a operar com modelo semelhante, mas encerrou as atividades em 2012 após ser comprada pela Gol.
Concentração de mercado e custos operacionais
Atualmente, apenas três companhias aéreas — Gol, Azul e Latam — dominam o mercado de voos domésticos no Brasil.
Para especialistas, essa concentração limita a competitividade e contribui para manter as tarifas elevadas.
Além disso, há outros custos que pesam no bolso do passageiro. Taxas aeroportuárias, impostos e a falta de aeroportos alternativos em grandes centros aumentam a pressão sobre os preços.
Olivier Girard, sócio fundador da Macroinfra, explica: “No caso de São Paulo, não existe um aeroporto próximo que possa ser mais barato além de Congonhas e Guarulhos. O de São José dos Campos poderia ser uma opção, mas não tem infraestrutura adequada”.
Desafios de um território extenso
Outro fator que encarece os voos domésticos no Brasil é a dimensão continental do país. Cidades como Belém e Manaus enfrentam tarifas que frequentemente ultrapassam os R$ 2 mil em viagens de ida e volta, muitas vezes com escalas longas.
Girard lembra ainda que há uma escassez mundial de aeronaves de médio porte, o que impacta diretamente regiões que exigem deslocamentos longos.
As companhias acabam priorizando rotas mais lucrativas, como São Paulo-Rio de Janeiro, em detrimento de cidades mais distantes.
Comparação com outros países
Nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, companhias aéreas recebem subsídios para operar em regiões isoladas.
Já na Argentina, a estatal Aerolíneas Argentinas mantém rotas pouco rentáveis como forma de garantir a conectividade do país.
No Brasil, cerca de apenas 2% dos municípios contam com voos regulares, número considerado insuficiente para atender à demanda nacional.
Falta de transporte alternativo pressiona passagens aéreas
Outro ponto que encarece as tarifas é a ausência de transporte ferroviário de alta velocidade.
Especialistas lembram que a rota Rio-São Paulo, uma das mais movimentadas do mundo, não possui trem-bala como alternativa.
Para Adalberto Felibiano, especialista em economia do transporte aéreo, isso aumenta a dependência do avião.
“Na Europa, o principal concorrente do avião é o tráfego ferroviário. São concorrentes plausíveis que tornam os preços mais equilibrados”, destaca.
Apesar de projetos como o TAV Brasil terem voltado à pauta, o país ainda está distante de oferecer alternativas reais.
Tentativas de soluções governamentais
Em 2024, o governo lançou o programa Voa Brasil, que previa passagens por R$ 200 para aposentados do INSS em voos de baixa ocupação.
No entanto, a adesão foi baixa: apenas 1% dos bilhetes disponíveis foram vendidos.
Especialistas acreditam que medidas mais estruturais, como incentivos à chegada de companhias low cost e investimentos em infraestrutura, são essenciais para mudar o atual cenário.