Apesar da proximidade com o Oceano Pacífico, os bombeiros de Los Angeles evitam o uso de água salgada no combate a incêndios florestais. Quais são os motivos por trás dessa decisão e quais os desafios enfrentados pelas equipes de emergência?
A temporada de incêndios florestais em Los Angeles começou de forma devastadora, dando muito trabalho para os bombeiros. Enquanto colinas de Pacific Palisades queimam intensamente,, milhares de pessoas são forçadas a abandonar suas casas, fugindo das chamas vorazes.
No final de semana, o incêndio em Palisades havia consumido mais de 36 mil acres e tirado pelo menos 25 vidas, enquanto a fumaça tingia o céu de cinza.
O cenário é desolador. Hidrantes secos, recursos esgotados e uma pressão crescente sobre os bombeiros levantam uma pergunta intrigante: por que, com o Oceano Pacífico tão próximo, não usar sua abundante água para combater os incêndios? A resposta é mais complicada do que parece.
-
O segredo das ‘estradas submersas’ do Ceará não é a maré
-
Lucro de 17.000.000%: investidores que seguraram bitcoins desde 2011 realizam maior ganho da história
-
Quanta água potável realmente temos? O dado que revela como a maior riqueza da Terra é, na verdade, escassa
-
Trump ordenou hoje o envio de dois submarinos nucleares após ex-presidente da Rússia falar em ‘apocalipse’
Água salgada: por que não é a solução para os bombeiros?
Nas áreas afetadas, como Pacific Palisades, a falta de água tornou o combate aos incêndios ainda mais desafiador.
Segundo Ryan Babroff, bombeiro voluntário envolvido na luta contra o Eaton Fire, a ausência de água nos hidrantes cria um dilema crítico. “Como você combate um incêndio sem água?”, questiona ele.
A infraestrutura de água da cidade, projetada para incêndios urbanos, mostra-se inadequada para megaincêndios de rápida propagação.
Cerca de 20% dos hidrantes em Los Angeles ficaram secos, conforme relatado pela prefeita Karen Bass. Janisse Quiñones, engenheira chefe do Departamento de Água e Energia de Los Angeles (LADWP), admitiu que o sistema foi levado ao extremo.
A água é essencial no combate a incêndios, pois resfria materiais e umedece áreas para prevenir novas chamas.
Mas o uso de água salgada traz desafios ambientais e logísticos que complicam sua aplicação em grande escala.
Impactos ambientais da água salgada
Quando a água do mar evapora após ser usada em incêndios, o sal que fica para trás causa salinização do solo, um processo que torna o terreno infértil.
Tim Chavez, ex-chefe assistente do Cal Fire, explica: “Água salgada é um esterilizador do solo. Depois de usá-la, você não consegue cultivar nada naquela área por anos.”
Além disso, o sal prejudica o movimento de nutrientes no solo e pode ser tóxico para plantas menos tolerantes.
O problema não para no solo. A salinização pode atingir fontes de água doce próximas, contaminando suprimentos e interrompendo ecossistemas sensíveis. O impacto ambiental a longo prazo seria devastador.
Corrosão de equipamentos dos bombeiros
Os equipamentos usados pelos bombeiros — como mangueiras e caminhões — não são projetados para suportar a exposição prolongada à água salgada.
O sal corrói metais como ferro e aço, comprometendo a eficácia e a segurança dos equipamentos. “Atualizar toda a frota para lidar com água salgada seria extremamente caro”, afirma Ping Furlan, químico e professor da US Merchant Marine Academy.
Embora existam materiais resistentes à corrosão, como o aço de grau marítimo, seu custo é inviável para uso em larga escala. Assim, o uso de água do mar seria mais uma solução paliativa do que prática.
Desafios logísticos
Mesmo que os problemas ambientais e de corrosão fossem resolvidos, acessar e transportar água do oceano é uma tarefa monumental.
Caminhões de bombeiros não conseguem operar diretamente na costa, e a infraestrutura atual não foi projetada para extrair água do mar em emergências.
Helicópteros e aviões, por outro lado, são capazes de usar água do oceano em situações específicas. Durante o incêndio de Palisades, aviões Bombardier CL-415, conhecidos como “super scoopers”, coletaram água diretamente do mar para despejá-la sobre as chamas.
Cada aeronave transporta cerca de 1.600 galões por viagem, mas esse processo é limitado por fatores como vento forte e a precisão necessária para evitar danos colaterais.
“Despejar água do ar sobre áreas residenciais pode causar danos por impacto, dado o peso da água”, explica Thomas, especialista em combate a incêndios aéreos. Por isso, essa estratégia é geralmente reservada para áreas selvagens e desabitadas.
Casos em que a água salgada é usada
Apesar das dificuldades, a água do mar já foi usada em situações de extrema necessidade. No entanto, mesmo nesses casos, ela é aplicada de forma limitada e estratégica. Durante o incêndio em Palisades, a água do oceano ajudou a conter o avanço das chamas em áreas críticas, mas não foi suficiente para resolver o problema como um todo.
Além disso, o uso de água salgada é sempre uma medida emergencial, e não uma solução sustentável. O transporte, o risco ambiental e os custos associados tornam impraticável sua adoção em grande escala.
O futuro dos incêndios florestais na Califórnia
Os incêndios florestais em Los Angeles são um reflexo de problemas maiores, como mudanças climáticas e crescimento urbano desordenado.
A intensidade e a frequência desses eventos estão aumentando, colocando pressão sobre sistemas que já estão no limite.
Governos locais e estaduais enfrentam a difícil tarefa de investir em infraestrutura resiliente e tecnologias inovadoras para enfrentar essa nova realidade.