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Por que o Litoral desse estado brasileiro é tão esquecido?

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 09/11/2025 às 21:25
Litoral do Piauí enfrenta histórico de isolamento e investimentos pontuais, enquanto abriga o raro Delta do Parnaíba e busca integrar-se às grandes rotas do turismo nordestino.
Litoral do Piauí enfrenta histórico de isolamento e investimentos pontuais, enquanto abriga o raro Delta do Parnaíba e busca integrar-se às grandes rotas do turismo nordestino.
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Com o menor litoral do Brasil, o Piauí guarda um fenômeno natural raro nas Américas e um dos maiores potenciais de ecoturismo do país. Ainda assim, o estado enfrenta desafios históricos, logísticos e estruturais que limitam seu desenvolvimento costeiro.

Com apenas 66 quilômetros de costa, o litoral do Piauí é o menor do Brasil e se estende entre o Ceará e o Maranhão.

Apesar do tamanho reduzido, abriga um dos fenômenos naturais mais raros das Américas: o Delta do Parnaíba, formação em mar aberto que reúne dezenas de ilhas, manguezais e canais.

Mesmo assim, a região segue fora das principais rotas turísticas do Nordeste.

Especialistas apontam razões históricas, geográficas e estruturais para esse cenário.

Formação histórica e ocupação voltada para o interior

Diferentemente de outros estados nordestinos, o Piauí se desenvolveu a partir do interior.

A colonização avançou pelo sertão, impulsionada pela pecuária e por rotas comerciais que ligavam o Nordeste ao Norte do país.

O contato com o mar ocorreu de forma tardia.

Até o fim do século XIX, a faixa litorânea nem fazia parte do território piauiense.

A integração veio após um acordo político com o Ceará, que resultou na troca de áreas do interior por um pequeno trecho costeiro.

Essa incorporação tardia explica, segundo historiadores, por que o estado cresceu sem portos estruturados, tradição marítima ou atividade pesqueira de grande escala.

Capital distante e pouca integração costeira

Vista aérea do Delta do Parnaíba no litoral do Piauí, onde o rio deságua em mar aberto entre dunas e mangues. (Imagem: Agência Nacional de Águas/ANA)
Vista aérea do Delta do Parnaíba no litoral do Piauí, onde o rio deságua em mar aberto entre dunas e mangues. (Imagem: Agência Nacional de Águas/ANA)

A localização de Teresina, a cerca de 320 quilômetros do mar, também contribuiu para o isolamento do litoral.

A capital, fundada no encontro dos rios Parnaíba e Poti, consolidou-se como centro administrativo e econômico, mas longe da costa.

Sem uma metrópole litorânea próxima, as cidades costeiras — Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia — cresceram de forma limitada e com menor capacidade de atrair investimentos públicos e privados.

Analistas afirmam que essa distância física criou um afastamento simbólico: enquanto outras capitais nordestinas se urbanizavam voltadas para o mar, o Piauí manteve sua economia orientada para o interior.

O Delta do Parnaíba e o potencial ambiental

O Delta do Parnaíba é apontado por pesquisadores como um dos principais ativos ambientais e turísticos do estado.

A formação, rara em mar aberto, possui grande biodiversidade, com dunas, ilhas e áreas alagadas.

Mesmo com esse potencial, a região ainda enfrenta dificuldades de acesso e falta de infraestrutura turística consolidada.

De acordo com especialistas em ecoturismo, o delta reúne condições para atrair visitantes interessados em turismo de natureza, observação de aves e passeios fluviais, mas o desenvolvimento sustentável da área depende de planejamento e controle ambiental.

Acesso por terra e pelo ar ainda é desafio

O principal trajeto terrestre entre Teresina e o litoral é a BR-343, que corta mais de 300 quilômetros até Parnaíba.

Apesar das obras de duplicação em alguns trechos, o percurso ainda é considerado longo e cansativo.

Essa distância é apontada como uma das causas para o crescimento lento do fluxo de visitantes e para o isolamento das cidades costeiras.

No transporte aéreo, a situação começou a mudar recentemente.

Após anos de operação restrita, o aeroporto de Parnaíba passou a contar com voo direto para Fortaleza, operado pela LATAM.

Segundo a empresa e o governo estadual, a nova rota deve ampliar o acesso de turistas e integrar o litoral piauiense à malha aérea regional.

Porto e infraestrutura econômica

Praia do Coqueiro em Luís Correia, litoral do Piauí, com faixa de areia clara e mar calmo entre os 66 km de costa do estado. (Imagem: Governo do Piauí)
Praia do Coqueiro em Luís Correia, litoral do Piauí, com faixa de areia clara e mar calmo entre os 66 km de costa do estado. (Imagem: Governo do Piauí)

O porto de Luís Correia, conhecido como Porto Piauí, tornou-se símbolo de promessas não cumpridas.

Durante décadas, o projeto passou por diferentes governos sem entrar plenamente em operação.

Obras foram iniciadas e reinauguradas mais de uma vez, mas sem uso comercial contínuo.

Em 2025, o governo estadual anunciou a conclusão das principais estruturas e negociações com empresas para atrair navios cargueiros.

Caso o cronograma seja mantido, o porto poderá reforçar a logística regional, especialmente para o escoamento de produtos como pescado e sal, segundo a Secretaria de Transportes do estado.

Planejamento irregular e falta de continuidade

Levantamentos de órgãos de turismo e urbanismo mostram que o litoral piauiense sofreu com projetos descontinuados.

Obras em orlas, como a de Atalaia, em Luís Correia, foram reformadas com recursos federais, mas se deterioraram por falta de manutenção.

Em vários municípios, planos de turismo não são atualizados e secretarias locais funcionam de forma limitada.

Especialistas em gestão pública afirmam que a ausência de políticas permanentes gera um ciclo de avanços pontuais e retrocessos.

Obras são inauguradas em períodos eleitorais e, posteriormente, ficam sem manutenção adequada, o que compromete a imagem do destino.

Comparação com destinos vizinhos consolidados

Enquanto o Piauí enfrentava obstáculos de infraestrutura, estados vizinhos consolidaram destinos turísticos de alcance internacional.

Jericoacoara (CE) e Lençóis Maranhenses (MA) se tornaram polos do turismo nordestino, com forte presença de agências e operadoras estrangeiras.

O litoral piauiense, localizado entre os dois, acabou ficando fora dos principais roteiros de viagem.

Segundo guias e profissionais do setor, muitos turistas que percorrem a rota entre Ceará e Maranhão passam pelo Piauí sem pernoitar, o que reduz o impacto econômico do turismo local.

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Inserção na Rota das Emoções

Nos últimos anos, o Piauí passou a integrar a Rota das Emoções, circuito que conecta Jericoacoara, Delta do Parnaíba e Lençóis Maranhenses.

A iniciativa, promovida por órgãos estaduais e pelo Ministério do Turismo, busca fortalecer o ecoturismo e o turismo de aventura.

A inclusão do delta na rota ampliou a visibilidade da região e estimulou a chegada de visitantes, de acordo com dados da Setur-PI.

O desafio, segundo analistas do setor, é transformar essa visibilidade em estadas mais longas e geração de renda local.

Isso depende de capacitação de mão de obra, qualificação de serviços e preservação ambiental, fatores apontados como essenciais para o crescimento sustentável.

Perspectivas e desafios do litoral piauiense

O cenário atual mostra avanços pontuais, como o novo voo direto e a reativação do porto, mas também evidencia a necessidade de políticas estruturantes.

Técnicos do setor de turismo defendem a criação de um planejamento intermunicipal para o litoral, com metas de longo prazo e mecanismos de acompanhamento de obras e manutenção.

Estudos recentes indicam que a diversificação de produtos turísticos, o fortalecimento da gastronomia local e o investimento em infraestrutura básica podem impulsionar a economia costeira.

O potencial é reconhecido, mas especialistas ressaltam que a consolidação do turismo depende de continuidade administrativa e gestão integrada entre os municípios.

A pergunta que permanece é: o litoral do Piauí conseguirá transformar seus avanços recentes em um processo duradouro de desenvolvimento ou continuará restrito a ciclos de promessas?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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