Pesquisadores descobrem como o concreto romano se autorrepara e desafia o tempo — revelando segredos que podem revolucionar a construção moderna.
O concreto romano é famoso por sua durabilidade extrema. Construções como o Panteão de Roma ou o Aqueduto de Segóvia estão de pé há mais de 1.500 anos.
Por mais de dois mil anos, construções com concreto romano resistiram ao tempo, às intempéries e até aos terremotos. Enquanto estruturas modernas de concreto desmoronam após algumas décadas, edifícios como o Panteão e aquedutos antigos continuam de pé.
Isso intriga engenheiros há muito tempo. Afinal, o que torna o concreto romano tão durável? Pesquisadores do MIT acreditam ter encontrado a resposta.
-
Novo celular chinês baratinho, o Honor Play 10C, chega com Dimensity 6300, tela TFT LCD de 6,61 polegadas de 120 Hz e bateria de 6.000 mAh; mas ainda não é vendido no Brasil
-
EUA replicam mísseis terra-ar chinês HQ-22 para treinar pilotos em combates de alta intensidade
-
Como a Shopee mudou as regras do jogo com ajuda de donas de casa e estudantes para passar a valer quase US$ 100 bilhões?
-
Novas câmeras corporais da PM terão reconhecimento facial em mais de 13 mil unidades, integrando operações e reduzindo dependência de equipes especializadas
Concreto que se regenera sozinho
Durante séculos, estudiosos tentaram entender como o concreto romano resiste tanto.
Uma hipótese comum era o uso de cinzas vulcânicas específicas, como a da região de Pozzuoli, na Baía de Nápoles.
Essa substância, conhecida como pozolana, era amplamente usada no Império Romano. Mas um novo estudo sugere que o segredo vai além disso.
O ponto de partida foi a análise de fragmentos brancos, visíveis em amostras antigas de concreto. Chamados de “clastos de cal”, esses pontos brancos eram considerados falhas de mistura.
Porém, o professor Admir Masic, do MIT, sempre desconfiou disso. Se os romanos tinham tanto cuidado com suas obras, por que permitiriam erros tão visíveis?
Mistura a quente: o diferencial oculto
Com técnicas de imagem em alta resolução e mapeamento químico, os pesquisadores descobriram que esses fragmentos não são falhas.
Eles são feitos de várias formas de carbonato de cálcio e foram expostos a altas temperaturas. Isso indica o uso de um processo conhecido como mistura a quente, onde a cal viva é adicionada diretamente ao concreto.
Esse processo, segundo Masic, gera duas vantagens. A primeira é a formação de compostos químicos que não surgiriam com cal apagada.
A segunda é a aceleração da cura do concreto, tornando a construção mais rápida.
Mais importante, esses clastos de cal funcionam como um sistema de autorreparação.
Quando surgem fissuras, elas atravessam os clastos, que reagem com a água e se transformam em cristais de carbonato de cálcio. O resultado: as rachaduras se fecham sozinhas.
Teste comprova a autorreparação
Para comprovar a hipótese, a equipe criou amostras com cal viva, inspiradas nas fórmulas antigas.
Essas amostras foram rachadas e colocadas em contato com água. Em duas semanas, as fissuras desapareceram e a água parou de passar.
Já as amostras feitas sem cal viva não se regeneraram. A água continuou passando, e as rachaduras se mantiveram.
Isso confirmou que o uso da mistura a quente é o principal fator de durabilidade do concreto romano.
Impacto ambiental pode ser reduzido
Segundo Masic, incorporar esse tipo de formulação em concreto moderno pode aumentar sua durabilidade e reduzir o impacto ambiental da construção civil.
A produção de cimento é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Um concreto que dure séculos, sem necessidade de manutenção frequente, pode ajudar a reduzir esse impacto. Além disso, o laboratório de Masic também estuda concretos capazes de absorver CO₂ do ar.
Barreiras para o uso moderno
Apesar dos avanços, o concreto romano ainda não é viável para construções modernas em larga escala. Há razões principais para isso.
Cura: A primeira é o tempo de cura. O concreto romano cura lentamente, às vezes por meses ou anos.
Já o concreto moderno é projetado para endurecer rapidamente, atendendo às demandas de cronogramas apertados.
Falta de ingredientes: A segunda é a dificuldade de obtenção dos ingredientes. A pozolana da região de Pozzuoli, essencial para o desempenho do concreto romano, não está disponível em todos os lugares. Isso limita o uso global da técnica.
Exigências estruturais diferentes: O terceiro fator é a diferença nas necessidades estruturais. O concreto romano era usado em construções maciças e sem armaduras de aço.
Já as construções modernas exigem materiais compatíveis com armaduras metálicas e com resistência tanto à compressão quanto à tração.
Falta de padrão: O quarto ponto é a falta de padrão. Embora seja durável, o concreto romano não seguia uma receita fixa. As misturas variavam conforme a região e o construtor. Isso dificulta a padronização e o controle de qualidade, essenciais na engenharia moderna.
O concreto atual é feito para ser barato e rápido. Ele pode ser moldado, transportado e aplicado com agilidade. Já o romano exige processos mais demorados, o que encarece e atrasa as obras.
Obsolescência programada: obsolescência programada pode ser vista como um obstáculo ao uso do concreto romano na atualidade, principalmente se analisarmos sob a ótica da lógica de mercado atual, que prioriza produtos com ciclo de vida mais curto e trocas frequentes.
A obsolescência programada não ocorre apenas em produtos eletrônicos. No setor da construção, ela se manifesta em:
- Materiais que se deterioram mais rápido.
- Projetos com vida útil limitada.
- Falta de incentivo à longevidade estrutural.
Isso desestimula o uso de tecnologias antigas e mais duráveis, como o concreto romano, pois não geram demanda recorrente por novos materiais, reformas e substituições.
Concreto antigo, ideias novas
Mesmo assim, o estudo do concreto romano inspira novas soluções. A ideia de um material que se repara sozinho está ganhando espaço.
Em tempos de preocupação ambiental e busca por eficiência, uma fórmula que resista por séculos pode revolucionar a engenharia.
O grupo de pesquisa envolvido no estudo inclui cientistas do MIT, Harvard, Itália e Suíça. Eles publicaram suas descobertas na revista Science Advances e estão desenvolvendo versões comerciais do novo concreto baseado em cal viva.
O Museu Arqueológico de Priverno, na Itália, também participou do trabalho, fornecendo apoio e amostras para análise.
Testes com concreto impresso em 3D
Outra possibilidade que empolga os pesquisadores é a aplicação do concreto autorreparável em construções impressas em 3D.
Essa técnica está em crescimento e enfrenta desafios relacionados à durabilidade. Incorporar propriedades de autorreparação pode tornar as construções mais seguras e duradouras.
Para Masic, a inspiração vinda da Roma Antiga pode ajudar a moldar um futuro mais sustentável na construção civil.
Concreto romano ainda surpreende
O Panteão, construído em 128 d.C., segue como um marco da engenharia romana. Com a maior cúpula de concreto não reforçado do mundo, ele mostra que os romanos sabiam o que estavam fazendo.
Hoje, sabemos que a durabilidade desse tipo de construção não é apenas um acaso. É o resultado de uma combinação inteligente de materiais, técnicas e conhecimento. E muito disso passou despercebido por séculos.
Graças à ciência moderna, essas técnicas estão sendo redescobertas. A mistura a quente e os clastos de cal revelam que havia um propósito naquilo que antes parecia um erro.
O futuro pode olhar para o passado
Mesmo que o concreto romano não se torne o padrão da construção moderna, seus princípios podem orientar novos avanços. A ideia de criar materiais que duram mais e exigem menos manutenção é valiosa em qualquer época.
Os pesquisadores mostraram que olhar para trás pode trazer soluções para problemas de hoje. Em vez de reinventar tudo do zero, talvez o segredo esteja em reaprender com quem já fez bem feito — e há dois mil anos.
A após comprovar a eficiência do concreto inspirado nos romanos, os cientistas agora trabalham para levá-lo ao mercado, em uma tentativa de unir durabilidade antiga com as necessidades modernas.
No mundo todo existem centenas de depósitos de cinza vulcânica com milhões de toneladas disponíveis, não seria o caso de se fazerem pesquisas para ver alguns desses depósitos serviriam para compor a mistura do concreto romano
Excelente Artigo, por favor publiquem mais assuntos a respeito de construções antigas. Principalmente Romanas.
Muito obrigado. Eu sempre faço matérias come esse tipo de conteúdo de muita qualidade.
sensacional e ha muito mais a rever desse povo diferente e vitorioso