A última safra da picape com motor 3.0 diesel e câmbio manual se tornou um fenômeno no mercado de usados por ser a última a unir o pacote completo de força, luxo e controle do motorista.
No universo das picapes, a Toyota Hilux é uma lenda de robustez. Mas um modelo específico se tornou um verdadeiro “unicórnio” para os entusiastas: a versão SRV 2015 com motor 3.0 e câmbio manual. Ela foi a última de sua espécie, o ponto final de uma era em que era possível ter a Hilux mais completa e potente com a experiência de uma transmissão manual.
Desde o lançamento da geração seguinte, em 2016, a Toyota passou a oferecer o câmbio manual apenas nas versões de entrada, focadas no trabalho. Essa decisão estratégica transformou a Hilux SRV manual de 2015 em um objeto de desejo no mercado de seminovos, valorizada pela sua combinação única de atributos que nunca mais foi repetida pela marca.
O auge da 7ª geração: os 171 cv do motor 3.0 e os itens de luxo da versão SRV 2015
A sétima geração da Hilux (2005-2015) consolidou a fama de “indestrutível” da picape. A versão SRV 2015 representou o ápice dessa linhagem, combinando força e conforto.
-
Língua portuguesa com os dias contados? Brasil pode surpreender o mundo ao adotar um novo idioma
-
Usuários do Google Maps ficam perplexos após avistarem um rosto misterioso no topo de uma montanha – a ciência explica
-
Milagre da engenharia: cidade flutuante com edifícios sobre estacas de madeira, 150 canais e 400 pontes parece coisa de filme, mas existe
-
De S10 a Saveiro: veja 4 picapes usadas e confiáveis por até R$ 50 mil, ideais para trabalho e lazer
Seu coração era o renomado motor 3.0 D-4D turbodiesel de 171 cv e 36,7 kgfm de torque, acoplado a um robusto câmbio manual de 5 marchas. O que a tornava especial era o fato de não economizar em equipamentos. Ela vinha com bancos de couro, ar-condicionado digital, central multimídia com GPS e câmera de ré. Mais importante, já oferecia um pacote de segurança completo com controles de estabilidade (VSC) e tração (TRC), itens que muitas concorrentes da época não tinham.
A mudança de 2016: como a 8ª geração da Hilux abandonou o câmbio manual nas versões mais caras
Em novembro de 2015, a Toyota lançou a oitava geração da Hilux no Brasil, já como modelo 2016. A mudança foi radical. A picape ganhou um design mais elegante, um interior mais silencioso e uma nova família de motores “Global Diesel” (GD), com destaque para o novo 2.8 turbodiesel de 177 cv.
Junto com a mudança, veio uma nova estratégia de mercado. A Toyota decidiu que as versões mais caras e desejadas (SR, SRV e a nova SRX) seriam exclusivamente equipadas com um novo e suave câmbio automático de 6 marchas. O câmbio manual ficou restrito às versões de trabalho (Chassi, Cabine Simples e STD), que não tinham os mesmos itens de luxo e segurança.
A lógica da Toyota: por que a marca preferiu focar no câmbio automático e em uma picape mais “carro de passeio”
A decisão da Toyota foi uma resposta direta a uma mudança no mercado. Cada vez mais, o comprador de picape não era apenas o fazendeiro ou o trabalhador da construção civil, mas também famílias que usavam o veículo para lazer e como símbolo de status na cidade. Para esse novo público, o conforto e a praticidade de um câmbio automático eram mais importantes que o engajamento de um manual.
Ao tornar a transmissão automática padrão nas versões de topo, a Toyota mirou diretamente nesse consumidor de “estilo de vida”. A manobra também foi financeiramente inteligente, pois versões automáticas têm maior margem de lucro e simplificam a produção. A marca, na prática, redefiniu o que era uma picape de luxo, e o câmbio manual não fazia mais parte dessa equação.
A briga com S10 e Ranger: a pressão da concorrência que ajudou a selar o destino da Hilux manual
A estratégia da Toyota também foi uma reação à forte concorrência. Em 2016, a Chevrolet S10 High Country tinha uma vantagem clara em potência, com seu motor 2.8 de 200 cv. Do outro lado, a Ford Ranger era a referência em conforto e dirigibilidade, sendo a picape que mais se parecia com um carro de passeio.
A Toyota estava sendo superada em força bruta pela S10 e em conforto pela Ranger. Em vez de entrar em uma guerra de potência, a empresa decidiu focar em seus pontos fortes — confiabilidade e segurança — e dar um salto em refinamento para competir com a Ranger. A nova transmissão automática de 6 marchas foi a peça central dessa estratégia. Para isso, a marca sacrificou o nicho de puristas do câmbio manual para focar na batalha pelo consumidor premium.
A valorização da versão SRV 2015 no mercado de usados em 2024
A versão SRV 2015 manual se tornou um “unicórnio” porque foi a última a oferecer “o melhor de tudo” sem sacrifícios. Quem quisesse um câmbio manual em 2016 teria que abrir mão dos bancos de couro, do ar digital e, principalmente, dos importantes controles de estabilidade e tração.
Essa exclusividade se reflete nos preços. Em junho de 2024, o valor médio da versão SRV 2015 manual na Tabela FIPE era de R$ 145.132, praticamente o mesmo da versão automática topo de linha do mesmo ano (R$ 145.911). Isso mostra uma retenção de valor superior para o modelo manual, que se tornou um clássico moderno para quem busca a combinação única de força, luxo e controle total que não existe mais nas picapes novas.