A compra direta de 11 helicópteros Black Hawk pela Força Aérea Brasileira, sem licitação, envolve negociações com os Estados Unidos e promete impacto imediato na frota militar e nas relações comerciais entre os dois países.
A Força Aérea Brasileira pretende adquirir 11 helicópteros UH-60L Black Hawk dos Estados Unidos por cerca de US$ 229,9 milhões (aproximadamente R$ 1,2 bilhão), com inexigibilidade de licitação.
Segundo o governo, a compra será feita diretamente de um fornecedor exclusivo autorizado, dentro do programa BEST (Blackhawk Exchange Sales Team), do Exército americano.
O anúncio ocorre no momento em que Brasil e EUA negociam a retirada de tarifas adicionais de 40% aplicadas sobre produtos brasileiros e discutem um encontro entre Lula e Donald Trump.
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Por que sem licitação
A operação foi classificada como inexigível porque, de acordo com a administração federal, não há competição viável para o objeto pretendido.
No caso dos Black Hawk usados do programa BEST, o canal de fornecimento é centralizado pelo governo dos EUA e pela ACE Aeronautics, empresa americana autorizada a disponibilizar aeronaves desativadas do Exército com pacotes de modernização.
A legislação brasileira permite esse formato quando há fornecedor exclusivo e a seleção por concorrência se mostra impraticável para o bem específico.
Na prática, essa estrutura evita um certame tradicional e possibilita negociar diretamente o lote disponível, com configuração e cronograma definidos pelo lado americano.
Esse é o mesmo arranjo adotado por outros países que compram meios militares via governo dos Estados Unidos.
O que está incluído no pacote
O lote contempla 11 UH-60L provenientes do Exército americano, considerados aeronaves usadas e revisadas.
Além da aquisição, o contrato abrange atualizações e padronização de parte da frota já existente no Brasil, elevando o número total de Black Hawk da FAB para 24 unidades.
A fase de modernização inclui integração de aviônicos e padronização logística, medida que reduz custos de manutenção e facilita o treinamento de tripulações e mecânicos.
Pelo valor divulgado, a compra ocorre “abaixo do preço de mercado” de aeronaves novas, mas traz como contrapartida a necessidade de revisão estrutural e integração de sistemas, etapa que costuma ser contratada com o mesmo integrador autorizado.
Impacto operacional para a FAB
A ampliação da frota Black Hawk tem efeito direto em busca e salvamento (SAR), transporte de tropas e cargas, apoio humanitário, evacuação aeromédica e operações em áreas remotas.
O UH-60L é um helicóptero de médio porte com desempenho conhecido em missões de alta disponibilidade.
Ao dobrar a quantidade de células, a FAB ganha margem para manter parte da frota em manutenção sem comprometer a prontidão de alas de helicópteros em diferentes regiões do país.
Outro benefício é a padronização.
Uma frota maior do mesmo tipo simplifica cadeia de suprimentos, treinamento e doutrina, evitando pulverização de modelos.
Em termos de interoperabilidade, o Black Hawk facilita exercícios combinados com forças armadas parceiras da região e de fora dela.
Como será feita a compra
A negociação será realizada por meio de órgão logístico da Aeronáutica e da Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington, que centraliza aquisições com fornecedores americanos.
O processo cita o programa BEST, que disponibiliza aeronaves retiradas de serviço para venda a governos parceiros, com revisão e customização.
A ACE Aeronautics aparece como fornecedora autorizada para esse canal, justificando a inexigibilidade.
O cronograma de entrega, a distribuição das células entre as unidades da FAB e o detalhamento do pacote de peças e treinamentos serão definidos nas fases seguintes do processo e publicados nos atos oficiais correspondentes.
Relação com a agenda Brasil–EUA
A decisão ocorre em paralelo às tratativas comerciais entre Brasília e Washington.
Após a elevação de tarifas americanas — com acréscimo de 40% sobre itens brasileiros, além de alíquotas já existentes —, o chanceler Mauro Vieira vem mantendo diálogo com o secretário de Estado Marco Rubio para buscar a reversão das sobretaxas.
As equipes discutem também a realização de um encontro entre Lula e Trump, ainda sem data e local divulgados publicamente.
Autoridades brasileiras afirmam que a compra dos helicópteros segue planejamento de defesa e critérios técnicos, não devendo ser condicionada a avanços na frente comercial.
Ainda assim, a coincidência de agendas reforça o pano de fundo diplomático que cerca a aquisição e as conversas sobre comércio e investimentos.
Aspectos legais e de transparência
A inexigibilidade de licitação está prevista na Lei de Licitações quando a competição é inviável — por exemplo, em fornecimento exclusivo.
Nesses casos, a Administração é obrigada a motivar o ato, publicar os extratos e manter a documentação disponível para controle dos órgãos de fiscalização.
A Aeronáutica informou o valor estimado da operação em US$ 229,9 milhões e indicou a origem do material como o programa BEST, cumprindo a etapa de publicidade.
Demais anexos técnicos e o cronograma serão divulgados nas fases seguintes.
Especialistas ouvidos por publicações do setor apontam que a alternativa BEST tende a ser mais rápida que compras de aeronaves novas, além de aproveitar estoques de células e peças já existentes, o que acelera a entrada em serviço.
Em contrapartida, exige planejamento de manutenção e gestão de vida útil para garantir disponibilidade e segurança ao longo do ciclo.
Quanto custa e o que explica o preço
O montante de US$ 229,9 milhões cobre a transferência das 11 aeronaves, kits e serviços de modernização e padronização — incluindo, conforme divulgado por veículos especializados, a atualização de 13 Black Hawk já operados pela FAB.
Como referência, helicópteros médios novos da mesma classe costumam superar esse valor por unidade, dependendo da configuração.
A opção por células usadas, entretanto, demanda inspeções aprofundadas e adequações para o padrão brasileiro, o que justifica um pacote robusto de suporte e integração.
O que vem a seguir
Com a autorização de inexigibilidade e a indicação do fornecedor, as partes avançam para a formalização contratual, etapa que detalha escopos, garantias, treinamentos e prazos.
A partir da assinatura, a ACE e os órgãos americanos iniciam o processo de recuperação, integração e testes, enquanto a FAB prepara infraestrutura, ferramental e curso de conversão para tripulações e equipes de manutenção.
A expectativa operacional é elevar a disponibilidade de asas rotativas para missões diárias e operações sazonais, como apoio a desastres naturais.
Enquanto isso, o Itamaraty e o Departamento de Estado seguem em diálogo sobre tarifas e agenda de alto nível.
O governo brasileiro afirma que a revisão das sobretaxas é prioridade, mas não a condiciona à cooperação em defesa.
O desfecho dessas frentes poderá influenciar custos logísticos, prazos e futuras parcerias tecnológicas entre os dois países.
A ampliação da frota Black Hawk atende a uma demanda objetiva de capacidade e ocorre em um momento sensível da política comercial; na sua avaliação, a compra deveria esperar um acordo tarifário ou a prioridade é garantir prontidão imediata para missões críticas?