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Por que a China não tem interesse em abrir fábricas de carros no Brasil? Empresário que tentou trazer JAC Motors responde e questiona fábrica da BYD na Bahia: ‘até o ar do pneu é importado

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 11/08/2025 às 11:32
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Empresário detalha por que marcas chinesas optam por enviar veículos quase prontos ao Brasil e explica diferenças nos modelos de montagem, citando casos da BYD, GWM e sua experiência com a JAC Motors na Bahia.

O empresário Sérgio Habib, fundador do Grupo SHC e ex-representante da JAC Motors no Brasil, afirmou que a China não demonstra interesse econômico em instalar fábricas completas de automóveis no país.

A declaração foi dada durante entrevista ao podcast Market Makers, na qual ele avaliou o modelo de operação de empresas chinesas no mercado automotivo brasileiro.

Segundo Habib, a prioridade do governo chinês é manter empregos e renda em seu próprio território.

Isso leva à preferência pelo envio de veículos em regime SKD (semi knocked-down), no qual chegam praticamente prontos e passam apenas por etapas finais de montagem no Brasil, em vez de construir plantas completas no exterior.

Você não vai ter apoio do governo chinês para gerar empregos em outros lugares, eles querem empregos lá”, disse.

Ao ser questionado sobre a operação da BYD na Bahia, o empresário afirmou que atualmente a empresa atua nesse modelo.

Por enquanto no Brasil, o que eles estão fazendo é um SKD, quando o carro chega todinho pronto. O ar do pneu é chinês”, declarou. Ele acrescentou que ainda não há conteúdo local significativo na produção.

Diferença entre SKD e CKD

O regime SKD é caracterizado pelo envio de veículos quase completos, com poucas etapas finais no país de destino, o que resulta em baixo índice de conteúdo nacional.

Já no CKD (completely knocked-down), o carro chega totalmente desmontado.

Esse formato permite maior utilização de componentes produzidos localmente e exige etapas de soldagem, pintura e montagem final em território nacional.

Situação da BYD e comparações no setor

Habib comparou o caso da BYD com o da GWM (Great Wall Motors), que, segundo ele, alterou mais de uma vez o prazo para início de operação fabril no Brasil.

Ela disse que abriria a fábrica em 22, depois 23, 24, 25 e agora fala em 2026. Mas ela já está com 2% do mercado brasileiro”, relatou.

No caso da BYD, não há dados públicos detalhados sobre o percentual atual de conteúdo nacional ou sobre prazos para a produção de peças no Brasil.

As informações disponíveis indicam que a empresa anunciou investimentos para operar no complexo industrial de Camaçari (BA), onde antes funcionava uma fábrica da Ford.

A empresa não especificou, em comunicados recentes, o volume de peças nacionais que será incorporado em cada fase.

Histórico da JAC Motors no Brasil

Habib também relembrou sua experiência ao tentar trazer a JAC Motors para a Bahia.

O projeto, que previa a instalação de uma fábrica no estado, foi anunciado com cerimônia no terreno destinado à obra.

O plano não se concretizou. Em tentativa posterior, o empresário solicitou financiamento à Desenbahia (Agência de Fomento do Estado da Bahia), mas o pedido não foi aprovado por falta de garantias exigidas pela instituição.

Em 2018, a JAC Motors do Brasil entrou em recuperação judicial, com aproximadamente 700 funcionários e mais de 100 mil clientes, conforme divulgado pelo próprio grupo à época.

Impactos para a indústria automotiva nacional

A forma como as empresas estrangeiras instalam suas operações no Brasil influencia a indústria automotiva no país, afetando geração de empregos, desenvolvimento da cadeia de fornecedores e transferência de tecnologia.

Modelos como o SKD demandam menos mão de obra e menor participação de autopeças locais do que operações CKD ou fábricas completas.

O debate sobre o modelo de implantação de fabricantes chinesas no Brasil envolve também políticas de incentivo fiscal.

Em geral, programas estaduais e federais oferecem benefícios mediante contrapartidas como percentual mínimo de conteúdo local, investimentos em pesquisa e desenvolvimento e geração de empregos.

Questões ainda sem resposta

Até o momento, não há informações oficiais publicadas pela BYD ou por órgãos governamentais que confirmem metas específicas de nacionalização de peças.

Também não foram divulgados prazos para aumento de conteúdo local ou capacidade anual de produção em cada etapa do projeto na Bahia.

Esses dados são considerados relevantes por analistas do setor para avaliar o impacto econômico e industrial de novos investimentos no país.

Com a presença crescente de montadoras chinesas no mercado brasileiro, qual será o compromisso público dessas empresas com prazos, conteúdo nacional e geração de empregos no setor automotivo?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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