Em menos de uma década, megaprojetos, rotas marítimas e fábricas transformaram a Bahia em um dos principais destinos do capital chinês no Brasil. Essa presença vem moldando a economia, a infraestrutura e a política regional.
A Bahia tornou-se um dos principais polos da presença chinesa no Brasil, com um conjunto de obras, rotas logísticas e plantas industriais que avançou rapidamente nos últimos anos.
O movimento combina alinhamento político entre o governo estadual e empresas chinesas, vantagens geográficas e uma agenda de diversificação produtiva que colocou o estado em rotas comerciais estratégicas.
Segundo especialistas, o fenômeno também levanta discussões sobre dependência econômica e impactos sociais e ambientais.
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Como começou a aproximação Bahia–China
Segundo reportagem publicada pelo canal Construction Time, a cooperação ganhou força a partir de missões oficiais e diálogo direto entre o governo baiano e grandes grupos chineses, com reuniões técnicas em Pequim e Salvador.
Mesmo durante momentos de tensão diplomática entre Brasil e China, a Bahia manteve interlocução com investidores.
A retomada do diálogo em alto nível após 2023, com viagens oficiais e negociações envolvendo projetos prioritários, consolidou essa aproximação.
Em 2025, por exemplo, o governador Jerônimo Rodrigues reuniu-se com executivos da China Communications Construction Company (CCCC) e da China Civil Engineering Construction Corporation (CCECC) para discutir os próximos passos da ponte Salvador–Itaparica.
Logística e comércio exterior: o “canal dourado”
De acordo com apuração do Construction Time, a posição atlântica da Bahia e a infraestrutura portuária do estado ganharam destaque com a operação de uma rota marítima direta entre Gaolan (Zhuhai) e Salvador, conhecida como “canal dourado”.
A ligação, inaugurada em 2025, também atende Santana (AP), reduzindo custos e tempo de transporte entre o Brasil e a Ásia.
Especialistas em comércio exterior afirmam que essa conexão fortalece a posição da Bahia como ponto estratégico para o escoamento de grãos, minérios e produtos industrializados.
Ponte Salvador–Itaparica: megainvestimento chinês
Em entrevista concedida ao Construction Time, autoridades estaduais destacaram que a ponte Salvador–Itaparica é o projeto mais emblemático dessa nova fase de cooperação.
Com 12,4 km de extensão sobre lâmina d’água e investimento estimado em R$ 11 bilhões, a obra será executada por um consórcio liderado por empresas chinesas.
O cronograma acordado em 2025 prevê o início das frentes de trabalho a partir de 2026, após a conclusão do projeto executivo.
O governo estadual estima a geração de milhares de empregos e impacto direto no turismo e na mobilidade entre Salvador e o Recôncavo.
FIOL e Porto Sul: os bastidores da infraestrutura baiana
O canal também apontou que a Ferrovia de Integração Oeste–Leste (FIOL) e o Porto Sul, ambos na região de Ilhéus, formam o eixo logístico planejado para levar minério e grãos do interior ao Atlântico.
Atualmente, o trecho FIOL 1 (Ilhéus–Caetité) é operado pela Bahia Mineração (Bamin), controlada pela Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão.
Em 2025, o Ministério dos Transportes iniciou discussões sobre um redesenho da concessão, que pode envolver a Vale e ajustes no modelo de governança.
Segundo especialistas em infraestrutura, o interesse chinês no corredor bioceânico — que ligaria o Atlântico ao Pacífico, até o Porto de Chancay (Peru), operado pela Cosco — está em fase de estudos e faz parte de uma estratégia de integração logística continental.
Indústria automotiva e inovação: BYD puxa a fila
Na indústria, a instalação do complexo da BYD em Camaçari, no parque deixado pela Ford, marcou uma nova etapa da produção automotiva no estado.
Em outubro de 2025, a empresa inaugurou a maior fábrica de veículos elétricos da América Latina, com capacidade inicial de 150 mil unidades por ano e previsão de expansão.
A montadora também apresentou um modelo híbrido plug-in flex, que combina etanol e eletricidade, tecnologia desenvolvida para o mercado brasileiro.
O investimento total é de cerca de R$ 5,5 bilhões, com expectativa de geração de milhares de empregos diretos e indiretos.
De acordo com especialistas do setor automotivo, o projeto reforça o papel da Bahia como polo de inovação e diversificação industrial.
Energia renovável e tecnologia limpa
A presença chinesa também se estende ao setor de energia renovável.
A Windey instalou um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Senai Cimatec, em Salvador, voltado a tecnologias de turbinas e sistemas de armazenamento.
Já a Goldwind mantém projetos de geração eólica e, em parceria com a CGN Brasil, desenvolve um sistema de armazenamento de energia no Complexo Eólico Tanque Novo, no interior do estado.
Segundo dados do setor, essas iniciativas consolidam a Bahia como um dos polos brasileiros de energia limpa.
Por que a Bahia atrai tanto investimento chinês
A presença chinesa no estado é explicada por uma combinação de fatores.
Primeiro, o alinhamento institucional: governos baianos mantêm diálogo constante com autoridades e empresas chinesas desde meados dos anos 2000, o que proporciona estabilidade a projetos de longo prazo.
Segundo, as vantagens logísticas: a costa atlântica, a rota direta com a China e a infraestrutura portuária favorecem a movimentação de cargas e o comércio exterior.
Além disso, a Bahia reúne recursos naturais e base produtiva diversificada, com destaque para o agronegócio no oeste do estado e o parque industrial de Camaçari.
Esses fatores, segundo analistas de comércio internacional, reforçam o interesse de investidores chineses.
Desafios de governança e sustentabilidade
Especialistas em economia e relações internacionais observam que o avanço de capitais estrangeiros, especialmente chineses, traz oportunidades e desafios.
A concentração de investimentos em infraestrutura sensível exige mecanismos de transparência e gestão para evitar desequilíbrios de dependência.
A reestruturação em estudo na FIOL e no Porto Sul demonstra, segundo analistas, a necessidade de ajustes contratuais e de avaliação de impactos ambientais.
No campo ecológico, projetos de energia limpa coexistem com empreendimentos que geram controvérsias entre comunidades locais e órgãos de fiscalização.
Como destacou o Construction Time, a presença chinesa na Bahia reflete uma estratégia global de inserção econômica e logística.
O futuro dessa relação dependerá da execução das obras, da governança dos contratos e da capacidade do estado de garantir benefícios duradouros.
Especialistas questionam se a Bahia está diante de uma nova fase de desenvolvimento sustentável ou de um modelo de dependência externa reeditado sob novas formas.



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