Obra inédita no mundo envolve barreira acústica totalmente fechada para preservar milhares de aves em risco na província de Guangdong
A China está construindo uma ferrovia com cobertura acústica completa para proteger o ecossistema de um dos santuários naturais mais antigos do país. Localizada em Xinhui, na cidade de Jiangmen, a estrutura de mais de 2 km de extensão foi projetada para reduzir o ruído dos trens-bala que cruzam a região a 200 km/h. A barreira é considerada a primeira do mundo a oferecer isolamento sonoro total em ferrovias comerciais de alta velocidade.
O projeto foi desenvolvido pelo Quarto Instituto de Engenharia Ferroviária da China e começou a operar em 2018 após anos de testes e simulações. O principal objetivo é evitar que o som dos trens afete a rotina das mais de 30 mil aves que vivem no local, conhecidas por migrar e se reproduzir em um ambiente extremamente sensível ao ruído.
O que é a ferrovia com cobertura construída na China?
Trata-se de uma barreira acústica totalmente fechada, feita com estrutura metálica em arco, painéis de absorção sonora e compósitos cimentícios de alta resistência (ECC). A cobertura foi instalada sobre o trecho da linha ferroviária Xanzem-Moamin, que corta o chamado “Paraíso dos Pássaros” — uma reserva natural com figueiras centenárias e espécies nativas raras.
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Com investimento de cerca de 28 milhões de dólares, a barreira é capaz de reduzir o som em mais de 20 decibéis, levando os ruídos da passagem do trem de 76 dB para cerca de 49 dB — nível considerado seguro para a fauna. O desafio técnico incluiu a necessidade de resistir a tufões de categoria 14 e manter a integridade aerodinâmica para não comprometer a operação dos trens.
Por que a China optou por esse projeto?
A decisão partiu da constatação de que soluções convencionais, como barreiras laterais, seriam insuficientes para proteger o ecossistema local. O ruído elevado poderia interferir na migração, reprodução e permanência das aves, colocando em risco um patrimônio ecológico e cultural que inspirou poetas e escritores chineses por séculos.
Com isso, os engenheiros desenvolveram uma estrutura única no mundo, que passou por dois anos de testes em túnel de vento, ensaios em escala real e análises acústicas. A obra foi registrada como inovação técnica oficial pelo sistema ferroviário chinês e hoje é considerada modelo internacional de infraestrutura sustentável.
Como foi feita a execução da ferrovia com cobertura?
A construção foi cuidadosamente ajustada ao ciclo biológico das aves: as obras foram suspensas nos períodos reprodutivos e migratórios e o maquinário empregado teve baixo impacto sonoro. Em 1º de julho de 2018, foi realizado um teste em velocidade máxima com especialistas monitorando a resposta dos animais — nenhuma alteração de comportamento foi detectada.
Hoje, a barreira cumpre sua função sem que os passageiros ou os moradores notem sua existência, mas garantindo que o ecossistema permaneça praticamente intacto. A estrutura funciona como uma cápsula sonora, isolando totalmente o ruído dos trens e evitando impactos na natureza ao redor.
A ferrovia com cobertura é única no mundo?
Sim. Apesar de países como Alemanha, Japão, França e Suíça investirem em barreiras acústicas laterais ou túneis parciais, nenhuma outra estrutura tem cobertura fechada integral, resistência a ventos extremos e desempenho acústico semelhante.
Na Alemanha, por exemplo, as barreiras chegam a 4 metros de altura. No Japão, há painéis transparentes, mas ainda abertos. Na Suíça, pequenos túneis acústicos protegem áreas urbanas, mas em curtos trechos. A obra chinesa é a única com isolamento total para proteger uma zona ambiental crítica de grande extensão.
O que essa obra representa para o futuro da engenharia?
A barreira acústica no Paraíso dos Pássaros se tornou símbolo de uma nova geração de projetos ferroviários que conciliam desenvolvimento com responsabilidade ambiental. A estrutura já inspira iniciativas semelhantes em outras áreas sensíveis da China, especialmente corredores migratórios e zonas de preservação.
Mais que um feito técnico, a ferrovia com cobertura chinesa mostra que é possível repensar a relação entre grandes obras e o meio ambiente. Ela representa um modelo viável para países que expandem suas redes de alta velocidade e enfrentam desafios de sustentabilidade.
Você acha que obras assim deveriam ser obrigatórias em áreas naturais? Ou considera o custo alto demais para algo que “ninguém vê”? Deixe sua opinião nos comentários — sua visão pode enriquecer esse debate.