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Por anos, a China foi a potência demográfica mundial, hoje, enfrenta uma nova realidade: mais pets do que filhos

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 07/08/2024 às 17:10
China - pets - filhos -
A China está vendo uma inversão demográfica: mais pets do que filhos. Este fenômeno reflete mudanças profundas na sociedade chinesa e abre novas oportunidades de mercado

A China está vendo uma inversão demográfica: mais pets do que filhos. Este fenômeno reflete mudanças profundas na sociedade chinesa e abre novas oportunidades de mercado

China foi durante muitos anos a grande potência demográfica do mundo, mas agora já começa a ter mais pets do que filhos. Em pleno declínio populacional, com dois anos já de “estouro” demográfico e após ver como a Índia a tirou do primeiro lugar no ranking dos países mais populosos do planeta, o gigante asiático enfrenta uma nova realidade social. Uma com mais cães e gatos do que crianças em suas casas. Isso é mostrado com clareza pelo Goldman Sachs em um relatório recente que prevê que no final desta década o país terá mais de 70 milhões de pets urbanos em comparação com 40 milhões de crianças pequenas.

Há quem veja nessas cifras um negócio lucrativo. Cidades com mais pets do que bebês. Esse é o panorama que a China enfrenta segundo o Goldman Sachs, que em seu último relatório revela como as populações de pets urbanos do país e a de crianças pequenas estão seguindo tendências diametralmente opostas.

A primeira cresce enquanto a segunda diminui. Os dados são eloquentes: em 2017, quando a China somava cerca de 90 milhões de crianças de zero a quatro anos, a população de pets urbanos — cães e gatos — rondava os 40 milhões. A firma de análise estadunidense calcula que este ano ambos convergirão em torno de 58 milhões e que para o final desta mesma década, em 2030, a China acolherá menos de 40 milhões de crianças de até quatro anos em comparação com mais de 70 milhões de pets em zonas urbanas.

Um grande negócio emergente

Na trilha do Japão, a China se encontra na mesma trajetória de países como o Japão ou os Estados Unidos, onde o desequilíbrio entre crianças e pets é ainda mais pronunciado. Em um Japão imerso em uma grave crise de natalidade, a população de pets já é quatro vezes maior do que a de crianças pequenas, segundo o Financial Times. Nos EUA, o grande mercado de animais de companhia do mundo, os dados do governo e da Associação Médica Veterinária indicam que em 2020 havia entre 84 e 89 milhões de cães e 60-62 milhões de gatos em comparação com 73 milhões de crianças, sem levar em conta a sua idade.

Mais pets se traduzem em mais e melhores perspectivas para a indústria que se encarrega de seu cuidado. Essa é uma ideia que sublinha o relatório do Goldman Sachs. Seus números voltam a ser contundentes. À medida que a população de cães e gatos domésticos cresce e até supera a de recém-nascidos, o mercado centrado na sua alimentação cresce também, até se tornar em um pujante negócio de 12 bilhões de dólares, que é a perspectiva que o analista estadunidense maneja para o final desta década.

Seu relatório vaticina que a indústria de alimentos para pets crescerá na China a uma taxa anual composta de 8%, passando dos 51 bilhões de yuans (7,1 bilhões de dólares) que manejava no ano passado para 63 bilhões (8,8 bilhões de dólares) em 2030. Em um cenário mais otimista, com um incremento da demanda especialmente pronunciada entre os donos de gatos, o mercado poderia até mesmo duplicar e alcançar os 15 bilhões de dólares.

Quase 83,2 bilhões de dólares. As previsões do Goldman Sachs não são as únicas que o setor maneja. No outono, a firma iiMedia Research publicou seu próprio relatório sobre a lucrativa economia que está se desenvolvendo ao redor dos pets na China. Sua conclusão: em 2023, após registrar uma taxa de crescimento composta de 20,2% entre 2015 e 2020, já teria alcançado os 592,8 bilhões de yuans (83,19 bilhões de dólares). E com perspectivas em alta. Em 2025, já alcançaria os 811,4 bilhões de yuans (113,6 bilhões de dólares). Os autores do estudo apontam para outros segmentos que vão além da alimentação, como os complementos, a atenção veterinária ou os brinquedos.

Mudanças na sociedade da China

Boas perspectivas. “Esperamos um maior impulso na posse de pets em um contexto de natalidade relativamente mais fraca e uma maior penetração dos animais de companhia nos lares por parte das gerações mais jovens”, aponta a analista Valerie Zhou no relatório do Goldman Sachs.

Após o “boom” chinês dos pets, há no entanto uma realidade complexa que vai além da crise de natalidade. Durante uma entrevista com o Financial Times, Laura Luo, que trabalha na educação em Chengdu — na província de Sichuan —, aponta para a atomização da sociedade. “Manter uma relação com um pet é muito mais barato e menos difícil do que mantê-las entre pessoas”, acrescenta.

Uma sociedade em mudança. A popularização dos animais de companhia é apenas uma das pistas que nos falam das mudanças pelas quais a sociedade chinesa está passando. O South China Morning Post apontou outra esta semana: os casais do país estão se casando cada vez menos. Tanto, de fato, que, salvo surpresa inesperada, tudo aponta para que este ano caia ao seu nível mais baixo das últimas décadas. Entre janeiro e junho, registraram-se 3,43 milhões de casais para contrair matrimônio, quase meio milhão a menos que durante o primeiro semestre de 2023. Se a tendência se mantiver, 2024 fechará com o nível mais baixo desde o final dos anos 70.

A outra tendência, ainda mais relevante, é a clara queda da natalidade. Em 2023, o gigante asiático registrou 6,39 nascimentos por cada mil habitantes, o que situa a taxa de natalidade em seus níveis mais baixos desde a fundação da China comunista, em 1949. Com 9,02 milhões de bebês, meio milhão a menos que o ano anterior, a população da nação caiu para 1,409 bilhões de pessoas.

Imagem : Mehmet Aslan / Comedy Pet Photography Awards

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Noel Budeguer

De nacionalidade argentina, sou redator de notícias e especialista na área. Abordo temas como ciência, petróleo, gás, tecnologia, indústria automotiva, energias renováveis e todas as tendências no mercado de trabalho.

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