Estudo premiado da UFSCar mostra que apenas o manejo com caça e abate planejados impede que javaporcos atinjam níveis críticos no Brasil
A presença dos javaporcos no Brasil deixou de ser apenas uma curiosidade e passou a representar uma ameaça concreta para lavouras, ecossistemas e até para a saúde pública. Eles se multiplicam em ritmo acelerado porque possuem alta capacidade de adaptação. Além disso, atacam plantações, alteram o equilíbrio da fauna nativa e podem transmitir doenças.
De acordo com pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sem controle adequado, a expansão da espécie resulta em superpopulação e prejuízos severos.
O estudo indica que a única forma eficaz de frear o avanço é o manejo por meio de abate e caça controlada.
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Pesquisa premiada comprova eficácia do manejo planejado
O trabalho intitulado “Modelagem do controle populacional de Sus scrofa por meio de simulações estocásticas” foi desenvolvido pelas pesquisadoras Vittoria Façanha Bassani e Giulia Canali Forace, sob orientação do professor Iuri Ferreira, do Centro de Ciências da Natureza da UFSCar.
O estudo recebeu o prêmio de Melhor Artigo da Liga Júnior no Workshop de Computação Aplicada (WorCAP) 2025, promovido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O reconhecimento reforça a relevância científica do tema.
Segundo os resultados, o manejo regular autorizado por órgãos como o Ibama reduz o ritmo de crescimento populacional e impede que os javaporcos atinjam o limite de capacidade do ambiente.
Simulações revelam dois cenários possíveis
A equipe aplicou a equação de Verhulst, adaptada para simular capturas e abates periódicos. Assim, foi possível comparar dois contextos distintos:
- Com manejo controlado: a população se mantém em níveis seguros e o impacto ambiental diminui.
- Sem manejo: ocorre crescimento descontrolado, esgotamento de recursos e maior conflito com seres humanos.
As simulações usaram métodos bayesianos e algoritmos de Monte Carlo Hamiltoniano, incorporando incertezas reais, como variação das taxas de reprodução.
“As projeções mostram que, sem intervenção, os javaporcos crescem de forma exponencial e pressionam ainda mais os ecossistemas”, explicam as autoras.
Impactos dos javaporcos no território brasileiro
A espécie invasora, híbrida do javali europeu com porcos domésticos, já foi identificada em todos os biomas nacionais.
Sua versatilidade permite ocupar áreas agrícolas, florestas e pastagens, consumindo desde grãos até pequenos animais.
Entre os danos mais graves estão:
- Devastação de plantações e prejuízo econômico aos produtores.
- Competição direta com espécies nativas.
- Erosão e compactação do solo.
- Transmissão de doenças como leptospirose, brucelose e peste suína clássica.
- Ataques a animais domésticos e, em situações raras, a humanos.
Portanto, a expansão contínua da espécie representa não só risco ambiental, mas também ameaça à segurança alimentar e sanitária.
Ciência aplicada ao manejo sustentável
A pesquisa foi realizada no Centro de Modelagem em Ecologia e Ciências Ambientais (CeMECA), da UFSCar, com apoio do CNPq.
O grupo utiliza ferramentas estatísticas de código aberto e prevê disponibilizar o simulador em repositórios públicos, ampliando o acesso às técnicas.
Segundo o professor Iuri Ferreira, a caça e o abate, quando aplicados de forma planejada, ética e legal, não devem ser vistos como arbitrariedade, mas como instrumentos indispensáveis de conservação.
Reconhecimento nacional e próximos passos
O destaque no WorCAP 2025 evidencia a importância de unir ecologia, ciência de dados e sustentabilidade.
A pesquisa ficou entre os projetos de maior relevância em áreas como Inteligência Artificial e Modelagem Computacional, mostrando como a matemática pode guiar políticas públicas.
As próximas etapas incluem integrar informações de armadilhas fotográficas e mapas de uso do solo. A ideia é calibrar os modelos com dados reais e produzir cenários ainda mais precisos para gestores e produtores.
Controle é questão de sobrevivência produtiva e ambiental
O estudo conclui que, sem controle planejado, o avanço dos javaporcos gera desequilíbrio ecológico e amplia os prejuízos.
Com manejo científico, torna-se possível preservar lavouras, proteger a biodiversidade e reduzir riscos à saúde.
Portanto, a ciência indica um caminho claro: apenas com ações contínuas e reguladas será possível enfrentar de forma eficaz essa ameaça silenciosa que já alcançou todo o país.
Com informações de Compre Rural.