Quase invisível no cotidiano, a soja se esconde em lugares improváveis: no chocolate, no diesel dos caminhões, no frango do almoço e até no hambúrguer vegano. Um simples grão, que parece discreto, movimenta indústrias inteiras e está por trás de boa parte do que comemos, usamos e consumimos todos os dias.
No Pantanal, os trabalhos da maior e mais cara obra da rota bioceânica avançam em ritmo acelerado. Uma reportagem da CNN Brasil está mostrando para todo o país todos os detalhes dessa mega-obra de infraestrutura.
A construção da nova ponte que conectará Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, a Carmelo Peralta, no Paraguai, já alcançou 75% de execução e deve ser concluída em 2026.
Com investimento de mais de 100 milhões de dólares financiados pela Itaipu Binacional, a estrutura promete facilitar a integração comercial entre os dois países e abrir um novo caminho para exportações brasileiras pelo Oceano Pacífico.
-
Menos imposto, mais emplacamentos: após corte de 45% no IPVA, emplacamentos disparam 11% em 10 dias e batem recordes no Paraná
-
Em crise, cooperativa mais antiga do Brasil atrasa pagamentos e deixa associados e credores apreensivos com troca de comando e venda de ativos
-
Dívida de R$ 1.000 quitada por R$ 200 vira ‘prejuízo’ no SCR, espalha alerta entre bancos e bloqueia qualquer novo crédito
-
Golpe do ‘nome sujo acabou’ é mito: Banco Central só unificou prejuízo no Registrato, e análise de crédito ficou ainda mais dura
Do alto, a grandiosidade da ponte impressiona. Serão quase 1.300 metros de extensão e 21 metros de largura, com viadutos de acesso e um trecho estaiado sustentado por torres de 125 metros.
Essa será a terceira ponte a ligar os dois países. A obra se tornou símbolo da rota bioceânica, que nasceu de gestões conjuntas de autoridades regionais, setor privado e sociedade civil, e hoje avança com apoio do governo federal.
A nova rota bioceânica promete mudar o mapa do comércio sul-americano
A rota bioceânica surge como um dos projetos de integração mais ambiciosos da América do Sul nas últimas décadas.
Ela pretende ligar o Brasil ao Oceano Pacífico por meio de estradas que atravessam o Paraguai, a Argentina e o Chile, criando um corredor rodoviário direto até os portos chilenos.
Com isso, exportadores brasileiros poderão reduzir distâncias e custos logísticos para chegar ao mercado asiático, principal destino de produtos agrícolas e minerais do país.
A ideia central é transformar regiões historicamente isoladas em nós logísticos estratégicos. Hoje, a maior parte das exportações brasileiras segue por portos do Atlântico, o que exige percursos longos e caros até alcançar a Ásia.
Pela nova rota, caminhões poderão cruzar o continente em menos tempo, encurtando a viagem e acelerando o escoamento de cargas.
O projeto promete encurtar em milhares de quilômetros o trajeto entre os centros produtores do Centro-Oeste brasileiro e os mercados da costa do Pacífico.
Esse novo corredor não representa apenas uma alternativa logística, mas também um motor de desenvolvimento regional.
As obras preveem estradas modernizadas, centros aduaneiros, investimentos privados e infraestrutura urbana para atender ao aumento de fluxo de cargas e pessoas.
Cidades pequenas ao longo do trajeto vislumbram novas oportunidades econômicas e sonham em deixar para trás a imagem de pontos esquecidos no mapa.
A importância das obras de acesso
Apesar do progresso da ponte, outro desafio precisa ser superado para que a rota funcione.
Os 13 quilômetros de obras de acesso, orçados em 425 milhões de reais, ainda estão em execução. Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), esse trecho complexo é construído sobre pântanos e precisa estar pronto junto com a ponte.
Especialistas reforçam que a inauguração simultânea da ponte e dos acessos é fundamental.
Sem isso, o corredor não funcionará de forma plena. Apesar dessa exigência, o governo federal admite que a ponte pode ficar pronta antes das alças de acesso.
A previsão inicial indica que cerca de 250 caminhões devem atravessar a nova ligação diariamente quando todas as estruturas estiverem concluídas.
Porto Murtinho quer se transformar
Enquanto acompanha as obras, a pequena Porto Murtinho sonha em virar um portal brasileiro para o Pacífico.
Com cerca de 15 mil habitantes, o município atualiza seu plano diretor para reorganizar a infraestrutura e se preparar para os próximos dez anos.
As regiões de fronteira costumam enfrentar dificuldades de desenvolvimento, mas o novo plano quer inverter essa lógica.
A ideia é criar uma área de serviços para transporte e atendimento a viajantes, além de atrair empresas e moradores.
O prefeito defende com entusiasmo a importância estratégica do corredor bioceânico para a cidade.
Planos ambiciosos e olhos voltados à Ásia
O prefeito afirma que Porto Murtinho deixou de ser um fim de linha esquecido e agora desperta atenção até de Dubai.
Segundo ele, investidores chineses já demonstraram interesse e, para reforçar a aproximação, a prefeitura preparou um caderno com mapas e projetos da cidade escritos em mandarim.
O objetivo é apresentar as oportunidades que surgirão com a chegada da rota.
Além do potencial comercial, a cidade aposta em sua localização estratégica na bacia platina. Um porto privado existente já se prepara para expandir suas atividades com o aumento do fluxo de cargas.
A prefeitura também contratou uma consultoria para detalhar um plano urbano que inclua uma nova avenida ligando a zona rural à urbana e até um novo bairro.
Preparação para o crescimento populacional
A expectativa é de que a população local possa triplicar nos próximos anos. O aumento do número de caminhões, trabalhadores, funcionários aduaneiros e agentes de segurança deve exigir mais serviços de saúde, educação e saneamento.
Por isso, o novo plano diretor busca antecipar os impactos e preparar a cidade para um crescimento rápido e ordenado.
O centro urbano de Porto Murtinho fica a cerca de cinco quilômetros das obras da ponte, o que reforça a necessidade de novas conexões viárias e infraestrutura de apoio.
A prefeitura quer garantir que a expansão econômica não cause desorganização e que a cidade consiga receber os investimentos de forma sustentável e segura para a população atual.
Expectativas para a rota bioceânica
Quando concluída, a ponte será um dos últimos trechos faltantes da rota bioceânica.
Essa ligação terrestre conectará o Brasil ao Oceano Pacífico por meio do Paraguai, Argentina e Chile, criando um corredor de exportação mais curto para o mercado asiático.
A estimativa é que a obra transforme a logística da região e fortaleça as relações comerciais do país.