Mistério de 90 metros de profundidade com águas azul-turquesa intriga exploradores e mantém viva história de vaqueiro desaparecido em Divinópolis de Goiás
No coração do complexo espeleológico de Terra Ronca, em Divinópolis de Goiás, existe um fenômeno geológico que desafia exploradores e alimenta o imaginário popular há décadas: o Poço da Camisa. Com águas que variam entre azul-turquesa e verde-esmeralda, a formação natural já foi explorada até 90 metros de profundidade, mas seu fundo verdadeiro continua sendo um mistério que intriga cientistas e mergulhadores técnicos.
Localizado no noroeste goiano, o poço surge como um dos locais mais enigmáticos do Brasil, atraindo a atenção de espeleólogos internacionais desde os anos 1990. A estrutura impressiona não apenas pela beleza das águas cristalinas, mas principalmente pelo desafio técnico que representa para quem se aventura em suas profundezas inexploradas.
O acesso ao local, situado em uma propriedade privada a 14 quilômetros do núcleo São João do Parque Estadual de Terra Ronca, exige autorização prévia e acompanhamento especializado. Apesar da proximidade com a unidade de conservação, o poço não integra oficialmente o parque estadual, o que gera discussões sobre sua preservação e manejo adequado.
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Fenômeno geológico raro impressiona especialistas
O que torna o Poço da Camisa especialmente intrigante é sua formação geológica única. Trata-se de uma dolina de colapso, formada pelo desabamento do teto de uma caverna, um fenômeno característico de terrenos calcários conhecidos como relevo cárstico. Esse processo, que levou milhões de anos para se formar, criou uma cratera natural com paredes verticais que descem 30 metros até atingir o espelho d’água.
Segundo o espeleólogo e espeleofotógrafo Alexandre Lobo, que participou de expedições de mergulho técnico no local, a profundidade conhecida atinge impressionantes 90 metros: 30 metros de paredão seco e outros 60 metros submersos. “Em mergulho técnico, nossa equipe alcançou esse limite e descobriu um conduto lateral ainda inexplorado”, revelou o especialista, explicando que esse túnel subaquático reforça a fama de “sem fundo” do poço.
As dolinas se formam pela ação corrosiva da água sobre rochas carbonáticas, processo que levou ao colapso do teto de cavernas e criou depressões circulares únicas. No caso do Poço da Camisa, a estrutura resultante impressiona pela perfeição geométrica e pela estabilidade das paredes rochosas, apesar dos riscos de desprendimento de blocos que exigem cautela constante.
Lenda do vaqueiro desaparecido atravessa gerações
O nome peculiar do poço tem origem em uma lenda que é repetida de geração em geração na região. De acordo com relatos locais, um vaqueiro teria desaparecido misteriosamente na área, e sua camisa foi encontrada presa em um galho próximo à borda da cratera. A história, que deu nome ao local, apresenta múltiplas versões entre os moradores.
“Há quem diga que o vaqueiro foi devorado por uma onça, outros relatam que ele caiu do cavalo, e existem também narrativas de assassinato. Em todas as versões, a imagem final é sempre a mesma: a camisa presa no galho“, explicou Alexandre Lobo, ressaltando que mito e ciência caminham juntos quando se trata de exploração de cavernas.
Para o espeleólogo, “a caverna representa a última fronteira de exploração na Terra. Assim como o espaço sideral, ela nos proporciona sensações de desejo e medo simultaneamente”. Essa dualidade entre o fascínio científico e o mistério popular torna o Poço da Camisa um dos atrativos mais intrigantes do turismo espeleológico brasileiro.
Águas mudam de cor conforme estação do ano
Um dos fenômenos mais impressionantes do Poço da Camisa é a variação cromática de suas águas, que oscilam entre tons de azul-turquesa durante a estação seca e verde-esmeralda no período chuvoso. Esse efeito visual resulta de uma combinação complexa de fatores naturais que impressionam visitantes e pesquisadores.
“Na seca, a água fica mais cristalina e azulada; na cheia, mais esverdeada”, detalhou Lobo, explicando que o fenômeno ocorre devido à transparência natural da água em terrenos calcários, combinada com a presença de calcita dissolvida, o volume de precipitações e a incidência de luz solar através da abertura superior do poço, que funciona como uma claraboia natural.
A qualidade cristalina da água também está relacionada à possível conexão com o aquífero Urucuia, uma das principais reservas de água subterrânea do Centro-Oeste brasileiro. Exploradores franceses que catalogaram o local nos anos 1990 levantaram essa hipótese, que ainda aguarda confirmação através de estudos hidrogeológicos mais aprofundados.
Desafios extremos para mergulhadores técnicos
A exploração do Poço da Camisa não é uma aventura para amadores. O acesso à água exige uma descida de rapel de 40 metros diretamente para o espelho d’água, sem nenhum ponto de apoio intermediário. Todo o equipamento necessário para o mergulho – incluindo cilindros de ar comprimido, lanternas especializadas e até um bote inflável – precisa ser içado por cordas em uma operação logística complexa.
“Cada minuto passado a 60 metros de profundidade compromete significativamente o tempo de descompressão. É fundamental usar misturas especiais de gases e equipamentos de circuito fechado (CCR) para minimizar os riscos”, alertou Lobo, enfatizando que o local não é adequado para mergulho recreativo convencional.
Além dos desafios técnicos do mergulho, o terreno instável representa um risco adicional. O desprendimento de blocos de rocha das paredes é uma possibilidade real que exige monitoramento constante e protocolos rigorosos de segurança. Por essa razão, apenas mergulhadores com certificação técnica avançada e equipamentos especializados conseguem explorar as profundezas do poço com relativa segurança.
Tentativa de exploração turística esbarra em riscos
A agência Peregrino Aventura, especializada em ecoturismo na região de Terra Ronca, chegou a avaliar a possibilidade de incluir o Poço da Camisa em seus roteiros turísticos comerciais, mas desistiu antes mesmo de iniciar as operações. A decisão foi tomada após uma análise criteriosa dos riscos envolvidos e da complexidade logística necessária.
“É um atrativo de altíssimo risco e de acesso extremamente difícil, indicado para um público muito específico e reduzido. Avaliamos cuidadosamente e decidimos não seguir adiante, para não sobrecarregar o local”, justificou Marcelo Peregrino, proprietário da empresa que opera outros atrativos na região.
O acesso ao poço exige uma caminhada de 1 quilômetro através da fazenda particular, além de treinamento prévio de técnicas verticais. “Não é um atrativo comercial viável para o grande público. É um ambiente muito delicado, e preferimos contribuir para sua preservação”, complementou Peregrino, demonstrando preocupação com a sustentabilidade do local.
Falta de gestão oficial preocupa ambientalistas
Atualmente, o Poço da Camisa opera em um vácuo administrativo que preocupa especialistas em conservação. Por estar localizado em propriedade privada, fora dos limites oficiais do Parque Estadual de Terra Ronca, o local não conta com plano de manejo, fiscalização ou diretrizes de conservação estabelecidas pelo poder público.
De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), o atrativo está em área particular e, portanto, não há protocolos oficiais de manejo ou conservação definidos pelo Estado. Essa situação deixa o acesso e a preservação do poço inteiramente nas mãos do proprietário da fazenda onde está localizado.
Alexandre Lobo defende que, antes de qualquer tentativa de abertura ao turismo comercial, seja elaborado um plano de manejo espeleológico completo, incluindo estudos detalhados de segurança geológica, análises hidrológicas, inventário da biota cavernícola e monitoramento da qualidade química da água. Sem essas medidas, o especialista alerta para o risco de degradação irreversível desse patrimônio natural único.
O Poço da Camisa permanece como um enigma fascinante no coração de Goiás, desafiando a ciência com suas profundezas inexploradas e mantendo viva uma lenda que atravessa gerações. Enquanto seu fundo verdadeiro continua sendo um mistério, o local representa um dos últimos grandes desafios para exploradores e um tesouro natural que exige proteção urgente para as futuras gerações.
Fontes consultadas: Revista Oeste, Terra Brasil Notícias, Surgiu.com.br, Blog Antônio Carlos, Agência Cora Coralina de Notícias, entrevistas com Alexandre Lobo (espeleólogo) e Marcelo Peregrino (Agência Peregrino Aventura).
Você acredita que locais misteriosos como o Poço da Camisa devem ser abertos ao turismo comercial ou preservados exclusivamente para pesquisa científica? Deixe sua opinião nos comentários e participe do debate sobre o futuro desse patrimônio natural único de Goiás!