Medida anunciada por Fernando Collor em 1990 bloqueou depósitos acima de 50 mil cruzados novos e derrubou a confiança no sistema financeiro
Em março de 1990, o plano Collor surpreendeu o Brasil ao determinar o bloqueio imediato das contas bancárias e aplicações financeiras acima de 50 mil cruzados novos cerca de R$ 300 em valores atualizados. O objetivo era conter a hiperinflação que ultrapassava 80% ao mês, mas a medida gerou pânico, recessão e desemprego em larga escala.
Além do confisco, o governo congelou preços e salários por até 45 dias e promoveu mudanças drásticas na política econômica. Mesmo com queda inicial da inflação, a estratégia corroeu a confiança na moeda, afetou empresas, reduziu o PIB em 4,3% e deixou marcas profundas na relação entre brasileiros e bancos.
A origem do plano Collor
O plano Collor foi elaborado pela ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello, primeira mulher a ocupar o cargo. Inspirada por teorias econômicas heterodoxas, Zélia defendia abertura comercial, privatizações e forte intervenção estatal para combater a inflação.
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O Brasil vinha de uma sequência de mudanças monetárias Cruzeiro, Cruzado, Cruzado Novo e enfrentava um cenário de estagnação produtiva e ineficiência das estatais.
Na época, o Estado era o maior empregador do país e a inflação acumulada de 1989 chegava a 1.764% ao ano. O diagnóstico do governo era que a “inflação inercial” precisava ser quebrada com medidas radicais, incluindo o bloqueio de depósitos, substituição da moeda e desindexação de contratos.
Como funcionou o confisco
O plano determinou que todo saldo acima de 50 mil cruzados novos seria retido pelo Banco Central, liberado apenas após 18 meses em parcelas corrigidas por títulos públicos. Na prática, os valores devolvidos perderam poder de compra, já que a inflação continuou corroendo a moeda.
Empresas viram seu capital de giro congelado, resultando em demissões em massa e paralisação de cadeias produtivas. Famílias ficaram sem acesso a poupanças e reservas para emergências, aumentando a inadimplência e o consumo reprimido.
Efeitos econômicos imediatos
- PIB: queda de 4,3% em 1990
- Inflação: recuo temporário, mas retomada nos meses seguintes
- Desemprego: aumento pela paralisia de empresas
- Confiança: ruptura entre poupadores e sistema financeiro, com impacto que persiste até hoje
O país mergulhou em um cenário de estagflação combinação de inflação alta, queda na atividade econômica e desemprego elevado.
O impacto social
Sem programas de assistência social como o Bolsa Família (criado apenas em 2003), o plano afetou principalmente as camadas mais pobres. Na época, mais de 30% da população estava na pobreza e cerca de 20% vivia em extrema pobreza.
A medida aumentou a desigualdade o índice de Gini era de 0,60 e estimulou a informalidade, com milhares recorrendo a trabalhos temporários e venda ambulante para sobreviver.
O desgaste político e a renúncia
Eleito como “caçador de marajás” com forte apoio da mídia, Collor perdeu rapidamente popularidade e apoio no Congresso.
Escândalos de corrupção e a crise econômica abriram caminho para um processo de impeachment. Em 1992, o presidente renunciou antes da votação final no Senado, ficando inelegível por oito anos.
O dinheiro voltou?
O valor bloqueado foi devolvido gradualmente, mas com correção abaixo da inflação. Para muitos, o montante recebido já não tinha o mesmo poder de compra, o que consolidou o trauma. Até hoje, parte da população mantém reservas fora do sistema bancário, temendo novos confiscos.
O plano Collor permanece como um dos episódios mais controversos da economia brasileira. Ele expôs fragilidades estruturais, testou os limites da confiança entre Estado e sociedade e deixou lições sobre o custo social de medidas radicais.
Você ou sua família viveram essa época? O que lembra do confisco e de seus efeitos? Compartilhe nos comentários sua experiência ajuda a entender como decisões econômicas afetam a vida real.