A pirâmide imobiliária em São Paulo que usava obras como garantia teria movimentado mais de R$ 200 milhões e deixou empreendimentos parados, investidores sem retorno e uma cadeia de promessas que não se concretizou.
A pirâmide imobiliária em São Paulo investigada pela Polícia Civil expôs um cenário de obras paradas, prédios inacabados e famílias que acreditaram em apartamentos e lucros mensais. A empresa apresentada como incorporadora, a Nelin, teria arrecadado mais de R$ 200 milhões oferecendo imóveis na planta e um modelo de investimento que pagaria 2% ao mês até a entrega das unidades, mas a estrutura não se sustentou e levou mais de 1.000 pessoas ao prejuízo, segundo os relatos reunidos pelos investigadores e por grupos de vítimas.
Por trás dos tapumes e dos projetos divulgados em vídeos e eventos, a polícia afirma que o que havia era uma pirâmide financeira com fachada imobiliária, que funcionou enquanto novos investidores entravam. Quando os pagamentos começaram a atrasar e as obras não avançaram, vieram as denúncias, a operação policial e o bloqueio de bens dos responsáveis.
Investimento com promessa de 2% ao mês e imóvel como garantia
A Nelin se apresentava como incorporadora, empresa que idealiza e gerencia empreendimentos imobiliários, e lançou oito projetos, seis deles na zona leste de São Paulo, com discurso de modernidade, elevador panorâmico e fachada marcante.
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Além de vender apartamentos na planta, a empresa oferecia um produto financeiro atrelado às obras. O argumento era sedutor. Quem colocasse, por exemplo, R$ 100 mil receberia R$ 2 mil por mês até a conclusão do empreendimento, patamar bem acima do mercado.
O ponto que fez muita gente investir foi a promessa de que, se a aplicação não desse certo, o investidor receberia um apartamento pronto. Imóvel como garantia é um gatilho forte em um mercado de alto déficit habitacional.
Houve gente que vendeu carro e casa para colocar mais dinheiro. Nos primeiros meses os pagamentos caíam, o que reforçava a confiança e levava muitas vítimas a aportar valores maiores.
Quando o dinheiro novo parou de entrar
Para a Polícia Civil de São Paulo, a estrutura tinha o formato clássico de pirâmide. Ela funciona no começo porque há entrada constante de novos investidores. Quando a captação diminui, a pirâmide rompe. Foi o que aconteceu. Até abril os pagamentos foram feitos, depois começaram as justificativas de mercado ruim e de má gestão, mesmo com o setor aquecido, segundo os próprios clientes.
A partir desse momento começaram a aparecer obras embargadas, terrenos vazios onde deveriam estar prédios prontos e canteiros com sinais de abandono. As promessas de apartamentos e de retorno mensal deixaram de ser honradas exatamente quando a base da pirâmide não aguentou mais.
Mais de 1.200 vítimas e R$ 200 milhões sob suspeita
Advogados que acompanham o caso estimam que cerca de 1.200 pessoas foram atingidas. Há relatos de famílias que investiram R$ 60 mil, R$ 410 mil e até R$ 700 mil acreditando que receberiam o rendimento mensal ou o imóvel. Um dos investidores disse depender 100% desse dinheiro para sobreviver e pagar pensão do filho e hoje se vê sem renda e sem apartamento.
A polícia fala em desvio ou movimentação suspeita de mais de R$ 200 milhões, com diversas transferências bancárias atípicas e até uso de conta de filho de investigado como conta de passagem, o que levanta suspeita de lavagem de dinheiro. Por isso, além de estelionato e crime contra a economia popular, os envolvidos também são investigados por associação criminosa e lavagem.
O papel do marketing e da figura do empresário
Um elemento que potencializou o golpe foi o marketing. A Nelin investia pesado em redes sociais, eventos e palestras motivacionais, com o empresário Daniel Bernal à frente, falando em propósito, transformação e moradia digna. Esse discurso de impacto dava aparência de solidez ao negócio e criava senso de comunidade entre os investidores.
Quando os pagamentos atrasaram e os clientes começaram a cobrar, surgiram áudios do próprio empresário pedindo paciência e, em alguns casos, respondendo de forma ríspida, dizendo que havia patrimônio para pagar. Esse contraste entre o discurso público inspirador e as respostas privadas duras aumentou a sensação de fraude entre as vítimas.
Operação policial e obras que não saíram do papel
Em setembro, a Polícia Civil deflagrou a operação Prédios de Areia, apreendeu passaportes de Daniel Bernal e de quatro sócios e fez buscas nos endereços ligados à empresa. Os investigadores encontraram a estrutura praticamente desativada, computadores desligados e imóveis em fase de acabamento que nunca foram entregues.
Nos locais visitados havia sinais claros de abandono, infiltração, restos de material e até gente morando de forma improvisada. Para quem comprou a ideia de morar em um condomínio moderno, esse cenário é a prova concreta de que o projeto não avançou.
A disputa agora é judicial
Depois da operação, os advogados da empresa entraram com pedido de recuperação judicial e afirmaram que houve apenas má gestão e que o dinheiro dos clientes estaria em imóveis, prédios em construção ou terrenos. A Justiça bloqueou bens e determinou a quebra de sigilo bancário dos investigados para rastrear o caminho do dinheiro.
O ponto central para as vítimas é se esse patrimônio realmente existe e se é suficiente para pagar todo mundo. A própria polícia admite que a quitação dependerá do juízo da recuperação. Enquanto isso, as carcaças de obras permanecem espalhadas pela cidade e funcionam como lembrança física da pirâmide imobiliária em São Paulo.
O caso expõe uma combinação perigosa. Produto real, promessa de alto rendimento, garantia em imóvel e marketing agressivo. Quando esses elementos aparecem juntos, o investidor precisa desconfiar, pedir documentação do empreendimento, verificar registro, cronograma, CNPJ da incorporadora e condição da obra.
No setor imobiliário sério não há pagamento de 2% ao mês por longos períodos só porque o prédio ainda não foi entregue.
Para você, diante desse caso da pirâmide imobiliária em São Paulo, quem deveria ser responsabilizado primeiro para que as vítimas sejam ressarcidas mais rápido?


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